Seis em cada dez brasileiros avaliam que o país está caminhando “na direção errada”, segundo revela nova edição da pesquisa ‘What Worries the World’, do instituto Ipsos. A taxa de 61% que pensam assim supera em três pontos percentuais o índice de outubro e se torna a mais elevada registrada desde o início do terceiro mandato de Lula da Silva (PT) na Presidência. Quando Jair Bolsonaro (PL) deixou o Planalto, em dezembro de 2022, eram 70% os que viam o Brasil em marcha à ré, conforme reportagem de Nicolas Iory, do O Globo.
A pesquisa indica ainda conforme a publicação do jornal, que o descontentamento está diretamente ligado à percepção que os brasileiros têm sobre a situação econômica do país. Só 35% afirmam que o cenário atual é “bom”, enquanto 65% pensam o oposto — três pontos percentuais a mais que outubro, e cinco a mais que há um ano.
Dentre os temas que mais tiram o sono da população, a pobreza e desigualdade social é a segunda mais citada (por 38%), atrás apenas de crimes e violência (42%). Essa preocupação com a falta de dinheiro das famílias avançou sete pontos percentuais em um mês, ultrapassando numericamente a taxa dos que dizem que a saúde pública é um dos principais problemas do país (37%).
Também cresceu a preocupação com os impostos, tema que em outubro era citado por 20% dos participantes da pesquisa e que agora é considerado crítico por 26%. De acordo com o CEO do Ipsos, Marcos Calliari, esse aumento é influenciado pelo noticiário a respeito do pacote fiscal anunciado nesta semana pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad:
— Os impostos são uma preocupação comum em meses próximos à virada de ano pela proximidade com a época de taxas que pesam consideravelmente no orçamento da população, como IPTU e IPVA. A pauta também segue forte na mídia com as discussões sobre os impostos sobre pets e a taxação das grandes fortunas.
Dentre as 29 nações que integram a pesquisa, apenas as populações da Bélgica e do Japão manifestam um nível mais elevado de preocupação com a cobrança de impostos do que os brasileiros (o tema é citado por 37% dos europeus, e por 31% dos asiáticos).
O Brasil também supera a média global em relação à angústia de sua população a respeito da pobreza e desigualdade social: é o quinto do ranking, atrás somente de Indonésia, Argentina, Hungria e Tailândia.
No país vizinho, há sinais de que a política econômica de Javier Milei tem conseguido criar um ‘feel-good factor’ a partir do controle da alta dos preços e do dólar. Em 12 meses, despencou em 29 pontos percentuais a taxa dos que dizem se preocupar com a inflação, hoje em 39% (contra 24% no Brasil).
Por outro lado, o temor em relação ao desemprego cresceu conforme subiu também o número de argentinos desempregados. Hoje, 49% da população do país diz ter esse temor, a maior taxa da América Latina.
A pesquisa “What Worries the World” foi realizada por meio de um painel on-line aplicado a 23.320 pessoas de 29 países, no período de 25 de outubro a 8 de novembro. No Brasil, foram cerca de mil respondentes entre 16 e 74 anos.
O Ipsos pondera que, no país, a amostra não corresponde necessariamente a um retrato da população geral, mas sim a uma parcela “mais conectada” dos brasileiros: mais concentrada em centros urbanos, com maior poder aquisitivo e nível educacional mais elevado que a média nacional. A margem de erro é estimada em 3,5 pontos percentuais para mais ou menos.