‘Se eu não tivesse a minha pele negra, isso não estaria acontecendo’, diz gestora
“Eu tenho certeza que se eu não tivesse a minha pele negra, se eu não tivesse vindo da família que eu venho, de baixa renda, que representa uma categoria de trabalhadores, porque nós somos militantes sindicais, representando a agricultura familiar, isso não estaria acontecendo”, disse em entrevista a TV Bahia a prefeita de Cachoeira, cidade do recôncavo da Bahia, Eliana Gonzaga (Republicanos), após ter recebido ameaças de morte.
Por causa das ameaças, uma reunião entre a prefeita e o secretário da de Segurança Pública da Bahia (SSP), Ricardo Mandarino, decidiu que a prefeita vai receber escolta policial.
Eliana Gonzaga de Jesus é a primeira mulher negra a ser eleita prefeita de Cachoeira. Ela afirma que não tem inimigos e acredita que as ameaças são causadas por racismo ou motivações políticas.
“Não é normal, não é natural que uma mãe de família deixe sua casa sem nenhum motivo, sem nenhuma justificativa, só a títulos de ameaças sem fundamentação alguma”, disse a prefeita.
A prefeita de Cachoeira teve que se mudar de cidade por causa das ameaças que vem recebendo. O carro que ela anda é blindado e a prefeita anda escoltada por policiais e seguranças particulares.
“Nós não temos nenhum inimigo, eu não estou entendendo essa situação”, contou Eliana de Jesus.
Por precaução, conforme reportagem do G1, pessoas ligadas a Eliana de Jesus se mudaram para outras cidades. Uma delas foi Georlando Silva, que foi candidato a vereador nesta última eleição também pelo partido Republicanos.
Georlando Silva não foi eleito, mas assumiu o cargo de coordenador de obras da prefeitura de Cachoeira. Ele também recebeu ameaças e chegou a postar um vídeo nas redes sociais contando a situação.
No dia 7 de março deste ano, o militante foi assassinado com 19 tiros na cabeça no meio da rua, perto do centro de Cachoeira.
Apesar da situação, Eliana de Jesus diz que vai resistir às ameaças e continuar exercendo o cargo de prefeita.
“Nós temos o sangue de guerreiros, que gritaram o grito da independência aqui em Cachoeira. Nós não vamos envergonhar os nosso ancestrais. Nós temos a honra, o dever e a obrigação de honrar todos os sangues dos nossos antepassados que foram derramados por essa liberdade”
Um homem morreu e outro foi preso durante uma operação realizada em Cachoeira, no dia 19 de março deste ano, pelo Departamento de Polícia do Interior (Depin). A SSP-BA informou que eles são suspeitos de envolvimento nas ameaças feitas à prefeita.
Ainda de acordo com a SSP-BA, o homem que morreu é suspeito de homicídio em Cachoeira e possuía mandado de prisão em aberto. Ele morreu após troca de tiros com os policiais. Com ele, foram apreendidos um revólver e munições.