Os ciganos são um grupo étnico de pessoas tradicionalmente nômades cujas origens estão enraizadas na Índia. Há muito tempo perseguidos e discriminados, os ciganos sempre foram vistos com desconfiança ao redor do mundo por sua língua, costumes e comunidades unidas.
E, no entanto, a cultura cigana nos presenteou com algumas das músicas e danças mais reconhecidas do planeta e inspirou arte, filmes, peças de teatro e óperas. Mas o que realmente sabemos sobre esse povo historicamente oprimido, inclusive em Portugal?
Origem
O povo cigano originou-se no norte da Índia, muito provavelmente do que é hoje conhecido como o estado indiano do Rajastão.
Migração para o oeste
Os ciganos começaram a migrar para o oeste no Império Bizantino por volta de 500 dC em regiões que hoje são conhecidas como o Irã, a Armênia e a Turquia.
Chegada na Europa
As repetitivas migrações empurraram os ciganos mais para o oeste. Eles estavam no sudeste da Europa no início do século XIV e na Europa Ocidental no século XV. Na foto, os ciganos chegam em Berna, Suíça.
Presença em todo o mundo
Na segunda metade do século XX, os ciganos podiam ser encontrados em todos os continentes.
Habilidades
Sendo por natureza um povo itinerante, os ciganos trouxeram consigo uma variedade de habilidades. Muitos eram artesãos, adeptos da marcenaria e do artesanato em cobre. Outros tinham experiência trabalhando em fazendas ou como ferreiros.
Esotéricos
Alguns ciganos demonstraram conhecimento mais esotérico, trabalhando como quiromantes ou cartomantes.
Músicos e animadores
E como se fossem naturalmente talentosos, a maioria dos ciganos eram músicos e artistas espontâneos.
Suspeitas e escravidão
Inicialmente, os ciganos foram bem recebidos por suas habilidades. Mas os governos e a Igreja os viam com crescente desconfiança, chegando ao ponto de classificá-los como pagãos. Logo, os ciganos começaram a ser expulsos e forçados à escravidão.
Na foto acima, um pôster da Valáquia de 1852 anunciando um leilão de escravos ciganos em Bucareste, na Romênia.
Perseguição
De fato, já no século XVI, os ciganos sofriam perseguição. A Lei dos Egípcios de 1530 foi uma legislação aprovada pelo Parlamento da Inglaterra em 1531 para expulsar os “povos estranhos que se autodenominam egípcios”, significando ciganos. Quando os ciganos apareceram pela primeira vez na Inglaterra no século XVI, acreditava-se erroneamente que eles vinham do Egito.
Sentimento anti-cigano
Em meados do século XVI, o Sacro Imperador Romano Fernando I ordenou a expulsão dos ciganos da Morávia e da Boêmia. Em 1660, os ciganos foram proibidos de residir na França por Luís XIV. O século VXII também testemunhou os ciganos sendo removidos à força ou deportados de outros países da Europa, nações que incluíam Alemanha, Holanda e Itália.
Em 1685, Portugal chegou a criminalizar a pronúncia da língua cigana, qualquer que fosse o dialeto. A prisão aguardava os dissidentes; outros foram simplesmente executados sem julgamento.
Genocídio
A perseguição aos ciganos continuou no século XVIII. Em 1710, Joseph I emitiu um decreto que efetivamente resultou nos assassinatos em massa de ciganos em todo o Sacro Império Romano.
Grande Rodada Cigana
Na Grande Ronda dos Ciganos de 1749, a monarquia espanhola autorizou e organizou um ataque aos territórios espanhóis que levou ao genocídio de 12 mil ciganos.
Amor proibido
Os ciganos foram proibidos de se casarem por um decreto emitido em 1774 pela Rainha Maria Teresa da Áustria.
Abolição da escravidão
A aprovação da Lei do Comércio de Escravos de 1807 na Grã-Bretanha levou à abolição da escravidão em todo o Império Britânico em 1833. Na Romênia, durante as décadas de 1830 e 1840, uma campanha começou a convencer os ricos proprietários de escravos a libertarem seus servos. Então, em 1855 e 1856, as Assembleias da Moldávia e da Valáquia votaram por unanimidade para abolir a escravidão e a servidão dentro de seus principados.
Na década de 1860, a maioria dos ciganos viajava como nômades livres com suas carroças. Grandes grupos de ciganos mudaram-se para o leste, em direção à Polônia, que era mais tolerante, e à Rússia, onde os ciganos eram tratados com mais justiça, desde que pagassem os impostos anuais. A emigração de ciganos em grande escala para os Estados Unidos também começou durante este período.
