Os Arcos da Montanha, as muralhas do Frontispício de Salvador e o Elevador do Taboão serão revitalizados pela prefeitura de Salvador com recursos próprios. O anúncio foi feito nesta última segunda-feira (4) pelo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), durante a mensagem na abertura dos trabalhos do Legislativo Municipal.
O Centro Histórico da capital, que tem ganhado novos ares com a chegada de hotéis e investimentos em infraestrutura e atrações culturais, vai receber aporte próprio do município de R$ 21 milhões, segundo Neto. “Salvador constrói o seu futuro sem esquecer de cuidar de seu majestoso passado, que volta a despertar o interesse internacional”, declarou o prefeito.
O projeto de reforma e revitalização dos Arcos da Montanha, do Frontispício da cidade e do Elevador do Taboão foram feitos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que anunciou as intervenções nos arcos em 2014. As obras, porém, não saíram do papel.
Logo que o anúncio foi feito, a marmorista Simone Veloso achou que o local ficaria de cara nova. Construídos no século XIX, os arcos são tombados pelo Iphan. O órgão informou que questões de propriedade e uso impediu que as obras começassem.
Em nota, o Iphan informou que a prefeitura procurou a superintendência na Bahia em busca de informações sobre quais projetos poderiam ser executados. Os três projetos foram doados.
Bonde
No bojo dos projetos para o Centro, a Câmara vai analisar um que sugere a criação de um bonde ligando o Mercado Modelo à Praça da Sé. O projeto é de autoria do vereador Tiago Correia (PSDB) e sugere que a gestão municipal realize estudos para implantação de um bonde sobre trilhos no local.
A ideia original foi do publicitário Nizan Guanaes que sugeriu a implementação do bonde no evento Salvador Creativity and Media – Scream Festival. O bonde passaria pela Ladeira da Montanha e Pelourinho. Ele deu até nome ao bonde: Expresso 2222, referência à música homônima de Gilberto Gil.
“Vou torcer para que o projeto ande. O bonde antigo, como de Lisboa e Salvador no passado, não é só um charme, mas permite que o turista e soteropolitano circulem com segurança e alegria pelo Centro Histórico”, disse Nizan.
“Quando a gente vai estudar o papel dos bondes em capitais turisticas, a exemplo de Lisboa, Amsterdam, entre outras cidades, verifica que realmente a estrutura passa a ser uma atração turistica importante para a cidade. Em Salvador, no Centro Histórico, nós temos uma concentração muito grande de cultura, arquitetura historica, arte. Tudo isso aliado à beleza da Baía de Todos os Santos”, explicou o vereador, que destacou que seria um diferencial a ser explorado e que representaria uma grande revolução para o turismo da capital.
Agora, o projeto será submetido à comissões e ao plenário da Câmara Municipal e, caso seja aprovado, enviado oficialmente ao prefeito ACM Neto. O vereador Tiago Correia acredita que o projeto já deve ser votado no plenário da Câmara na próxima sessão.
Permanência
Nos Arcos da Montanha, dos 17 existentes, dois são fechados e nunca foram ocupados. Os outros 15 arcos abrigam comerciantes que trabalham com mármore e serralheria.
O projeto original prevê que os imóveis ganhem mezaninos, cozinhas, escadas, áreas comerciais e industriais. Quatro dos arcos foram descaracterizados e vão ganhar intervenções mais radicais: sacadas e varandas.
Nas últimas décadas, a manutenção dos Arcos da Montanha foi assumida pelos próprios ocupantes. “As melhorias aqui foi a gente que fez”, contou Simone Veloso, apontando para o Arco nº 12, do qual é proprietária. O espaço está na família desde o bisavô.
Entre os ocupantes dos arcos, a justificativa para o Iphan não ter dado continuidade ao projeto foi a falta de verbas. Desde aquela época, porém, eles têm duas preocupações: continuar trabalhando, durante as intervenções, e ter a certeza de que vão voltar para os mesmos espaços, quando forem inaugurados.
“Na época, o que a gente queria é que fosse feito em duas etapas. Metade dos arcos seria reformada numa etapa e a outra metade na segunda etapa”, explica Simone Veloso, do Arco nº 12.
O objetivo dos comerciantes era que, assim, não deixassem de trabalhar em nenhum momento. Com essa estratégia, os arcos que estivessem em atividade durante cada fase abrigariam os ocupantes daqueles que estivessem passando por intervenções.
Essa ainda é a proposta ideal para eles, na avaliação do ferreiro e serralheiro Edmilson Rodrigues, 67, proprietário do Arco nº 16. “Uma reforma é bem-vinda, mas que não seja como se falou logo no início, quatro anos atrás, de que ia tirar todo mundo daqui. O que a gente quer é voltar”, disse.
Novo Centro
O ‘novo’ Centro inclui, ainda, obras de requalificação da Avenida Sete, da Praça Castro Alves e da Praça Marechal Deodoro, cujas ordens de serviço devem ser assinadas em breve, de acordo com o prefeito ACM Neto.
Durante a mensagem aos vereadores, Neto citou, ainda, a inauguração da Casa do Carnaval, museu que foi inaugurado no ano passado. “Nas próximas semanas, vamos entregar a sede recuperada da Fundação Gregório de Mattos, na Barroquinha. E mais: estamos levando para o Comércio diversas sedes da administração municipal, com o objetivo de aumentar o dinamismo local”, garantiu o prefeito, ainda em seu discurso.
