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Prefeito baiano fala sobre o município que tem 5 anos sem homicídio

quinta-feira 31 de janeiro de 2019 às 15:02h

Município tem 5 anos sem nenhum homicídio segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) 

Famosa nacionalmente como a “cidade da cachaça”, Abaíra se tornou um assunto comentado no último mês, após a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) ter divulgado que o município tem a menor taxa de crimes contra a vida no estado. A cidade, localizada na Chapada Diamantina, completou cinco anos sem registros de homicídio.

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Prefeito de Abaíra, Edval Luz Silva (PTB)

Em entrevista publicada no Bahia Notícias, o prefeito de Abaíra, Edval Luz Silva (PTB), conhecido popularmente como Diga, revelou que o índice baixo de homicídios é um reflexo comportamental e cultural da população, que é formada majoritariamente por nativos. “Quando a gente tem pessoas que são da região e fizeram família aqui, elas têm muito mais a prezar no sentido de respeito, tanto com os familiares quanto com as autoridades. É algo extremamente natural e que faz parte da cultura do povo daqui”, destacou.

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A última ocorrência de crime letais contra a vida na cidade foi registrada no dia 4 de janeiro de 2014. Se não fosse esse caso, de acordo como o prefeito, o município de quase nove mil habitantes poderia estar comemorando mais de duas décadas sem nenhum registro de homicídio. “Um sogro matou o genro no distrito de Ouro Verde, a 7 km de Abaíra. Eles não eram naturais da cidade. Foi um caso isolado, o homem era usuário de drogas, violento e acabou entrando em uma luta corporal com o sogro”, relembrou.

O prefeito ainda destacou a importância da ação policial para a prevenção de crimes na região. “Rondas, abordagens e ações de inteligência são algumas das atividades desenvolvidas diariamente para dar segurança à população”, explicou.

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Além da superprodução de derivados da cana-de-açúcar e do baixo percentual de homicídios, a cidade procura o seu lugar de destaque no turismo da Chapada Diamantina para atrair turistas e aumentar a renda local. Abaíra dispõe de pontos turísticos, como ruas antigas, prédios históricos, cachoeiras e rios. “Temos tudo que a Chapada Diamantina oferece de belo. Aqui a gente tem tudo que tem em Lençóis, Mucugê e Palmeiras”.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) divulgou que o município completou cinco anos sem nenhum caso de homicídio registrado. A que o senhor atribui isso?

Ao meu ver, eu vejo esse resultado como algo natural do comportamento da população. Elas têm uma cultura de respeito com os outros e as autoridades. Além disso, a gente deixa que os órgãos competentes resolvam as coisas, aumentando a nossa confiança na polícia e no judiciário. Para mim, o que desencadeia uma taxa elevada alta de homicídios é justamente a falta de respeito e credibilidade nas autoridades. Isso tudo faz com que as pessoas queiram agir com as próprias mãos e cometam crimes. Aqui, graças a Deus, não temos isso, pois 90% dos moradores são nativos e mantém essa cultura de respeito ao próximo. Tem respeito, tem vergonha de comprar fiado e não pagar, tem vergonha de ser desmoralizado, tem vergonha de ser preso. Então, as pessoas fazem de tudo para evitar esse tipo de postura.

Abaíra é conhecida como a “cidade da cachaça” e agora virou assunto pela segurança. O que mais a cidade tem a oferecer?

Além da produção da famosa cachaça e dos derivados da cana, Abaíra também tem muito a oferecer na área de turismo. Temos tudo que a Chapada Diamantina oferece de belo. Aqui a gente tem tudo que tem em Lençóis, Mucugê e Palmeiras, por exemplo, temos o pico do Barbado, que é o ponto mais alto do nordeste, com 2.033 metros de altitude. O ponto fica a 40 km de Abaíra, e a 12km de Catolés, que é um distrito muito interessante que pertence ao município. A área tem uma vegetação única, ruas antigas e vários prédios históricos, como uma igreja construída pelos bandeirantes no ano de 1775. Além disso, o local tem cachoeiras e um rio subterrâneo. São coisas interessantes que estão aí para serem descobertas pelas pessoas que gostam de fazer trilhas, caminhadas e que buscam um turismo contemplativo. Em relação a estrutura, estamos buscando recursos para melhorar esse pontos turísticos. O objetivo é atrair mais turistas e gerar mais renda para o município.

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De que forma o município atua com a polícia para a prevenção dos casos de homicídio?

A polícia tem o dever de dar segurança aos munícipes, mas ela recebe muito pouco. O Estado deixa a desejar em relação a esse tipo de remuneração. Acredito que a polícia devia ser melhor remunerada. Até porque a falta de recurso acaba desmotivando os policiais. A prefeitura tenta manter uma parceria com a polícia fornecendo gasolina, transporte, além de gratificações, que nos ajuda a ter uma ação mais efetiva. Porque eles tem uma hora para trabalhar, que é o que o Estado paga, fora desse horário, já que não teria policiamento, a marginalidade poderia atuar mais na cidade. Então, aqui nós temos policiais 24 horas por dia. Tudo isso é um esforço muito grande que a prefeitura faz para combater todo tipo de infração. Além disso, a prefeitura e a polícia mantém uma comunicação direta. A gente troca informações em um grupo de WhatsApp, onde a gente está sempre conversando, porque muita coisa chega para mim e pode não chegar para a central da polícia.

