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segunda-feira 28 de janeiro de 2019 às 10:01h

Prefeito de Mariana: “Nós somos enrolados há 3 anos pela Vale”

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Duarte Júnior (PPS) critica morosidade da mineradora em pagar compensações acordadas para a população

“Quando soube do rompimento da barragem do Feijão, quase não acreditei. Não era possível!”, afirma o prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS). Três anos atrás ele foi testemunha do maior desastre ambiental do país. Agora, a situação se repete em Brumadinho, envolvendo novamente a mineradora Vale. “Nós somos enrolados [pelas mineradoras] há 3 anos. Eu quero contribuir para que Brumadinho não seja enrolado. As respostas das indenizações das pessoas tinha que vir mais rápidas”, afirmou.

Pergunta. Qual sua reação quando ficou sabendo do rompimento de mais uma barragem em Minas?

Resposta. Quando soube do rompimento da barragem do Feijão quase não acreditei. Não era possível. A segunda maior mineradora do mundo, que passou pelo aconteceu em Mariana, repetindo o erro. Infelizmente, estamos passando pelo mesmo pesadelo que passou Mariana três anos atrás e pior, porque Mariana foi um dano ambiental gigante, mas aqui estamos percebendo que o dano maior são as vidas. É inadmissível, é inaceitável, é um total sentimento de revolta. Agora a população de Brumadinho vive o que vivemos lá atrás, aquela falta de informação, a tristeza das pessoas em perceber que o ente querido tem uma grande possibilidade de não voltar mais. É uma revolta muito grande que a gente percebe da população e da gente viver isso de novo. O capitalismo tem que ter muito cuidado, porque é preciso respeitar a vida humana.

P. Sua vinda ao local também é para auxiliar a prefeitura de Brumadinho na gestão dessa crise?

R. Primeiro de tudo eu vim por solidariedade, as pessoas precisam desse carinho e respeito. Mariana foi abraçada pelo país como Brumadinho está sendo aqui. Eu me senti na obrigação de retribuir um pouco do apoio que recebemos. E é claro que com o que passamos lá, acabamos tendo uma experiência maior. Eu sei os desafios passo a passo que essa população vai enfrentar . No primeiro momento, essa tristeza e essa dor da perda de pessoas amadas, mas daqui a pouco vai ter o sofrimento de perda de receita, de falta de emprego, obrigação de manter serviços como saúde e educação, pagamento em dia. É um problema enorme que Brumadinho vai enfrentar e eles precisam ir se organizando, porque essa tragédia só se inicia. Mariana são três anos e ainda não terminou.

P. Como está a situação atual de Mariana. O que a Vale que é uma das acionistas da Samarco já fez para reparar o rompimento de Fundão?

R. O nosso sentimento é de total insatisfação com BHP e Vale, não há nenhuma medida compensatória que foi constituída no Termo de Ajustamento de Conduta. O que é decidido neste termo, mas eles não concordam, simplesmente não é posto em prática. Nós somos enrolados. Eu quero contribuir para que Brumadinho não seja enrolado. As respostas das indenizações das pessoas tinha que vir mais rápidas. Infelizmente não foi o que aconteceu em Mariana, onde o município perdeu mais de 250 milhões de reais. A única coisa que as empresas falaram é que não existe tributo cessante, que esse agora é um problema de Mariana. Vão fazer o mesmo com Brumadinho? E aí? A dependência de Brumadinho é muito grande em relação ao recurso financeiro que vem da mineração.

P. E o que fazer com essa dependência das cidades com a mineração? Gostaria que a Samarco voltasse a operar em Mariana?

R. É preciso diminuir a dependência financeira, buscar novas soluções. Mas não adianta eu pedir isso hoje. Aqui ainda é a principal receita. Isso é um trabalho a médio, longo prazo. O que eu digo, desde que a tragédia de Mariana aconteceu é, se eu fosse prefeito aonde a mineração estivesse chegando, seria contrário. É uma falsa impressão de riqueza. Você acha que está aumentando a receita, mas está trazendo é problemas. Mas hoje em Mariana ela é um mal necessário. É necessária para criar empregos. Mariana, a passos lentos, está tentando desvencilhar dessa dependência, mas há dificuldade de achar essa diversificação. A medida que hoje temos para diminuir a situação dramática que vive Mariana é sim o retorno da Samarco. É claro, hoje as nossas barragens são as mais seguras do mundo após o desastre. Mas e as outras barragens? Será que está acontecendo? Essa semana tiramos a prova que não. Acabamos de ter um segundo rompimento. Dá para admitir isso? Infelizmente a tragédia de Mariana não ficou de exemplo para o Brasil.

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