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sábado 11 de junho de 2022 às 09:45h

Presidenciáveis tentam atrair eleitor jovem com perfis no TikTok

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Na corrida para ampliar a rede de eleitores, presidenciáveis criaram perfis na plataforma de vídeos TikTok, acessada amplamente por jovens. A rede social que viralizou durante a pandemia de Covid-19 conta com perfis da maioria dos pré-candidatos ao maior cargo público a ser disputado nas eleições de outubro deste ano.

Conforme a reportagem do jornal O Tempo, a presença na plataforma é uma estratégia calculada. O Brasil é o terceiro país com maior número de usuários ativos do TikTok, com 74,1 milhões de pessoas, de acordo com dados do site DataReportal divulgados em janeiro deste ano.

Outros levantamentos métricos do App Annie, Statisa e SocialPubli mostram que os jovens são os que passam mais tempo na rede social. Um em cada cinco brasileiros dedica mais de cinco horas por dia consumindo vídeos, enquanto 75% dos usuários ativos gastam de uma a cinco horas por dia no TikTok.

O público da plataforma é o que perfis políticos tentam conquistar. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 14,58% do eleitorado brasileiro tem entre 16 e 24 anos. O percentual representa 22,2 milhões de eleitores na faixa etária dentro do universo de 152,3 milhões de eleitores brasileiros.

Dos 12 pré-candidatos à Presidência da República já lançados, sete têm perfis oficiais na rede social. O conteúdo utilizado, na ampla maioria, se resume a compromissos oficiais, entrevistas concedidas, posicionamentos e pautas defendidas. Os vídeos trazem também falas com críticas aos adversários eleitorais e a colocação de propostas.

Há casos em que momentos da rotina dos políticos e bastidores da pré-campanha são aproveitados e transformados em vídeos com tom informal, maior aceito na plataforma. Em outros conteúdos, pré-candidatos aproveitam de “trends” para se apresentarem na tentativa de terem vídeos viralizados. O termo se refere a tendências do momento dentro do aplicativo, em que os usuários reproduzem conteúdo similar ao mesmo tempo.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) é quem lidera em números totais, com 1,6 milhão de seguidores e 16,4 milhões de curtidas em seus vídeos. Em seguida, Pablo Marçal (Pros), que já era conhecido pela carreira como coach, acumula 159 mil seguidores e 737,2 mil curtidas nos conteúdos que publica.

O pré-candidato presidencial André Janones (Avante) é o terceiro no ranking de mais seguidores, com 158,6 mil pessoas que o acompanham. Nas curtidas em vídeos, no entanto, ele supera Marçal com 749,1 mil “likes”. Em seguida, vem Ciro Gomes (PDT), com 126,8 mil seguidores e 815,5 mil curtidas – superando, ainda, Janones e Marçal nessa métrica.

Simone Tebet (MDB), que recém conseguiu o apoio do PSDB com o reforço do Cidadania para seu plano eleitoral, mantém 3834 seguidores e 24,1 mil curtidas no TikTok. Ainda patinam na rede Felipe D’Avila (Novo), com 375 pessoas que o seguem e 1406 “likes”, e Luciano Bivar (União Brasil), com 50 seguidores e 114 curtidas. Estes três depositaram menor quantidade de vídeos ou possuem perfis recentes em relação aos adversários com melhor desempenho.

Não criaram contas no TikTok José Maria Eymael (DC), Leonardo Péricles (UP), Sofia Manzano (PCB) e Vera Lúcia (PSTU), assim como Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar de ter anunciado em 22 de abril que teria um perfil na plataforma “em breve”, o plano ainda não foi colocado em prática. A equipe do petista criou apenas perfis alternativos para garantir interação entre a militância.

Mesmo não estando na plataforma de forma oficial, Lula tem o nome citado nos conteúdos publicados e foi alvo de estudo do Núcleo Jornalismo, que mediu a vantagem entre o petista e Bolsonaro – que tem conta oficial. Os dois polarizam as intenções de voto, de acordo com pesquisas prévias.

