Ainda que o presidente Jair Bolsonaro não tenha batido o martelo sobre seu destino partidário, os dois partidos do centrão que dão base de sustentação para seu governo, PP e PL, devem compor a chapa presidencial, um filiando o chefe do Executivo, e o outro, o vice.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, este é o acordo que vem sendo discutido pelas cúpulas das duas legendas e por auxiliares palacianos.
Na semana passada, Bolsonaro indicou a aliados que deverá ir para o PL. Preso e condenado no mensalão, Valdemar Costa Neto, dirigente do partido, gravou recentemente um vídeo convidando o presidente e apoiadores para se filiarem.
No dia anterior à gravação, o mandatário havia enviado uma mensagem a Valdemar dizendo que estava decidido a migrar para a sigla.
O dirigente partidário esperava que ele anunciasse a decisão no dia da divulgação do vídeo, o que não ocorreu.
O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) foi às redes sociais para agradecer o convite, mas disse que o presidente ainda mantém conversas com o PP.
Auxiliares palacianos que defendem que Bolsonaro se filie ao PL dizem acreditar que esta é a forma mais garantida de amarrar a sigla com o presidente em 2022, evitando uma eventual neutralidade ou, pior, debandada para apoiar outro candidato, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Aliados também veem já certa dose de pragmatismo na escolha do partido. A avaliação é que o tempo de televisão será crucial na disputa e o PP já é dado como certo na coligação. Assim, com o PL, Bolsonaro teria ainda mais exposição no horário eleitoral.
Caso se confirme a ida do clã ao partido de Valdemar, caberia ao PP sugerir um nome para disputar a Vice-Presidência em chapa com o mandatário.
Apesar da indicação do presidente, dirigentes de ambas as siglas dizem que só terão confiança na decisão no dia em que ele anunciar. Isso porque Bolsonaro oscila a respeito de filiações partidárias, já esteve mais próximo de se filiar ao PP e já citou, em outros momentos, legendas menores.
À Folha, Flávio, senador e filho de Bolsonaro, afirmou que o martelo não foi batido. “Não há decisão ainda.”
Pessoas no entorno do presidente dizem que a decisão é de cunho pessoal, apesar de considerarem que já passou da hora de tomá-la.
Bolsonaro já chegou a dizer a aliados que só anunciará para onde vai quando a União Brasil, partido que resultará da fusão do DEM e do PSL, for formada. A expectativa é que isso ocorra até dezembro.
Embora estejam avançadas as negociações para uma chapa de PP-PL, dois partidos que já foram aliados de governos petistas no passado, ministros palacianos dizem que não há preferências por nomes para disputar a Vice-Presidência ao lado de Bolsonaro.
No PP, um nome considerado como opção para compor a chapa como vice é o do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PI), senador licenciado.
Tanto PP quanto PL têm assento no Palácio do Planalto. O primeiro com Ciro Nogueira e o segundo com Flávia Arruda (Secretaria de Governo). O presidente da Câmara e aliado do presidente, Arthur Lira (AL), também é do PP.
Hoje, o Republicanos também é considerado um dos partidos mais próximos de Bolsonaro. O presidente já chegou a avaliar filiação à legenda ligada à Igreja Universal, mas essa opção é tratada atualmente como a menos provável por pessoas próximas ao mandatário.
No PP, o acordo da chapa é tido como fechado. Já no PL, pessoas próximas a Valdemar dizem que o dirigente tem apenas conversado sobre a construção de uma eventual chapa no futuro, mas que não houve nenhum compromisso fechado com o partido de Ciro Nogueira.
A ideia de ambas as legendas, mais do que garantir a reeleição de Bolsonaro, é formar uma bancada robusta no Congresso.
Com o acordo, tanto PL quanto PP ganhariam expressão. Eleger um bom número de deputados também garante mais recursos do Fundo Eleitoral e peso político para negociar com o Executivo, independentemente de quem esteja sentado na cadeira presidencial em 2023.
A dúvida de Bolsonaro a respeito de sua filiação passa também pelas vantagens que cada sigla oferece e pelas preferências de seus apoiadores no Congresso, já que boa parte deles deve acompanhá-lo.
O ministro Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência), hoje filiado ao DEM, é um dos maiores entusiastas da ida de Bolsonaro para o PL. Ele próprio já chegou a afirmar a Valdemar que vai migrar para o partido independentemente da legenda escolhida pelo presidente.
Onyx também já buscou articular a formação de uma federação de PP e PL, possibilidade descartada hoje por dirigentes das duas siglas.
A escolha do ministro tem a ver com a configuração da disputa eleitoral no estado do Rio Grande do Sul. O PP tem o senador Luiz Carlos Heinze como pré-candidato ao governo gaúcho, cargo também cobiçado por Onyx.
Auxiliares palacianos trabalham, nos bastidores, para fazer com que o senador da tropa de choque da CPI da Covid abra mão de sua candidatura e assuma o Ministério da Agricultura quando Teresa Cristina se licenciar para disputar as eleições.
À Folha Heinze disse que a possibilidade está “totalmente descartada”. Segundo contou, o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), procurou-o há cerca de dois meses para propor a composição, mas ele recusou.
“Se eu quisesse, teria disputado a cadeira [do ministério] lá atrás com a Teresa. Não desmerecendo agricultura, que é a minha origem, mas meu leque é hoje mais amplo. E meu foco, meu projeto é esse [governo do Rio Grande do Sul]”, afirmou Heinze.
Aliados do presidente dizem que, no PL, Bolsonaro teria mais possibilidade de influenciar diretórios estaduais, já que o partido tem um cacique só, diferentemente do PP.
Embora haja congressistas com forte expressão no PL, o destino da legenda é definido principalmente por Valdemar, sem a necessidade de aval dos diretórios regionais.
No PP, o cenário é diferente. Na Bahia, por exemplo, congressistas do PP querem apoiar a candidatura do petista Jaques Wagner ao governo do estado.
Em São Paulo, a sigla cogitou apoiar Rodrigo Garcia (PSDB), aliado do governador João Doria (PSDB), desafeto de Bolsonaro, na briga pelo governo.
No entanto, o partido levou ao presidente a possibilidade de compor chapa com o ex-governador Geraldo Alckmin, que deve se filiar ao PSD, lançando o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) ao Senado —um dos nomes mais caros ao mandatário no tabuleiro eleitoral.