O prefeito reeleito de Maceió (AL), João Henrique Caldas, o JHC, decidiu trocar o PL, partido de Jair Bolsonaro pelo qual concorreu à reeleição em outubro passado, pelo PSD, para poder integrar a base do governo Lula. JHC está de olho em verbas federais e na disputa por uma vaga no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A decisão foi tomada em uma reunião, neste final de semana, com dois colegas prefeitos: o do Rio, Eduardo Paes (PSD), que é próximo de Gilberto Kassab, e o de Recife, João Campos (PSB), que assumirá a presidência da legenda socialista em 2025.
Segundo Malu Gaspar, Rafael Moraes Moura e Johanns Eller, do O Globo, JHC considerava ir para o PSB, em que estava filiado antes de ir para o PL. Mas a resistência dos pessebistas locais o fez decidir pelo PSD.
A guinada do prefeito de Maceió visa resolver dois problemas principais.
O primeiro deles é de natureza orçamentária: Maceió receberá no próximo dia 15 a última parcela mensal de R$ 250 milhões do acordo de R$ 1,7 bilhão de indenização à prefeitura pela Braskem, responsabilizada pelo afundamento de vários bairros da cidade provocado pela extração de sal-gema no solo pela petroquímica.
Com isso, a torneira de recursos deve fechar, e JHC avalia que, estando filiado a um partido da base de Lula, pode ter melhores condições de receber verbas do governo federal – mesmo tendo feito campanha para Bolsonaro em 2022. Foi para isso, aliás, que ele deixou o PSB em 2022 para se abrigar no PL, que na ocasião não comandava nenhuma capital
Logo após o primeiro turno, quando foi reeleito com expressivos 83% dos votos, Ele ainda exaltou a “inegável força política” do ex-presidente e sacramentou que Maceió representaria “a ressonância da direita no Nordeste”. O diretório nacional do PL direcionou R$ 6,5 milhões para sua campanha à reeleição neste ano.
Outro motivo pelo qual JHC quer entrar na base de Lula é melhorar as chances de uma tia sua ser indicada pelo presidente para uma das vagas abertas no STJ: a procuradora Maria Marluce Caldas Bezerra, do Ministério Público de Alagoas, para o STJ.
“Ela é mais do que tia, é uma espécie de mãe para o prefeito”, diz uma fonte que acompanha de perto as articulações nos bastidores.
Com o apoio do ministro alagoano Humberto Martins, do STJ, Maria Marluce surpreendeu o Palácio do Planalto ao figurar na lista tríplice para a vaga reservada a representante do Ministério Público.
Ela angariou mais apoio que o vice-procurador-geral da República, Hindemburgo Chateaubriand, e que a ex-chefe da PGR Raquel Dodge na votação sigilosa conduzida pelo STJ em outubro para formar a lista tríplice.
Mas no governo Lula, o elo de JHC com o PL é considerado por integrantes do primeiro escalão como um obstáculo à indicação da procuradora, que tem sido associada ao bolsonarismo nos bastidores por conta da filiação partidária do sobrinho.
“A Maria Marluce fica muito forte com o acordo que estão tentando fazer em Alagoas”, diz um ministro do STJ com bom trânsito no Planalto.