O levantamento, que teve como base 181 mil vídeos, concluiu que o número total de visualizações de posts que mencionam o termo “Lula” se aproximou dos que tinham “Bolsonaro” no mês de maio, indicando o crescimento da popularidade do petista na plataforma de vídeos curtos na qual Bolsonaro ainda impera.

No último mês, vídeos com menções a Lula totalizaram, juntos, 419,8 milhões de visualizações, enquanto os que mencionavam Bolsonaro tiveram 519 milhões. A diferença de 100 milhões em maio fica bem abaixo da vantagem de 292 milhões de visualizações a mais a favor de Bolsonaro em janeiro deste ano, segundo o Núcleo.

Especialista aponta influência do TikTok entre os eleitores jovens, mas alerta que linguagem precisa ser adaptada
A especialista em comunicação política Vanessa Marques avalia que o TikTok tem potencial de influenciar o eleitor jovem, apesar de não ser o único fator considerado na decisão de voto.

“O TikTok teve um poder muito grande na movimentação de jovens de 16 e 17 anos que foram tirar o título de eleitor. Foram feitas muitas campanhas nessa plataforma e isso contribuiu de forma direta para que eles tomassem a decisão de votar. A gente vê que a rede tem um impacto muito forte nesse eleitorado, especialmente”, lembra.

Ela destaca que, apesar a influência da plataforma, políticos precisam direcionar a comunicação da campanha para cumprir o objetivo proposto na rede social, como por exemplo simplificar a linguagem adotada nos vídeos.

“É importante que o político adeque o conteúdo. Não precisa fazer meme e dancinha, mas ele pode fazer um conteúdo mais simples, leve, menos profissional. Os vídeos mais viralizados não têm perfil profissional e engessado. A naturalidade dos conteúdos também conta”, frisa.

“Imagina um jovem que está procurando conhecer melhor seu candidato e se depara com um conteúdo que não tem nenhuma relação com o que ele está vendo ali. Ele vai passar batido, porque são muitos conteúdos. Você está disputando a atenção com muita gente que está oferecendo conteúdo muito mais interessante do que o político”, acrescenta.

O conteúdo “engessado” e não específico para a plataforma, de acordo com a especialista, ainda é maioria. “Isso acaba gerando um engajamento menor, uma distribuição menor. Mesmo assim, a gente vê que há um saldo positivo, porque na verdade as redes sociais servem para que você possa interagir com o público, se fazer presente e se relacionar com as pessoas”, complementa.

Como estretégia de marketing político, Marques ressalta que “não adianta estar no TikTok se o público-alvo daquele candidato não está na plataforma”. Da mesma forma, ela não vê resultados em “personagens” criados apenas para atender ao perfil exigido pela rede social.

“Nós estamos vendo as pessoas tentando mudar a forma como elas fazem a comunicação para agradar a plataforma. Isso não é legal, o mais importante é você manter a sua autenticidade. Se um candidato não tem o perfil de ser mais descolado e esse viés mais engraçado, não adianta ele criar um personagem para fazer um conteúdo ali, porque isso também não tem efetividade”, explica.

A especialista expõe, ainda, que o panorama de avaliação de desempenho em redes sociais vai além de métricas que somam apenas a quantidade de seguidores e de curtidas do perfil do político. É preciso medir o engajamento total nas plataformas, mas isso não significa, necessariamente, sucesso no resultado eleitoral.

“Bolsonaro tem uma vantagem muito grande com relação aos demais presidenciáveis no TikTok, mas isso não se configura na pesquisa eleitoral, em que ele não lidera. O Lula [que não tem perfil oficial na rede] ainda está bem distante na porcentagem de votos”, conclui, relacionando as pesquisas prévias que apontam o ranking de intenções de voto.

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