A Casa do Carnaval ficou em segundo lugar no Prêmio Nacional de Turismo, do Ministério do Turismo, entregue em dezembro. A mesma premiação ainda escolheu o Programa de Otimização de Performance dos hotéis e atrativos turísticos da cidade como vencedor da categoria “Monitoramento e Avaliação do Turismo”.
Segundo o prefeito, o crescimento do fluxo turístico impulsionou a movimentação econômica em setores como a hotelaria, que chegou à taxa média de ocupação de 62,3%. “Celebramos a chegada de novos hotéis de padrão internacional – o Fera e o Fasano, no Centro Histórico”, destacou.
Além disso, nos próximos dois anos, outros equipamentos culturais devem ser implantados no Centro Histórico. É o caso do museu Casa da História de Salvador e Arquivo Público Municipal, assim como do Museu da Música Brasileira.
O prefeito também adiantou que o Prodetur Salvador – um contrato de financiamento internacional firmado com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a prefeitura – deve entrar numa nova fase. “Serão executadas ações como o Plano de Marketing Turístico, o Plano de Turismo Afro, e o programa de capacitação e certificação profissional e empresarial (QualiSalvador), que trarão ainda mais e melhor estrutura para o turismo da capital”.
Requalificação
Nos pontos do Centro Histórico onde já houve requalificação, a avaliação é positiva. É o caso da Praça da Inglaterra, no Comércio, que foi inaugurada em dezembro, como parte da requalificação do Centro Antigo.
Com investimentos em torno de R$ 1,2 milhão, a obra contou com a total demolição da antiga estrutura, terraplanagem do solo e colocação de novo piso em pedras portuguesas. Segundo a prefeitura, toda a pavimentação asfáltica do espaço foi refeita, com reposição de postes de concreto, instalação de meio-fio, requalificação do sistema de drenagem e novo paisagismo.
O pintor Carlos Xavier, 58, costuma passar pela praça toda vez que vai ao Centro resolver pendências. Logo viu a diferença. “Estava uma coisa feia, com umas estruturas de ferro velhas. Agora tem mais bancos, está bem cuidado. O aspecto melhorou”, disse ele, que sugeriu a colocação de sanitários públicos no espaço.
A doméstica Raimunda de Andrade, 45, aproveitou para colocar a conversa em dia com a amiga, a aposentada Creuza Ramos, 63, em um dos bancos da praça. As duas se encontraram enquanto esperavam pelo ônibus.
“É a primeira vez que venho aqui, mas adorei. Tem que mostrar a cara da cidade, porque aqui estava precisando”, disse Raimunda. “Até a limpeza está boa. O problema é que às vezes o próprio ser humano destrói as coisas, com o vandalismo. Espero que não estraguem aqui”.
Salvador fechou 2018 com equilíbrio fiscal
Pelo segundo ano consecutivo, Salvador foi classificada como grau B no conjunto dos indicadores de Liquidez, Endividamento e Poupança, do Ministério da Fazenda. Em janeiro de 2018, a cidade teve o resultado pela primeira vez – o que significa que está habilitada para receber aval e garantia da União em suas operações de crédito.
“Num momento em que praticamente todo o setor público brasileiro elege o equilíbrio das contas como ponto fundamental para o início de uma retomada mais consistente do crescimento econômico do país, a prefeitura de Salvador fechou o ano de 2018 cumprindo integralmente todos os requisitos da Lei de Responsabilidade Fiscal”, afirmou o prefeito ACM Neto, durante a leitura de sua mensagem na abertura dos trabalhos na Câmara Municipal, na manhã desta sexta-feira (4).
Pela classificação do Ministério da Fazenda, significa que a prefeitura de Salvador continua credenciada para novas operações de crédito. Atualmente, a cidade já tem operações de crédito que, juntas, chegam a R$ 1,7 bilhão.
A receita total do município chegou a R$ 6,4 bilhões em 2018, o que representa um aumento de 8,5% em relação ao ano anterior. Já as receitas correntes, que são responsáveis principalmente pelos gastos de pessoal e custeio da Prefeitura, chegaram a R$ 6,2 bilhões. “Isso significa que realizamos 97,4% do orçamento previsto com crescimento nominal de 5%”, destacou Neto.
As receitas de capital, por sua vez, chegaram a R$ 291 milhões, com crescimento de 250%. De acordo com o prefeito, esse aumento se deve, principalmente, ao fluxo de operações de crédito, que deve aumentar em 2019, e da alienação de terrenos. No ano passado, as receitas próprias alcançaram 56,5% da receita total do município – o que fez com que o percentual de receitas próprias superasse as transferências federais e estaduais.
“Num quadro generalizado de inadimplência de governos que se financiam através de atrasos a funcionários e empresas, a prefeitura Salvador cumpriu com extrema pontualidade seus compromissos com servidores, fornecedores e prestadores de serviços”.
Ainda de acordo com o prefeito, o fato de a situação fiscal ser confortável atualmente foi o que permitiu aumentar o quadro de servidores. No mês passado, a prefeitura anunciou a abertura de um concurso público com 370 vagas disponíveis para 17 carreiras. Ao todo, serão investidos R$ 23,4 milhões de investimentos em pessoal.
“A apresentação desses números revela o equilíbrio das contas de Salvador e se fez necessária para provar que o rigor fiscal e a responsabilidade na gestão das finanças públicas foram a pedra de toque para toda a transformação por que passa a nossa cidade”, declarou.