Os parlamentares bolsonaristas que viajarão aos Estados Unidos por ocasião da posse do presidente eleito do país, Donald Trump, terão um extenso roteiro a ser cumprido na capital Washington a partir do próximo final de semana. Os planos incluem desde uma recepção restrita organizada por assessores do republicano até a participação em um comício liderado por Trump, segundo fontes ouvidas pela equipe do blog da Malu Gaspar.
A maior parte dos bolsonaristas deve chegar em Washington na próxima sexta-feira (17). Pelo menos 30 deputados e senadores devem comparecer à posse, segundo um interlocutor. Entre eles, como publicou O Globo, estão Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e aliados próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro como Bia Kicis (PL-DF) e Gustavo Gayer (PL-GO), além do próximo líder da bancada do PL, Sóstenes Cavalcante (PL), e Carla Zambelli (PL-SP).
Convidado diretamente por Trump, Bolsonaro depende de uma autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) que é considerada improvável até mesmo entre seus aliados. Caso o ministro Alexandre de Moraes negue o pedido da defesa para a liberação de seu passaporte, o ex-ocupante do Palácio do Planalto deve ser representado pela esposa, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, e o filho Eduardo, próximo da família Trump.
A organização da “caravana”, porém, tem sido cercada de cautela. Nos últimos dias, diversos parlamentares não retornaram às mensagens da equipe do blog quando indagados sobre os planos para a viagem. Mas nós apuramos que a delegação brasileira será recebida por membros do alto escalão da futura administração Trump no próximo domingo, em um local ainda não revelado de Washington D.C.
O encontro contará ainda com representantes da futura gestão do Departamento de Estado, que será comandado pelo senador republicano Marco Rubio, cotado para a vice de Trump nas eleições de 2024. De origem cubana e próximo da comunidade latina nos EUA, Rubio criticou o ministro Alexandre de Moraes em setembro passado pela suspensão do X após a rede social descumprir decisões judiciais do STF.
Na ocasião, o senador chamou a decisão como “a mais recente manobra do ministro Alexandre de Moraes para enfraquecer liberdades elementares” e avaliou a medida como “autoritária” e parte de uma “campanha de censura”. Como mostramos no blog no ano passado, outros deputados e senadores do Partido Republicano apresentaram projetos mirando o magistrado e outros juízes do Supremo por conta da derrubada da plataforma de Elon Musk.
Ainda no domingo, os parlamentares participarão do Make America Great Again (Maga) Rally, comício que contará com a presença do próprio Trump na Capital One Arena, estádio a poucas quadras da Casa Branca com capacidade para 20 mil pessoas, a convite da organização do evento.
Caso Bolsonaro não seja liberado pelo Supremo para viajar aos EUA, a tendência é que Eduardo e Michelle participem de agendas paralelas à da delegação brasileira e de caráter restrito, possivelmente com o entorno de Trump e demais autoridades do próximo governo.
Aliados do ex-presidente admitem que, caso o STF devolva seu passaporte, a programação dos deputados deve ser repensada de última hora, embora não haja um planejamento claro para esse cenário.
Disputa pela posse
A cinco dias da passagem do bastão da Casa Branca, deputados e senadores ainda disputam os últimos convites para a cerimônia mais exclusiva: a do juramento de posse de Trump e do vice-presidente eleito, JD Vance, bem como o primeiro discurso do novo ocupante da Casa Branca em uma enorme plataforma erguida diante da fachada oeste do Capitólio.
A cerimônia reunirá os ex-presidentes Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama, além do incumbente Joe Biden, que deixará o poder após um mandato de quatro anos, e diversas outras autoridades dos Três Poderes dos EUA.
A essa altura, só sobraram escassos convites disponibilizados por deputados e senadores americanos disputados “a tapa”, na descrição de um dos aliados dos bolsonaristas, pelos próprios parlamentares brasileiros e outros interessados dos próprios EUA. Os passes oferecidos pelo futuro presidente, como o enviado para Bolsonaro, já esgotaram e até mesmo doadores bilionários foram deixados de fora, tamanha a procura.
Quem for contemplado seja na estrutura temporária construída diante do Congresso americano com 930 metros quadrados e capacidade para 1.600 pessoas – entre elas o presidente e o vice e familiares, ex-ocupantes da Casa Branca, membros do Judiciário e do Congresso, governadores e entre outras autoridades americanas – ou junto à multidão na região do Capitólio, ao longo do National Mall, espécie de esplanada da capital.
Os parlamentares apoiadores de Bolsonaro participarão ainda de um tradicional baile de gala que sucede a cerimônia de posse e conta com a presença do presidente e da primeira-dama, além do vice e da segunda-dama, e outras autoridades. A cerimônia é diferente do Baile Hispânico, evento para o qual o ex-presidente brasileiro também foi convidado.
Os deputados e senadores que viajarão aos EUA estão no recesso parlamentar.
Procurado, o Itamaraty afirmou à equipe do blog que nove deputados federais filiados ao PL, Novo e Republicanos informaram que estarão em missão oficial nos EUA durante a posse de Trump, mas não detalhou quais. No site da Câmara dos Deputados, não há registros de viagens cadastradas para o exterior neste ano.
Jair Bolsonaro e Donald Trump são aliados próximos e foram presidentes contemporâneos entre 2019, quando o brasileiro assumiu o poder, e 2021, quando o americano deixou a Casa Branca após a derrota para o democrata Joe Biden. Bolsonaro foi o último líder estrangeiro democrático a reconhecer a vitória de Biden diante das acusações infundadas de fraude eleitoral por parte de Trump.
Na eleição presidencial de 2022, o ex-presidente dos EUA gravou um vídeo pedindo voto pela reeleição do aliado do Brasil, que ficou conhecido nos EUA como o “Trump tropical”. Em novembro passado, Eduardo Bolsonaro acompanhou a apuração da eleição presidencial americana na seleta festa do candidato republicano, que acabaria vencendo a atual vice-presidente, Kamala Harris, na Flórida.
Eduardo, articulador internacional do clã Bolsonaro e secretário de Relações Institucionais e Internacionais do PL, mantém relação direta com o filho mais velho do presidente eleito, Donald Trump Jr., e congressistas trumpistas, além de outras lideranças de direita ao redor do mundo.