Renan e Lira estiveram em lados opostos na política alagoana desde as eleições de 1998. Apesar de serem de gerações distintas, ambos se destacam pelo protagonismo que conquistaram na esfera nacional.
Lira cresceu na esteira do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), justamente no momento em que Renan estava em baixa na política nacional, na mira de processos da Operação Lava Jato. Ele tentou voltar à presidência do Senado em 2019, mas foi superado pela articulação que teve Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) como vencedor.
Por outro lado, Lira se tornou um dos deputados federais mais influentes durante o governo Bolsonaro ao liderar o centrão.
No governo Lula (PT), a relevância se manteve de forma semelhante, com aproximação entre o deputado e o presidente, especialmente na sucessão da presidência da Câmara, em que o PT agora apoia Hugo Motta (Republicanos-PB), candidato de Lira.
Em entrevista à Folha, o deputado alagoano afirmou que o acordo com o PT envolveria uma vaga no TCU (Tribunal de Contas da União) para o partido, em indicação do Congresso prevista para 2026.
Em Alagoas, JHC foi o único do PL a ser eleito, com aproximadamente 380 mil votos, mas fez combinações importantes. Seu vice é o senador Rodrigo Cunha (Podemos), que terá de abrir mão do posto. Sua suplente é a mãe do prefeito de Maceió, dra. Eudócia (PSB), que ficará no Senado pelos próximos dois anos.
O plano do grupo é, com uma vitória em 2026, fechar três posições importantes no tabuleiro alagoano: no Senado, com Lira; no governo, com JHC; e na prefeitura, com Cunha.
Durante os oito anos de Renan Filho no governo (2015-2022), além do pouco mais de dois anos sob o comando de Paulo Dantas (MDB), a Prefeitura de Maceió nunca foi aliada.
Rui Palmeira (PSD) esteve à frente do município por dois mandatos (2013-2020), mas somente se tornou aliado no pleito de 2020, quando o candidato apoiado pelo grupo foi derrotado por JHC. Neste ano, Palmeira foi eleito vereador da capital.
À época, Alfredo Gaspar encabeçou a chapa do MDB. Ele rompeu com os Calheiros na eleição de 2022 por discordâncias ideológicas e de sucessão, sendo uma das lideranças do União Brasil em Alagoas atualmente e aliado de JHC.
Para além da força na capital, há também o município de Arapiraca, segundo maior no estado e também com um prefeito com alta aprovação. Luciano Barbosa (MDB) foi reeleito com 85% dos votos válidos e, no dia seguinte à vitória, concedeu entrevista ao lado de Lira.
Ele foi eleito vice-governador de Renan Filho tanto em 2014 quanto em 2018. A crise entre eles, porém, teve seu ápice em 2020. Barbosa decidira concorrer à Prefeitura de Arapiraca após rusgas internas. O diretório estadual do MDB, presidido por Renan Calheiros, pediu à Justiça Eleitoral indeferimento da candidatura e teve sucesso —Barbosa foi expulso do partido dias antes por “desobediência”.
Vencedor da eleição com 55% dos votos, mas sem partido e com a candidatura sub judice, o prefeito de Arapiraca aguardou decisão do TRE-AL (Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas), que deferiu sua candidatura em dezembro daquele ano. O MDB divulgou nota em que perdoava Barbosa e abriu caminho para sua refiliação ao partido, ensaiando uma aproximação que perdura.
Os Calheiros ainda contam com o apoio decisivo do deputado estadual Marcelo Victor (MDB), presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas desde 2019, com três mandatos consecutivos à frente da Casa. Na última oportunidade, ele esteve na única chapa inscrita.
De perfil mais comedido, Victor chama pouca atenção para si e trabalha mais nos bastidores, costurando alianças que sejam benéficas a ele e em seguida ao seu entorno, o que lhe garantiu uma fama de ser direto e de cumprir os acordos que celebra.
Na esteira da eleição em Alagoas, também estão as figuras do presidente Lula, aliado dos Calheiros, e do ex-presidente Jair Bolsonaro, nome de importância na base de Lira e de JHC.
Nenhum dos dois, no entanto, viajou a Maceió na última eleição. Lula gravou vídeo em apoio ao deputado federal Rafael Brito (MDB), derrotado por JHC, enquanto o prefeito reeleito evitou aliar sua imagem à do ex-presidente (ele deixou o PSB e aderiu ao PL no 2º turno das eleições de 2022 para apoiar Bolsonaro).