Como é organizada a segurança de Abaíra? Quais são as instituições que existem no município?

Nós temos a Delegacia da Mulher (Deam), a Delegacia da Polícia Civil, a Polícia Militar que está ligada ao comando de Seabra e Itaberaba e temos também a Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) para crimes maiores. Nós estamos tentando trazer uma base da Cipe, pois tivemos um assalto a banco há três anos, que fez a gente perder o Banco do Brasil.

A cidade dispõe de uma Guarda Municipal? Como é feito o treinamento? A equipe é formada por quantas pessoas?

Dispomos de uma Guarda Municipal formada por 12 profissionais, que tem como função zelar dos prédios públicos. É uma equipe que foi treinada, todos trabalham fardados. Eles tem um treinamento voltado para para a preservação do patrimônio e também no compartilhamento de informações com a polícia. Como eles passam a maior parte do tempo na rua, eles podem contribuir para a segurança da população com informações.

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Muitos municípios reclamam do baixo efetivo policial, seja da Polícia Militar ou da Polícia Civil. O que o senhor acha disso? Abaíra já enfrentou algum problema por causa dessa realidade?

Já sim. No passado, eu só tinha dois policiais para o dia todo e hoje eu consigo ter três em cada turno. É muito interessante termos uma delegacia aberta e com agentes ativos. Isso tudo tem um custo para a prefeitura, pois o Estado não custeia. Fecha um olho e age como se tivesse tudo bem, mas não está. Eu sei que Abaíra é uma célula do Estado e se ela funciona, todos acabam lucrando com isso também. Agora, o Estado devia olhar mais para a segurança dos municípios, no sentido de propiciar uma contribuição maior. Para evitar o sucateamento da polícia e fazer com que a segurança seja mais efetiva nas cidades. Não tem transporte suficiente e nem gasolina, por exemplo, sem gasolina eles não conseguem fazer as diligências. A gasolina disponibilizada não dá, isso faz com que a prefeitura acabe arcando com esse gasto.

Quanto é gasto com a segurança do município?

Com a parte de despesas com o complexo, viatura, gasolina e gratificações, eu acredito que é algo em torno de 20 mil reais por mês. O que é muito pouco para o resultado que isso traz para a cidade.

Em relação a outros tipos de crimes, o que a cidade tem feito?

A Deam por meio da Lei Maria Da Penha tem atuado nos casos de violência contra a mulher. A gente tem um trabalho muito austero em dar amparo às famílias e as vítimas de violência doméstica. A gente não dá moleza. O Conselho Tutelar também atua contra casos de abuso infantil. Em todos os casos, a gente tenta “mastigar” o máximo de cada crime, a partir das investigações. Se depender da gente, não teremos crimes aqui por tão cedo, pois estamos engajados e sempre atentos no combate a qualquer infração.

A interiorização do tráfico de drogas é um problema apontado pelo governo. O senhor acha que esse problema impacta no dia a dia da cidade?

Assim que eu voltei à prefeitura em 2016, eu encontrei a cidade com um tráfico de drogas pesado. Quando terminei o segundo mandato, em 2008, a população nem sabia o que era crack e cocaína. Como a cidade é pequena, agimos de uma forma diferente. Além disso, eu sou daqui e conheço muita gente. Por isso, conversamos com alguns suspeitos e oferecemos até empregos para diminuir o tráfico. No entanto, muitas gangues se formaram nos povoados e a polícia teve que atuar. Através da ação da polícia, estamos conseguindo combater esse problema.

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O que mais pode ser feito em relação a segurança na cidade?

Eu gostaria de ter mais recursos para investir na cidade. Não só na segurança, mas na educação e em projetos sociais, como a criação de um colégio militar para estimular a disciplina entre as crianças e adolescentes. Tudo isso contribui e influencia positivamente na segurança do município.

A mudança da abrangência, de municipal para estadual, no decreto que regulamenta a posse de armas no Brasil vai permitir que cidadãos de 100 cidades baianas com índices anuais de homicídio abaixo do considerado mínimo adquiram armas de fogo. O senhor acha que uma arma pode passar mais segurança à população?

É muito relativo. Hoje é difícil não ter uma pessoa que não tenha uma arma de forma irregular, mas não estou querendo apontar nada. Eu não vejo problema em ter uma arma se você tem responsabilidade. É só saber usar. Se vai combater o crime também é algo difícil de confirmar agora. Eu acredito que vai dar segurança a quem precisa. Por exemplo, como que você mora em lugar afastado e não vai ter nada para se defender? Claro que é errado você sair portando essa arma na cintura ou no carro. Mas tê-la na sua residência, eu não vejo isso como um bicho de sete cabeças. É algo usado para se defender e proteger sua família. Se não existisse nenhuma arma no mundo, eu até entenderia a desaprovação, mas as armas existem. Apesar disso, eu volto a afirmar que a violência não pode ser combatida com violência. Em contrapartida, eu não posso abrir a porta e pedir paz para um assaltante que chega na minha casa atirando. Se vem com bala tem que sair bala. Não tem jeito. Por isso, é uma questão relativa, depende do caso. Esse exemplo foi um caso extremo.

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