Desde que a campanha eleitoral começou, Marina Silva já sabia de acordo com a coluna de Malu Gaspar, do O Globo, que em algum momento acabaria declarando apoio público a Lula. Discutiu essa possibilidade diversas vezes com aliados e auxiliares mais próximos e a considerava inevitável, mas no início da corrida pensava em fazer isso apenas no segundo turno.
Sua relutância e a resistência de correligionários da Rede, como a candidata a deputada federal pelo Rio Heloísa Helena, pesaram na decisão do partido de adotar uma postura independente em relação aos candidatos a presidente.
Só mais recentemente, porém, Marina passou a considerar declarar apoio a Lula já no primeiro turno, mesmo que ele não a chamasse para conversar, como fez no último domingo.
Uma das razões que a levaram a mudar de ideia foi o fato de as pesquisas mostrarem que as chances de um segundo turno aumentaram. Na avaliação do grupo mais próximo de Marina, um segundo turno entre Lula e Bolsonaro será “muito ruim”.
Os recentes episódios em que dois bolsonaristas assassinaram petistas depois de discussões sobre política também assustaram Marina, que passou a achar mais urgente assumir uma posição mais enfática. “As pessoas começaram a matar as outras nas ruas”, ela me disse ontem, por telefone, ao refletir sobre as razões para o apoio.
Aos emissários de Lula, porém, ela deixou claras suas condições: teria que ser uma conversa institucional e em torno de um programa. Ela queria evitar que a conversa tivesse qualquer tom pessoal e passasse pelas cicatrizes deixadas pela campanha de 2014, quando o PT empreendeu uma campanha de difamação contra ela baseada em fake News.
Lula já sabia das exigências de Marina ao convidá-la para uma reunião na sede do comitê de campanha e não para um jantar em sua casa, por exemplo.
Marina já chegou ao encontro com uma lista de pontos. Ao final, pediu que os petistas analisassem a proposta antes que ela anunciasse seu apoio. Ficou combinado apenas que Lula anunciaria nas redes sociais que estavam conversando.
Nesta segunda, quando se encontraram novamente, o coordenador do programa, Aloizio Mercadante, já tinha em mãos a lista de pontos. Concordou em quase todos, à exceção dos que já estavam no programa do PT.
Para Marina, o mais importante era garantir que todas as políticas públicas tenham como base as metas de sustentabilidade. “Foi o que ela tentou quando ministra e o Lula não bancou, ficou do lado da Dilma”, conta um aliado.
Perguntei a Marina o que a fazia acreditar que agora a promessa seria cumprida. “Foi um compromisso público, assumido na frente de todo mundo”, ela respondeu.