Prefeitos de capitais que miram concorrer aos governos estaduais em 2026 já articulam suas chapas, diz Bernardo Mello, do jornal O Globo. Segundo o colunista, esses gestores estão buscando buscando vices que facilitem a empreitada que será as eleições municipais do ano que vem.
As conversas envolvem, de um lado, a intenção de passar o bastão a nomes alinhados à gestão; e de outro, a pressão de partidos aliados para entrar na linha de sucessão.
No Rio, por exemplo, o prefeito Eduardo Paes (PSD) não reeditará a chapa com o vice Nilton Caldeira (PL), correligionário do ex-presidente Jair Bolsonaro. A interlocutores, Paes mostra preferência por uma dobradinha com o deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ). Caso se reeleja em 2024, Paes teria que renunciar à prefeitura em 2026 para disputar o governo, abrindo caminho ao aliado nos dois anos finais de mandato.
Para facilitar em sua base a aceitação de uma chapa com Pedro Paulo, Paes tenta abrigá-lo em outro partido. Um dirigente da cúpula nacional do União Brasil afirmou ao O Globo, na semana passada, que segue aberta a negociação para filiar o deputado, apesar da resistência de parlamentares da sigla.
Outra alternativa é o PSB. Lideranças do diretório nacional pessebista acenaram a Paes, no início do ano, com a possibilidade de filiar Pedro Paulo. O cálculo de Paes também envolve aplacar a pressão do PT, aliado do PSB nacionalmente, pelo posto. Dirigentes petistas querem a vaga como contrapartida pelo apoio do presidente Lula.
No Recife (PE), outra capital em que petistas almejam a vaga de vice, o prefeito João Campos (PSB) tenciona concorrer ao governo de Pernambuco e busca uma composição que lhe dê liberdade para uma renúncia no meio do mandato. Com cálculo semelhante, o PT local pleiteia estar na chapa de Campos, no lugar da vice-prefeita Isabella de Roldão (PDT), a fim de amarrar a preferência petista para 2026.
Buscando um colega de chapa que contemple o PT sem limitar os movimentos de Campos, que só concorrerá em 2026 se tiver apoio do vice, aliados do prefeito passaram a apostar em Mozart Sales, braço-direito do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT).
Ex-vereador no Recife e coordenador do programa Mais Médicos, quando Alexandre Padilha era ministro da Saúde, Sales tem laços mais maleáveis com o PT em Pernambuco. Petistas como o ex-prefeito João Paulo e o senador Humberto Costa, por sua vez, cobram apoio do PSB, sem descartar candidaturas próprias.
— O PT ocupa duas secretarias na prefeitura do Recife (Habitação e Saneamento), mas existe uma reclamação de que essas pastas foram esvaziadas. Temos movimentos por candidatura própria em 2024 e 2026, caso não exista nenhum impedimento — afirma João Paulo.
Nos bastidores, Campos nega estar garimpando vices no PT e diz que só planejará a reeleição no ano que vem.
Ampliação de alianças
Em Maceió (AL) e Manaus (AM), os prefeitos João Henrique Caldas (PL) e David Almeida (Avante), respectivamente, tentam conciliar diferentes aliados na montagem da chapa.
Caldas viu seu antigo vice, Ronaldo Lessa (PDT), se alinhar ao senador Renan Calheiros (MDB-AL), seu adversário local. Em reação, o prefeito avalia acomodar em sua chapa os ex-deputados Davi Davino e Jó Pereira, ambos do PP e aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), rival dos Calheiros.
— Formamos este grupo (com o prefeito de Maceió) há pouco tempo, fomos adversários em 2020. Para o grupo permanecer vivo, temos que estar unidos, já que o outro lado (Calheiros) tem apoio dos governos estadual e federal — avalia Davino.
Em Manaus, Almeida articula incluir o PL em sua chapa, no lugar do atual vice Marcos Rotta (PP), para esvaziar a candidatura do bolsonarista Alfredo Menezes (PL) e se fortalecer para 2026. O prefeito também costurou um acordo com o governador Wilson Lima (União). Aliado de Bolsonaro, Lima, contudo, ainda não garantiu apoio à reeleição de Almeida.
O PL, por sua vez, pressiona o atual prefeito de Porto Alegre (RS), Sebastião Melo (MDB), por uma composição que permita ao partido assumir a gestão na capital. Melo deve repetir o vice, Ricardo Gomes (PL), e é cotado para concorrer ao governo em 2026, mas tem resistências no MDB. Para pavimentar o caminho, o PL gaúcho sugeriu filiar Melo.