segunda-feira 16 de setembro de 2024
O deputado Elmar Nascimento e seu primo Junior, deputado estadual, participaram do lançamento da candidatura de Giselda Carvalho (PT) à prefeitura de Sento Sé — Foto: Divulgação
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domingo 4 de agosto de 2024 às 06:38h

Preferido de Arthur Lira para sucessão na Câmara, Elmar Nascimento acena ao PT baiano

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Em um mar de camisetas vermelhas e brancas, cores adotadas por candidatos do PT na Bahia, dois tons destoavam no palco da convenção do partido em Sento Sé, município de 40 mil habitantes no norte do estado. Eram o deputado federal Elmar Nascimento, do União Brasil, e de acordo com Bernardo Mello, do O Globo, o seu primo Junior, deputado estadual, ambos declarando apoio à candidata petista à prefeitura, com direito a pose de mãos dadas com o governador Jerônimo Rodrigues (PT). A cena, registrada no último fim de semana, foi o capítulo mais recente da política de boa vizinhança ensaiada por Elmar com o PT, em um momento em que se afunila o processo que definirá o candidato à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara.

Lira, que publicamente apresenta três aliados como cotados a receber seu apoio — Elmar e os deputados Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Antonio Brito (PSD-BA) —, já sinalizou mais de uma vez que seu preferido é o parlamentar do União Brasil. Pesa contra a escolha o histórico de atritos entre Elmar e o PT baiano, que já custaram ao deputado uma vaga de ministro para a qual foi cotado no início do governo Lula. O presidente da Câmara já afirmou ao jornal O Globo que Lula participará da escolha de seu sucessor.

Na semana passada, ao participar do lançamento da candidatura de Giselda Carvalho (PT) em Sento Sé, Elmar argumentou que se tratava de um gesto estritamente local. A cidade é vizinha a Campo Formoso, berço eleitoral do deputado e hoje governada por seu irmão, Elmo Nascimento.

— Sou bem votado em cerca de 70 municípios da Bahia, e mais ou menos metade tem prefeitos da base do governador Jerônimo. Outros votaram em ACM Neto (do União Brasil) ao governo em 2022. Não consigo estar em todos os municípios, mas minha presença em alguns não tem a ver com eleição da Câmara — minimizou o deputado.

Elmar aproveitou a ocasião, porém, para mostrar proximidade com Jerônimo e dizer que “aprendeu a gostar” do ministro da Casa Civil — e ex-governador baiano — Rui Costa (PT), a quem chamou de “devotado ao trabalho”. Em 2019, quando Costa havia sido reeleito para um segundo mandato, Elmar fez duras críticas ao então governador, acusando-o de “perseguir adversários”, como ele, e de tratar “prefeito de oposição a pão e água”.

Para interlocutores do governo Lula, os gestos de Elmar o ajudam a se consolidar como preferido de Lira, que tenta cultivar relação amistosa com o Planalto, mas ainda são insuficientes para atrair o apoio do PT na sucessão na Câmara. Reservadamente, petistas lembram que Elmar, durante um comício em Campo Formoso na campanha de 2022, declarou só enxergar “condenados e ex-presidiários” ao lado de Lula, frase ainda mal digerida pelo presidente.

Sem bola dividida

Neste ano, além do apoio a petistas e do afago a antigos rivais, Elmar tem se esquivado de campanhas mais delicadas. Ele não participou, por exemplo, da convenção que homologou a candidatura de Zé Ronaldo em Feira de Santana, uma das principais apostas do União Brasil.

A cidade, segundo maior colégio eleitoral da Bahia, também é tratada como prioridade pelo PT, que lançou a candidatura do deputado federal Zé Neto à prefeitura.

— Talvez seja mais confortável para ele (Elmar) não entrar em algumas divididas com a gente, mas o PT baiano não está tratando de eleição à presidência da Câmara agora. Estamos focados em recuperar espaço em cidades estratégicas, e isso passa por diálogos acima de fronteiras partidárias — afirmou o petista.

