O Ministério Público da Bolívia confirmou nesta quarta-feira (28/12) a prisão do político de direita Luis Fernando Camacho, governador do departamento de Santa Cruz, o mais rico do país, desde 2021 e forte opositor do atual presidente, Luis Arce.
Camacho foi transferido para a capital do país, La Paz, após sua prisão em Santa Cruz de la Sierra.
O governador está sendo investigado por seu suposto envolvimento em uma suposta conspiração durante os protestos de 2019 que forçaram o então presidente Evo Morales a renunciar.
Morales disse no Twitter que, depois de três anos, Camacho finalmente “responderá pelo golpe que levou a roubos, perseguições, prisões e massacres do governo de fato”.
O ex-presidente é considerado um mentor do atual presidente Arce, ambos pertencem ao partido de esquerda MAS, enquanto Camacho lidera a aliança de oposição de direita Creemos.
A equipe do governador Camacho divulgou um comunicado dizendo que as redes sociais serão usadas para fornecer “informações oficiais” e passou a usar a hashtag #liberenaCamacho.
A imprensa local noticiou protestos em Santa Cruz pela prisão de Camacho, que geraram confrontos entre a polícia e os manifestantes.
Os apoiadores de Camacho descreveram a prisão como um sequestro; enquanto isso, o procurador-geral boliviano afirmou que o detido sabia das acusações contra ele há várias semanas, segundo informações da imprensa local.
O Departamento de Santa Cruz, onde fica a cidade de Santa Cruz de la Sierra, a maior e populosa da Bolívia, é o motor econômico do país. Em 2020, respondeu por cerca de 30% do PIB boliviano (Produto Interno Bruto, ou soma de bens e serviços produzidos no país).
O que aconteceu em 2019?
Em novembro daquele ano, o então presidente Evo Morales passou de se declarar vencedor das eleições a denunciar um golpe e renunciar à presidência boliviana em menos de três semanas.
O país enfrentava uma profunda crise política que teve seu estopim em 20 de outubro nas eleições presidenciais, nas quais Morales esperava ser reeleito pela terceira vez.
Naquela noite, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) suspendeu inesperadamente a contagem rápida com 83% apurados e com tendência que apontava para um segundo turno entre o ex-presidente boliviano e o candidato da oposição, Carlos Mesa.
No dia seguinte, a apuração, chamada de Transmissão Rápida de Resultados Preliminares (TREP), foi reativada com 95% das urnas apuradas e com Morales vencendo no primeiro turno por estreita margem.
As suspeitas levantadas pelas estranhas movimentações do TSE levaram a oposição a alegar “fraude flagrante”.
Até as missões de observação da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União Europeia pediram por um segundo turno.
Mas Morales insistiu que havia vencido a eleição e, em resposta aos protestos da oposição, convocou seus partidários a “defender a democracia” nas ruas e impedir um “golpe”.
Claro, ele também aceitou que a OEA auditasse o escrutínio.
A OEA determinou que era estatisticamente improvável que Morales tivesse vencido pela margem de 10% necessária para evitar um segundo turno nas eleições.
A organização também garantiu que encontrou registros físicos com alterações e assinaturas falsificadas. Em um relatório de 13 páginas, a OEA apontou que em muitos casos a cadeia de custódia dos registros não foi respeitada e que houve manipulação de dados.
Morales respondeu com uma declaração à imprensa na qual, sem mencionar a OEA e sem indicar a data, convocou novas eleições.
Mas poucas horas depois, e com a pressão das Forças Armadas contra ele, renunciou e deixou o país.
Jeanine Áñez, advogada e militante do então partido de oposição Plan Progreso para Bolivia Convergencia Nacional, assumiu a presidência interina.
Um ano depois, eleições foram convocadas e o atual presidente, Luis Arce, eleito.
Em junho deste ano, Áñez foi condenada a 10 anos de prisão após ser considerada culpada pelos crimes de “descumprimento de deveres” e “resoluções contrárias à Constituição”.