Um iceberg gigante de cerca de 1.270 km² (a cidade do Rio de Janeiro tem 1.255 km²) quebrou e se desprendeu da Antártida, gerando euforia na comunidade científica.
Na sexta-feira (26/2), instrumentos na superfície da plataforma de gelo Brunt confirmaram o rompimento.
Esta não é a primeira vez, nem será a última: icebergs periodicamente se desprendem de plataformas de gelo. O último grande pedaço a quebrar na região antártica de Brunt foi no início dos anos 1970.
Além de raro, o fenômeno é descrito por cientistas como “espetacular” porque ocorre naturalmente e não tem relação com mudanças climáticas – estas, sim, uma preocupação global.
Descolamentos como este, ao contrário, indicam uma reorganização da natureza em busca de equilíbrio em áreas geladas e ajudam a ciência a entender o funcionamento de grandes plataformas de gelo.
Segurança
Não muito longe dali fica a estação Halley, da British Antarctic Survey (BAS), uma instituição do Reino Unido dedicada à pesquisa na região.
A BAS tem um conjunto de aparelhos de GPS na plataforma Brunt que transmite informações sobre a movimentação do gelo para a sede da agência em Cambridge, Inglaterra.
Desde 2017, a estação opera com capacidade reduzida devido ao risco iminente de um desprendimento como esse.
Não havia ninguém na base e não há vidas em risco na área.
Especialistas agora devem analisar imagens de satélite para assistirem ao desprendimento com mais detalhes — por exemplo, verificando se há instabilidades perto da estação Halley.
“Embora a ruptura de grandes pedaços de gelo na Antártica seja completamente normal, rompimentos como o detectado na plataforma Brunt na sexta-feira ainda são bastante raros e emocionantes”, disse o professor Adrian Luckman, da Universidade de Swansea, no País de Gales.
O cientista tem acompanhado imagens de satélite de Brunt nas últimas semanas e previu o rompimento.
“Com três longas fissuras que se desenvolveram ativamente no sistema da plataforma Brunt nos últimos cinco anos, todos prevíamos que algo espetacular iria acontecer”, disse Luckman à BBC.
“O tempo dirá se esse descolamento fará com que mais blocos se quebrem nos próximos dias e semanas. Na Universidade de Swansea, estudamos o desenvolvimento de rachaduras na plataforma de gelo e por quealgumas levam a grandes rompimentos, enquanto outras não”, diz o cientista.
“Os motivos para isso podem explicar a existência de grandes plataformas de gelo”, ele completa.
O novo iceberg, com seus 1.270 km², é grande, mas menor que o iceberg A68, que se desprendeu em julho de 2017 na plataforma de gelo Larsen C.
Mesmo com um quarto do tamanho do A68, esta parte do Brunt precisa ser rastreada pelo risco que pode representar para a navegação no futuro.
O Centro Nacional de Gelo dos Estados Unidos vai batizar o novo iceberg depois de algum tempo.
Por estar no mesmo quadrante Antártico (0-90W) em que o A68 se originou, ele também terá a letra “A” em seu nome — provavelmente se chamará A74.
Mudanças climáticas?
O desprendimento de icebergs de uma plataforma de gelo é um acontecimento muito natural, portanto não é atribuído às mudanças climáticas.
A plataforma “busca” manter seu equilíbrio — e rompimento de icebergs é uma forma de balancear a massa acumulada de neve e a entrada de gelo a partir de glaciares por terra.
Diferente do que acontece em outras áreas geladas, os cientistas não detectaram região de Brunt mudanças climáticas que alterariam significativamente o processo natural descrito acima.
Além disso, estimativas sugerem que o Brunt chegou à sua maior extensão no último século, o que favorece grandes descolamentos como este.