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sábado 13 de agosto de 2022 às 15:58h

Por que pensar é tão exaustivo?

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Longos períodos de concentração esgotam a mente e impactam a tomada de decisões. Pesquisadores analisaram em maior profundidade o motivo, e o que se passa no cérebro no processo de raciocinar.Trabalhos braçais, esportes e exercícios físicos nos deixam cansados, não há dúvida. Mas, e quando o esforço é mental?

Refletir sobre um texto, ler um livro difícil, jogar xadrez, aprender a tocar uma peça ao piano, andar de carro por estradas desafiadoras, concentrar-se por um longo período de tempo: isso também esgota o ser humano.

Pesquisadores franceses analisaram por que pensar por horas a fio é exaustivo. As descobertas, publicadas na revista científica Current Biology, concluem: a exaustão mental tem causas biológicas muito específicas.

Concentração, por favor!

Ao longo do estudo, dois grupos de participantes tiveram que se concentrar durante seis horas, com dois pequenos intervalos de dez minutos cada. Um grupo resolveu uma tarefa um pouco mais exigente cognitivamente. Os participantes visualizavam letras a cada segundo e tinham de decidir se alguma delas tinha se repetido na antepenúltima visualização do painel. O segundo grupo tinha a mesma tarefa, mas com a tarefa de identificar a repetição apenas na última visualização.

“Após seis horas, independentemente da complexidade da tarefa, ambos os grupos se sentiam exaustos”, diz o principal autor da pesquisa, Antonius Wiehler, cientista comportamental do Instituto do Cérebro ICM) do Hospital Pitié-Salpêtrière, em Paris. Segundo Wiehler, isso pode acontecer porque se está condicionado a sentir-se exausto após uma jornada de trabalho.

Como sentir “por hábito” não é um realmente argumento científico, o próximo passo foi descobrir se existe uma explicação biológica para esse processo no cérebro. A meta era descobrir o que é de fato a fadiga mental.

As máquinas podem fazer cálculos sem parar, o cérebro humano, não. Mas por quê? Estudos anteriores já haviam identificado o córtex pré-frontal lateral, que entra em ação quando é necessário mais controle cognitivo, por exemplo para pensar, planejar ou tomar decisões. Contudo permanecia uma incógnita o motivo por que o exercício do controle cognitivo é extenuante.

A equipe de pesquisa investigou o assunto com a ajuda da espectroscopia de ressonância magnética (MRS). “Descobrimos que o aminoácido glutamato desempenha um papel nesse processo”, explica Wiehler. “Nos grupos que tiveram de resolver as tarefas mais difíceis, a concentração de glutamato aumentou bem mais ao longo do tempo.”

Associado a evidências anteriores, esse fato sustenta a suposição de que o acúmulo de glutamato torna mais difícil a ativação do córtex pré-frontal: fica mais difícil se concentrar.

Ganhar 20 euros agora ou 50 euros em um ano?

“Tá, mas e daí?”, pode-se perguntar. Afinal, é sabido que o desempenho cognitivo tem limites. Mas o estudo também mostrou que o aumento dos níveis de glutamato influencia o controle das decisões, o que torna essas informações bastante relevantes para a vida cotidiana.

“Pedimos aos participantes do estudo para tomarem decisões econômicas simples, como: vocês querem 20 euros agora ou 50 euros em um ano?” Os que estavam no grupo com a tarefa cognitivamente mais difícil tendiam a preferir ganhar menos dinheiro mas mais rapidamente, enquanto o outro grupo pensava mais a longo prazo.

“Quando a fadiga cognitiva se instaura, optamos por processos ou ações mais simples que não requerem esforço nem espera, por exemplo”, observa Wiehler. Portanto faz todo o sentido tomar decisões importantes no início, e não no fim do dia, quando já se está exausto.

Limites cognitivos em análise

O estudo não permitiu determinar se seria aconselhável bloquear a liberação de glutamato. Afinal, ele também é um neurotransmissor indispensável para funções motoras e cerebrais.

Além disso, sendo um aminoácido, o glutamato é, ainda, responsável pela regulação do apetite. Ele aumenta o apetite e suprime a sensação de saciedade, o que o tornou um aditivo popular nos alimentos industrializados.

Retornando à questão do desempenho cognitivo, o neurocientista avisa: “Durante nossa experiência, notamos que a exaustão mental se instaura após cerca de duas horas e meia a três horas de concentração. Os intervalos de dez minutos não contribuíram para a recuperação da cabeça”. Apesar disso, “o descanso e o sono são certamente propícios para remover o glutamato das sinapses”.

Não está claro se se pode treinar a resistência cognitiva. Para Wiehler é “muito provável” que seja possível, “entretanto, ainda não sabemos se e como isso afeta a tomada de decisões; talvez nem haja impacto nenhum”.

Agora os pesquisadores estão interessados em saber como o glutamato é decomposto durante o sono. Contudo já se pode aplicar os resultados do atual estudo a exemplos práticos de uso na vida cotidiana: o monitoramento de processos metabólicos pré-frontais poderia, por exemplo, ajudar a detectar fadiga mental severa. Segundo os pesquisadores, um recurso útil para ajustar os horários de trabalho, a fim de evitar o burnout.

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