Uma das amostras da dificuldade de Elmar em conquistar a simpatia do PT aparece justamente em seu principal reduto. O irmão, Elmo, tentará a reeleição em Campo Formoso contra Denise Menezes (PSD), esposa do presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Adolfo Menezes. Numa eleição considerada simbólica, dada a envergadura política de Elmar e de Adolfo e a antiga rivalidade entre ambos, Denise terá apoio do PT.

O lançamento de sua candidatura, no domingo passado, contou com o governador Jerônimo Rodrigues e com um vídeo enviado pelo ministro Rui Costa, que prometeu visitar a cidade durante a campanha.

“Quero participar aí daquelas caminhadas animadas e dialogar com o povo de Campo Formoso. Para a gente ter uma prefeita alinhada com o governador Jerônimo e com o presidente Lula”, disse Costa na gravação.

Elmar tenta estreitar laços com Costa desde o ano passado, quando ficou claro que sua relação com o PT baiano era um ponto fraco na disputa pela sucessão de Lira. Em setembro, segundo o portal “Bahia Notícias”, Elmar tentou levar o chefe da Casa Civil para um festival financiado pelo Ministério do Turismo em Campo Formoso. Já neste ano, Elmar convidou Costa para sua festa de aniversário, em Brasília, e posou ao lado do ministro. Na semana passada, ao portal “BNews”, disse que a presença de Costa na festa foi “um sinal de apreço”.

Em outro esforço para se aproximar do PT, e relacionado aos planos de sucessão na Câmara, Elmar ajudou a organizar no início deste ano um almoço no Palácio de Ondina, sede do governo da Bahia, reunindo Lira e o governador Jerônimo Rodrigues, além da bancada federal baiana.

Os esforços, por ora, não demoveram aliados de Lula na Bahia. A exemplo de Costa, o senador Otto Alencar (PSD), que acumula alianças com o PT baiano, mergulhou em candidaturas que incomodam Elmar. Além de participar da convenção do PSD em Campo Formoso, marcando posição contra o irmão do deputado do União Brasil, Alencar disse que tem trabalhado pela candidatura do correligionário Antonio Brito à presidência da Câmara.

Alencar, que vem sendo colocado como possível postulante à sucessão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no Senado, sugeriu que abriria mão de disputar o posto caso ajude a eleição de Brito, e que já comunicou a hipótese a Lula. A estratégia, segundo correligionários, visa a abrir caminho para Davi Alcolumbre (União-AP) presidir o Senado, o que também dificultaria a situação de Elmar na Câmara, já que é pouco comum o mesmo partido dirigir as duas Casas.

— Minha prioridade é o Brito, disse exatamente isso em um jantar em Ondina com o presidente Lula —disse Alencar na convenção do PSD em Salvador, na semana passada.

Impacto em 2026

Além de Sento Sé, Elmar se comprometeu a apoiar outros dois candidatos petistas a prefeituras na Bahia: Zico de Baiato, em Alcobaça, e Romeu Jr. em Barra. Ambos são recém-filiados ao PT, egressos de partidos do Centrão, e têm relação antiga com Elmar. Em abril, por exemplo, Zico creditou a Elmar uma articulação para que a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) entregasse uma retroescavadeira ao município.

Nas três cidades, o partido de Elmar ou lançou candidato próprio ou estará em coligações contrárias ao PT, o que não vem impedindo o deputado de apoiar as chapas petistas. A “infiltração” de Elmar causa incômodo em aliados do PT no estado, em especial no MDB, que disputa a capital Salvador contra o União Brasil. A avaliação é que esse movimento atrapalha a transferência de votos do PT a rivais do União Brasil, além de embaralhar alianças locais.

— Acredito que isso seja um jogo de cena do PT com Elmar, mas é prejudicial. Ao deixar alguém de outro grupo entrar no seu campo, você não sabe para quem esses prefeitos vão pedir voto em 2026 — reclama o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB).

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