Cultura cigana
À medida que os ciganos nômades cruzavam a Europa, eles apresentavam sua cultura única a um público mais amplo. Os que eram especialistas em artes e ofícios encontraram um mercado para seus produtos.
Música e dança
O flamenco está firmemente enraizado na cultura cigana com os primeiros migrantes trazendo para a Espanha instrumentos musicais como violões, pandeiros, sinos e castanholas de madeira, bem como um extenso repertório de canções e danças. Alguns dos artistas de flamenco mais famosos da atualidade são de etnia cigana.
Música
O violão definiu a música cigana: o instrumento conduzia o som do flamenco, e poucas comunidades ciganas estavam sem suas bandas de músicos (foto). No início do século XX, a técnica de tocar flamenco havia sido adotada por nomes como o renomado guitarrista de jazz cigano-francês Django Reinhardt.
O ofício de cigano
O artesanato tradicional cigano sempre esteve enraizado em seus estilos de vida nômades. Tecelagem de cestas, trabalhos elaborados em madeira, metal e couro… Essas habilidades e muito mais eram necessárias para sobreviver a uma vida na estrada, bem como para ter uma fonte de renda.
Segunda Guerra Mundial
Vivendo na periferia da sociedade, as comunidades ciganas sempre sofreram discriminação e perseguição. Suas andanças em grande parte lhes ajudaram a evitar o contato com as autoridades e vizinhos potencialmente hostis. Mas na década de 1930, uma tragédia de proporções imensuráveis estava começando a se desenrolar.
Classificação racial dos ciganos
Em 1936, os nazistas estabeleceram a Unidade de Pesquisa em Higiene Racial e Biologia Demográfica. Liderada por Robert Ritter (na foto, homem à esquerda realizando uma entrevista com uma cigana idosa), o objetivo da unidade era determinar a classificação racial dos ciganos.
‘Inimigos do Estado’
As políticas raciais adotadas pela Alemanha nazista e seus aliados em toda a Europa na segunda metade da década de 1930 levaram o regime a determinar os ciganos como ‘inimigos do Estado baseado na raça’. O povo cigano da Europa (incluindo os Sinti) foi cercado às centenas de milhares. Em maio de 1940, os Sintis no pátio da prisão de Hohenasperg antes da deportação para um campo na Polônia.
Holocausto cigano
O Holocausto Cigano, também conhecido como Porajmos, selou o destino desse povo na Europa. Na foto, prisioneiros ciganos no campo de trabalho Belzec, na Polônia, em 1940. Belzec mais tarde se tornou um dos mais notórios campos de extermínio nazistas.
Prisioneiros
Mulheres ciganas e sintis no campo de concentração de Bergen-Belsen. Os retratados aqui estavam entre os 55 mil presos – muitos sofrendo de tifo e disenteria – que foram encontrados vivos no campo após sua libertação pelas Forças Aliadas em 1945.
Assassinato em massa
Os historiadores estimam que até 1,5 milhão de ciganos e sintis foram mortos pelo regime nazista e seus colaboradores.
Hostilidade renovada
Após a guerra, o povo cigano enfrentou uma nova hostilidade. De acordo com a Amnistia Internacional, os ciganos continuaram a ser discriminados e oprimidos, especialmente na União Soviética. Entre as décadas de 1970 e 1990, a República Tcheca e a Eslováquia esterilizaram cerca de 90 mil mulheres ciganas contra sua vontade.
Bandeira do povo cigano
Em 1971, o primeiro Congresso Mundial Rom revelou a bandeira internacional do povo cigano.
Identidade global
No mesmo Congresso, a canção ‘Gelem, Gelem’ foi adotada como hino dos povos ciganos. E foi afirmado que o uso da palavra ‘Roma’ (em vez de variantes de ‘cigano’) seria o termo global aceito para descrever o povo cigano.
Os ciganos hoje
O sentimento anti-cigano ainda prevalece hoje. Somente na Europa, milhões de ciganos vivem em favelas isoladas, muitas vezes sem eletricidade ou água corrente, e lutam para ter acesso aos cuidados de saúde de que precisam.
Segregação
As crianças ciganas muitas vezes sofrem segregação nas escolas e recebem um padrão mais baixo de educação.
Viajando para o futuro
Várias organizações e entidades como o World Romani Congress, o European Roma Rights Centre e a Gypsy Lore Society, continuam a defender o bem-estar do povo cigano e a promover sua cultura rica e única.
Fontes: (Britannica) (Amnesty International) (Travellers Times) (Smithsonian Magazine) (History Today)