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“Polo exportador” de brasileiros para os Estados Unidos, a cidade de Governador Valadares, em particular, e a região leste de Minas Gerais, em geral, levam uma vida americanizada, com mercado paralelo em dólar e influência cultural predominante.
“A gente diz aqui que todo mundo, se não tem parente, tem um amigo nos Estados Unidos”, contou o prefeito Coronel Sandro (PL) na reportagem de Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, do portal Uol, sobre os brasileiros deportados dos Estados Unidos no governo de Donald Trump.
Seu antecessor, André Merlo (União Brasil), prefeito de 2017 a 2024, calcula que haja cerca de 40 mil valadarenses nos EUA, de uma população total de 270 mil. Mineiros da região somam, por baixo, 100 mil —localizados, sobretudo, nas regiões de Boston e Nova Jersey.
O fluxo migratório começou nos anos 1940, se acentuou em 1970 e desde então se tornou um traço cultural da cidade e região. Casos bem-sucedidos de prosperidade inspiram gente de todas as classes sociais a tentar a sorte por lá.
No entanto, quem se arrisca a migrar em condições precárias e sem documentos oficiais sabe que pode bater e voltar. Nos últimos dois anos, 3.660 pessoas foram deportadas dos Estados Unidos e mandadas de volta para o aeroporto de Confins, em Minas Gerais, segundo a BH Airport, empresa que administra o terminal.
“É rotina do governo americano deportar imigrantes”, disse Coronel Sandro, que minimizou a leva de 88 brasileiros mandados de volta para casa pela gestão Donald Trump uma semana atrás.
“Não sei avaliar o que teve de diferente desta vez, a não ser uma maior divulgação por ser a primeira [deportação] do governo Trump.”
O prefeito bolsonarista é um admirador do presidente americano, que voltou à Casa Branca para um segundo mandato.
“Trump é um grande presidente do país que lidera o mundo Ocidental. Suas ações visam a proteger a América e o povo americano”, elogiou. “Ele defende valores que nós também defendemos da direita e do conservadorismo, por isso digo que faz bem ao mundo a postura dele como governante.”
Deportados relataram condições precárias no voo que os tirou à força dos Estados Unidos e maus tratos cometidos pelas autoridades americanas. Coronel Sandro disse que não foi comunicado oficialmente de nenhum abuso e, caso o seja feito, a prefeitura cuidará do acolhimento de eventuais vítimas.
No mais, o prefeito vibra com o fluxo migratório de Valadares para os Estados Unidos. Ele informou que estimativas extra-oficiais dão conta de remessas para a cidade da ordem de US$ 700 milhões por ano.
O número foi calculado informalmente por empresários do ramo da construção civil e imobiliário na cidade, a pedido do prefeito. Parte dos recursos entra pelo sistema bancário nacional, parte chega clandestinamente.
A entrada de dólares movimenta o comércio, a pecuária e a economia local. Muito do que é remetido ao Brasil por expatriados é investido em loteamentos, terrenos e propriedades na região.
O orçamento de Valadares é de R$ 2 bilhões anuais, e a remessa é da ordem de R$ 4 bilhões.
“É excepcional. Ótimo, ótimo, ótimo”, vibra o prefeito Coronel Sandro.
Ele prevê, porém, tempos turbulentos na relação do Brasil com os Estados Unidos, dadas as divergências entre o presidente Lula e seu par americano.
“Alguns interesses vão se chocar e a corda arrebenta sempre do lado mais fraco.”
O lado mais fraco já se sabe qual é.
