Em um momento em que partidos menores tentam restabelecer as coligações proporcionais para driblar a cláusula de barreira, avançam nos bastidores as conversas entre caciques do PP e do PSL para a criação de um superpartido político, que despontaria como a maior sigla do Centrão, com mais de 100 parlamentares, e seria titular da maior fatia dos fundos partidário e eleitoral nas eleições de 2022.
Se nenhum dos articuladores da fusão recuar, o anúncio da nova legenda está programado para o começo de outubro. Mas ainda há pontas soltas: um dos impasses é a eventual filiação do presidente Jair Bolsonaro, indesejada por uma ala do PSL.
Em contrapartida, um dos alvos mais cobiçados pelos articuladores do novo partido é o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que está desembarcando do PSDB.
O grupo disputa com dirigentes do PSD e do DEM a filiação de Alckmin, que emerge competitivo nas pesquisas para disputa pelo governo de São Paulo.
O PSD dá como certo, entretanto, o ingresso de Alckmin na legenda, prometido para novembro. Na sexta-feira, o tucano participou das comemorações do aniversário do presidente do PSD, Gilberto Kassab.
De acordo com fontes das cúpulas do PP e do PSL, ouvidas pelo jornal Valor, as conversas entre as siglas avançaram nas últimas semanas, encabeçadas pelo ministro da Casa Civil e presidente licenciado do PP, Ciro Nogueira, pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e pelo presidente do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PE).
Somados, os fundos partidários das duas legendas totalizaram cerca de R$ 165 milhões no ano passado. A esse valor, seria acrescentado o montante do fundo eleitoral, que também é distribuído conforme o tamanho das bancadas.
Bolsonaro voltou a afirmar que vetará o fundo de R$ 5,7 bilhões aprovado pelo Congresso para o ano que vem. Mas a expectativa é que os parlamentares votem, na Lei Orçamentária, um fundo estimado em pelo menos R$ 4 bilhões para as campanhas eleitorais.
O grupo busca um novo nome para a sigla que teria perfil conservador, de direita e liberal. Nasceria com uma bancada de pelo menos 98 deputados – o PSL tem 55 e o PP tem 43 -, mas com o objetivo de atingir até 150 na janela partidária, que abrirá em março.
A nova sigla começaria com pelo menos quatro governadores: do Acre, Gladson Cameli, hoje no PP; de Rondônia, Coronel Marcos Rocha, do PSL; de Santa Catarina, Carlos Moisés, do PSL; e de Tocantins, Mauro Carlesse, que acabou de trocar o PHS pelo PSL. O PSL perdeu no ano passado o governador de Roraima, Antonio Denarium, apoiador de Bolsonaro, que se desfiliou da sigla.
Embora o PP já tenha anunciado que apoia a reeleição de Bolsonaro no próximo ano, do lado do PSL há a intenção de que com a fusão se mexa no tabuleiro de 2022. Segundo um dirigente do PSL, a fusão seria um fato político que poderia reverter o cenário de polarização entre Lula e Bolsonaro.
A leitura é que o nascimento de um superpartido abriria espaço para o surgimento de uma terceira via consistente.
A proximidade do PP com o Palácio do Planalto incomoda, mas não seria determinante para travar a fusão. Ainda que reconheça que as conversas com o PP estão adiantas, esse cacique sinaliza que uma eventual imposição de Ciro Nogueira para que a legenda receba Bolsonaro para a disputa do ano que vem pode fazer com que o casamento não seja celebrado.
O PSL conversava nos últimos meses com o DEM e o MDB, mas as negociações esfriaram. Um dos obstáculos apontados para que as conversas com essas duas siglas prosperem é o fato de a cúpula do PSL não estar disposta a abrir mão do controle partidário.
Em uma explicação, caciques da legenda explicam que aquele que “bota mais dinheiro” em uma empresa tem maior participação acionária em uma sociedade. A mesma coisa, segundo eles, deveria acontecer com a fusão de um partido: a maior bancada leva a maior fatia.