O apoio histórico do PT à demanda por um Estado Palestino colocou ministros do governo Luiz Inácio Lula da Silva sob pressão nas redes sociais. Desde o estopim da guerra, auxiliares palacianos foram emparedados na web por supostamente terem sido “complacentes”, num passado recente, com o grupo terrorista Hamas, que controla a Faixa de Gaza. As críticas levaram, de acordo com Renan Truffi e Fabio Murakawa, do Valor, a divergências internas sobre como tirar o governo das cordas nas plataformas sociais.
Os principais alvos da oposição foram os ministros da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República, Alexandre Padilha (PT-SP), e da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta (PT-RS).
Um dos fatos recuperados nas redes aconteceu em 2021. Na época, parlamentares petistas divulgaram um manifesto com o título “Resistência não é terrorismo!”, no qual se posicionam de forma contrária à classificação do Hamas como “organização terrorista”. A nota é assinada por diversos deputados do PT, incluindo Pimenta e Padilha.
Diante do impacto na imagem do governo, Padilha foi às redes para tentar contextualizar a decisão tomada na época. “Naquele momento, estávamos em uma fase aguda da pandemia”, contou.
“Assinei esse documento, naquele contexto, porque aumentar o tensionamento com organizações da região [como o Hamas] tornaria ainda mais difícil garantir ações de cuidado pelos governos locais. Em nenhuma hipótese essa decisão pode ser confundida com apoio a qualquer tipo de violência”, complementou.
Já Pimenta tentou evitar o assunto em seu perfil nas redes, e também não quis explicar seus motivos ao ser questionado pelo jornal Valor.
A postura apenas reativa da comunicação do governo levou a debates internos no Palácio do Planalto sobre se a estratégia deveria ser outra, ou seja, mais propositiva. Na avaliação de fontes internas, a gestão petista tinha de entrar no debate diretamente e não apenas responder acusações. Uma outra ala, no entanto, tem aconselhado os ministros a evitar amplificar esses fatos.
Um sinal de que as críticas podem continuar é que Alexandre Padilha também está precisando explicar, nos últimos dias, o fato de ter recebido, cinco dias antes do atentado terrorista contra Israel, um apoiador do Hamas, Sayid Tenório, dentro do Palácio do Planalto.
Lula ainda não disse que o Hamas é uma organização terrorista”
— Claudio Lottenberg
Sobre isso, o Valor apurou que Padilha tentou contornar o mal-estar. Ele aproveitou que havia recebido um convite de audiência por parte do presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg, e telefonou para explicar os fatos. Na conversa, Padilha contou a Lottenberg que acabou recebendo Tenório em seu gabinete porque ele estava acompanhando do embaixador do Brasil para a Palestina.
“A agenda em questão foi uma breve visita de cortesia solicitada pelo embaixador do Brasil para a Palestina, que esteve presente no encontro, como desdobramento do diálogo institucional da SRI com a Frente Parlamentar Brasil-Palestina. O ministro Alexandre Padilha já manifestou publicamente seu repúdio aos atos terroristas ocorridos”, respondeu em nota a SRI.
Lottenberg também minimizou o episódio. “Ele [Padilha] não me deve satisfação disso. Ele falou disso [explicação] por respeito e para evitar uma má interpretação. O ministro Padilha é um homem que está no exercício da função e ele tem de receber pessoas que ele quer e, às vezes, que ele não quer. Ele particularmente sempre nos recebeu muito bem, não tem nada de pendência”, argumentou.
Na conversa, Padilha e o presidente da Conib também agendaram uma audiência para o começo de novembro. Apesar do tom ameno, Lottenberg admitiu que a confederação vê um único erro do governo petista neste episódio.
“Eu diria que o governo está agindo bem. A única coisa é que o presidente Lula ainda não disse que o Hamas é uma organização terrorista”, afirmou.