O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta segunda-feira (1º) que não vê risco de uma ruptura institucional no Brasil ou apoio das Forças Armadas a pedidos de intervenção militar. A fala foi uma resposta ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que na semana passada declarou participar de reuniões em que se discute “quando” acontecerá “momento de ruptura” no País. Em entrevista ao portal Uol, Maia classificou como “inaceitável” as manifestações de sábado em frente ao Supremo e afirmou que decidirá sobre impeachment de Bolsonaro “no momento adequado”.
“Não vejo risco de ruptura por causa da sociedade. Não vejo nas Forças Armadas nenhum respaldo a esses movimentos políticos”, disse Maia. Segundo ele, um militar que virou ministro não representa as Forças Armadas, mas a política do governo Bolsonaro. “Eles não podem misturar o histórico deles com o que representa as Forças Armadas. São coisas diferentes e assim devemos tratar. Não devemos criticar as Forças Armadas por conta um movimento político de um ministro que foi das Forças Armadas.”
O presidente da Câmara ainda classificou como “inaceitável” a manifestação que ocorreu sábado à noite em frente à sede do Supremo Tribunal Federal (STF). Na ocasião, o grupo bolsonarista “300 pelo Brasil”, liderado pela ativista Sara Winter, protestou carregando tochas acesas e vestindo máscaras de personagens de filmes de terror. “Fui vítima desde o ano passado desses ataques. Hoje é o STF”, disse Maia.
As ameaças feitas a ministros do Supremo e também a parlamentares passam do limite democrático e de expressão, segundo o deputado. No caso da Corte, o ele relacionou às ameças ao inquérito das Fake News em tramitação no Supremo, que na semana passada fechou o cerco sobre o chamado “gabinete do ódio”, grupo de assessores do Palácio do Planalto comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro. “Ameaçar ministro do STF é para que ele não continue investigando as Fake News.”
O presidente da Câmara criticou a manifestação do último domingo a favor do presidente Jair Bolsonaro. O ato, que teve a presença do presidente, mais uma vez contou com manifestantes exibindo faixas de intervenção militar e intervenção no STF. “Não é possível que chegando a 30 mil mortos nós vamos passar domingo com ataques à democracia”, afirmou Maia. “Criticar é legítimo, outra coisa é pedir para fechar Supremo e parlamento.”
A respeito das recentes declarações do presidente contra o parlamento e a Corte, Maia respondeu que as duas instituições têm respondido à altura. Mas pontou que os ataques geram “conflitos” nas relações. “Ideal é que a gente deixe o conflito político para outro momento.”
Impeachment
Cobrado pela oposição para pautar os pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro, que já passam de 30, o presidente da Câmara voltou a dizer que não é o momento adequado. “Nossa prioridade é unificar o País para ter mais força para enfrentar o vírus e suas consequências na vida das pessoas e na economia”, explicou, defendendo que não é o momento de “colocar mais lenha na fogueira”. O deputado disse estar mantendo a postura que teve quando houve a crise política do governo Michel Temer. “O tempo (do impeachment) é o tempo da política. Decisão política sobre impeachment precisa ser bem avaliada.”
Centrão
Maia declarou ver com “respeito” a recente aproximação do Planalto com o Centrão, bloco informal da Câmara para quem o presidente vai entregar a presidência do Banco do Nordeste, conforme revelou o Estadão no último domingo, e entregou nesta segunda o comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
“O ideal é que a formação fosse orgânica, com base em projetos. Mas respeito, acho que o governo precisa ter base”, disse Maia. O parlamentar falou que nunca indicou ninguém para qualquer vaga no governo Bolsonaro.