O governo do presidente americano Joe Biden pode ser dividido em duas fases: antes de 7 agosto de 2022, depois de 7 de agosto de 2022. A data marca a maior vitória de Biden desde que se mudou para a Casa Branca, em 20 de janeiro do ano passado, e a concretização de uma de suas mais importantes bandeiras de campanha, a defesa do clima. De acordo com Jaqueline Mendes, da revista IstoÉ não é uma vitória pequena, mas um plano de US$ 430 bilhões, o equivalente a R$ 2,2 trilhões. Isso porque o Senado aprovou o pacote depois de 18 meses de negociações. A meta é reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 40%, até 2030. Com esse dinheiro todo, cada americano terá até US$ 7,5 mil em créditos fiscais para a compra de um carro elétrico e restituição de 30% dos gastos em painéis fotovoltaicos, entre outros incentivos para a descarbonização. “A economia americana está no caminho certo da recuperação, apesar dos desafios globais”, afirmou Biden, em discurso na quarta-feira (10). “O pacote ambiental será um motor na geração de empregos e atração de novos investimentos”, disse o presidente.
A vitória de Biden não chama a atenção apenas pelas cifras, mas pelo ambiente em que passou no Congresso. A votação começou no fim do sábado (6) e foi extremamente apertada, já que o Senado é composto por 50 republicanos e 50 democratas. A maioria para o sinal verde ao pacote foi alcançada no dia seguinte, com o voto de minerva da presidente da Casa, a vice-presidente Kamala Harris. O texto só foi levado à votação no domingo porque dois senadores democratas, Kyrsten Sinema e Joe Manchin, aceitaram acabar com as obstruções e finalmente apoiar o pacote econômico.
Para o economista e cientista político Antonio Senne, a chancela do Senado ao plano ambiental de Biden não representa apenas uma vitória política do presidente ou uma conquista para a maior economia do mundo. Sinaliza também uma motivação adicional para a adoção de outras iniciativas semelhantes mundo afora. “Muitos outros países vão seguir o mesmo caminho, reduzindo a demanda por combustíveis fósseis e combatendo o desmatamento”, disse.
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A aprovação do pacote, que deve virar lei na próxima semana, depois de passar pela Câmara, chega em boa hora para o governo. Em julho, a aprovação do presidente voltou a cair para 36%, segundo pesquisa da Reuters/Ipsos, se igualando ao recorde negativo de maio. O estudo nacional apontou que 59% dos americanos desaprovam o trabalho feito por Biden. Os baixos índices de aprovação se comparam com os de seu antecessor, Donald Trump, cuja popularidade chegou a 33% em dezembro de 2017. Os porcentuais de Biden estão abaixo de 50% desde agosto de 2021 e sugerem que o Partido Democrata pode perder o controle de pelo menos uma das Casas do Congresso nas eleições parlamentares de 8 de novembro.
A popularidade do presidente norte-americano tem apresentado fragilidade principalmente pela alta da inflação, que em junho chegou ao patamar mais alto em 40 anos (9,1%) e mesmo tendo caído para 8,5% em julho continua elevada para padrões americanos. A elevação dos preços está ligada à invasão da Rússia à Ucrânia, que gerou aumento no preço dos combustíveis, mas principalmente à expansão monetária de combate aos efeitos da pandemia de Covid-19.
40% é a redução esperada na emissão de Gases de efeito estufa no pacote de US$ 430 bi aprovado pelo governo de Joe Biden
Agora, o pacote deve ajudar Biden a restaurar sua imagem e se junta a outras recentes notícias positivas. Dias atrás, os EUA anunciaram que concluíram com sucesso uma operação com drones para matar o líder da al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, em Cabul, no Afeganistão. Além disso, o Kansas rejeitou em um referendo emenda à Constituição estadual que proibiria o aborto, no mesmo dia em que o Senado aprovou uma lei para ajudar os veteranos de guerra. E mais: o Congresso aprovou a expansão da Otan para incluir a Suécia e a Finlândia.
Na sexta-feira (5), a taxa de desemprego caiu para 3,5% e igualou seu mínimo no último meio século, com um número recorde de empregos, acima do nível pré-pandemia. Ou seja, o plano de Biden para fazer uma faxina no meio ambiente deverá ajudar o presidente a limpar também sua própria imagem com o eleitorado americano.