O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, destituiu, neste último domingo (26), seu ministro da Defesa depois que este rompeu fileiras com o governo ao pedir, no sábado, uma pausa de um mês no controverso processo de reforma judicial, impulsionado pelo governo.
“O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, decidiu destituir o Ministro da Defesa, Yoav Galant”, informou o gabinete do premiê em um comunicado.
Em um discurso na noite de sábado, Galant, um forte aliado de Netanyahu e que pertence ao mesmo partido do premiê, o conservador Likud, disse em um discurso que “devemos deter o processo legislativo” durante um mês, devido à polarização que provocou, no mesmo dia em que 200 mil pessoas foram às ruas de Tel Aviv protestar contra a reforma.
Desde que o governo Netanyahu, um dos mais à direita da História de Israel, apresentou, em janeiro, um projeto de reforma legal da magistratura, o país está dividido e há manifestações contrárias à medida a cada semana.
A reforma quer aumentar o poder dos cargos eletivos em detrimento do Poder Judiciário e reduzir o poder da Suprema Corte, e foi questionado pelos principais aliados de Israel, como os Estados Unidos.
Críticos da iniciativa alertam que ela põe em risco o caráter democrático do Estado de Israel.
Netanyahu e seus aliados ultraortodoxos da extrema direita a defendem, alegando a necessidade de equilibrar as forças entre os políticos eleitos e a Suprema Corte, à qual consideram politizada.
“A divisão social crescente alcançou o (exército) e as agências de segurança. É uma ameaça clara, imediata e tangível à segurança social”, afirmou Galant.
“Estou comprometido com os valores do Likud e em pôr o Estado de Israel acima de tudo (…), mas as grandes mudanças em nível nacional devem ser feitas mediante deliberações e diálogo”, acrescentou Galant em seu discurso.
Protestos e renúncia
Horas depois do anúncio da demissão, o cônsul-geral de Israel em Nova York publicou no Twitter sua carta de renúncia.
“A situação política em Israel atingiu um ponto crítico e sinto uma responsabilidade profunda e obrigação moral de defender o que é justo”, tuitou o cônsul Asaf Zamir, que qualificou a demissão de Galant como uma “decisão perigosa”, que “me convenceu de que não podia continuar representando este governo”.
Enquanto isso, milhares de manifestantes foram protestar no centro de Tel Aviv, segundo a polícia, e uma multidão bloqueou a via principal que atravessa a cidade, Ayalon, segundo uma jornalista da AFP no local.
Com bandeiras nas cores de Israel, azul e branca, os manifestantes repetiam palavras de ordem como “Fora, Bibi!”, apelido de Netanyahu.
A polícia informou que os manifestantes em Tel Aviv incendiaram pneus na noite deste domingo.
Outros protestos espontâneos foram realizados em frente à residência do premiê, em Jerusalém, assim como em outras cidades do país, como Haifa (norte) e Beer Sheva (sul), segundo a imprensa local.
Galant também pediu que os manifestantes suspendam as manifestações, alertando para as ameaças à segurança do país.
“A segurança de Israel sempre foi e continuará sendo a missão da minha vida”, tuitou Galant neste domingo em reação à sua demissão.
O Parlamento israelense tem previsto votar esta semana um ponto central da reforma judicial, que modificará a forma como os juízes são nomeados.
“Netanyahu pode demitir Galant, mas não pode demitir a realidade e não pode demitir o povo de Israel, que se opõe à loucura da coalizão”, tuitou o líder da oposição, o ex-primeiro-ministro Yair Lapid, que na véspera havia elogiado a “coragem” do ministro destituído hoje.
“O primeiro-ministro de Israel é uma ameaça para a segurança de Israel, escreveu.
Galant é a primeira baixa provocada pelo embate em torno da reforma judicial, mas outras altas personalidades têm manifestado sua preocupação.
O presidente Issac Herzog expressou, semanas atrás, sua consternação com a polarização crescente na sociedade e alertou para o espectro de uma “guerra civil genuína”.
Na sexta-feira, a procuradora-federal de Israel, Gali Baharav-Miara, acusou Netanyahu de intervenção pública “ilegal”, após uma mensagem pela televisão na noite anterior sobre o programa de reformas.
Nesta mensagem televisionada, Netanuahy prometeu “impulsionar responsavelmente” as reformas e “pôr fim à divisão” que causou no país.
Mas, a oposição repudiou as modificações ao pacote de reformas para torná-lo mais aceitável, ao mesmo tempo em que os manifestantes anunciaram uma “semana de paralisação nacional” contra a medida.