O brasileiro Danilo Cavalcante, de 34 anos, condenado à prisão perpétua pelo assassinato da ex-namorada na frente dos filhos dela, está foragido há 13 dias nos Estados Unidos.
Ele escapou de uma prisão no Estado americano da Pensilvânia na manhã do dia 31 de agosto ao escalar paredes como “um caranguejo”, segundo autoridades (ver vídeo abaixo).
Sua fuga viralizou nas redes sociais e virou notícia ao redor do mundo.
Desde então, uma grande operação envolvendo 400 agentes das esferas municipal, estadual e federal, além de helicópteros e drones, está em curso para capturá-lo, ainda sem sucesso.
Mas Cavalcante já foi flagrado diversas vezes depois de escapar da prisão, por testemunhas e câmeras de vigilância.
Por que, então, o brasileiro ainda não foi capturado?
Essa foi a principal pergunta feita por jornalistas em entrevista coletiva realizada na segunda-feira (11/9).
Segundo as autoridades, isso se deve a uma combinação de fatores, principalmente a complexidade do terreno.
Autoridades estaduais e federais dos EUA insistem que o perímetro ao redor da área onde centenas de agentes buscavam Cavalcante inclui matas densas, túneis subterrâneos e valas de drenagem.
Também afirmam que demorou mais de duas horas para serem informados de que ele havia sido localizado fora do perímetro pela primeira vez.
Na entrevista a repórteres, o tenente-coronel George Bivens, da polícia estadual da Pensilvânia, negou a acusação de que não tem mobilizado agentes suficientes e disse estar esperançoso na captura de Cavalcante.
“Em termos de número de pessoas, você ficaria satisfeito se eu colocasse mil (agentes) na rua? Ficaria satisfeito se eu mobilizasse 2.000, 3.000 ou 10.000? Suspeito que aqueles que criticam sem a experiência e o conhecimento dos detalhes e da investigação não ficariam satisfeitos, independentemente do que fizéssemos”, disse Bivens, acrescentando que “se precisássemos de 1.000 pessoas, faríamos isso”.
Para Robert Clark, supervisor da força-tarefa de foragidos dos US Marshals, órgão ligado ao Departamento de Justiça dos EUA, as forças de segurança contam agora com uma vantagem, pois o brasileiro está aparentemente em um ambiente menos rural no subúrbio da Filadélfia, que faz fronteira com a Pensilvânia.
“Agora vamos nos preparar para o longo prazo, e o longo prazo é o que fazemos de melhor”, disse Clark.
Nesta segunda-feira (11/9), aumentou em US$ 5 mil (R$ 25 mil), para US$ 25 mil (R$ 123 mil), a recompensa por informações que levem à captura de Cavalcante.
Inicialmente, esse valor era de US$ 10 mil e já tinha sido elevado para US$ 20 mil e agora está em quase US$ 30 mil.
Em entrevista à agência de notícias AP, Craig Caine, inspetor aposentado do US Marshalls, que trabalhou na Força-Tarefa Regional de Foragidos de Nova York/Nova Jersey, disse que sempre há uma maneira de escapar de um perímetro.
Terrenos arborizados são particularmente difíceis de monitorar, especialmente quando alguém tão baixo quanto Cavalcante — ele tem 1,52 m — pode facilmente se camuflar ou subir em uma árvore, explicou Caine, que não está envolvido nos esforços de busca.
Na opinião do especialista, mesmo que Cavalcante tenha escapado do cerco policial, isso não necessariamente significa que ele não será capturado.
“Eles (autoridades) definitivamente têm um trabalho difícil agora que ele violou o perímetro e eles não têm uma área definida para fazer buscas”, disse Caines.
“Esse cara não tem nada a perder. Mas os policiais só precisam ter sorte uma vez. Esse cara tem que ter sorte todos os dias.”
Segundo Caine, operações como esta podem ser longas. As buscas por prisioneiros fugitivos costumam durar quatro ou cinco semanas, ou até anos, acrescentou ele.
Para Bryce Peterson, que estuda punições, incluindo fugas, para o Centro de Pesquisa e Inovação em Justiça do Center for Naval Analyses, think tank sediado nos Estados Unidos, é raro um foragido cometer um ato de violência.
Na maioria das vezes, isso ocorre durante a fuga, acrescentou ele, também em entrevista à AP.
“As pessoas que cumprem penas mais longas têm mais motivação para não voltarem à prisão, e essas são as situações mais voláteis”, disse.
Segundo Bivens, a polícia estadual está autorizada a usar força letal se Cavalcante não se render voluntariamente.
Outros agentes envolvidos na operação podem ter suas próprias regras, completou ele.
No X, anteriormente conhecido como Twitter, a polícia informou que Cavalcante está armado. Também recomendou a moradores que “tranquem portas e janelas” e não saiam de casa.
“A PSP (Polícia do Estado da Pensilvânia) persegue Danilo Cavalcante na zona de Ridge Rd/Coventryville Rd/Daisy Point Rd em South Coventry Township, no Condado de Chester. Os moradores da área são solicitados a trancar todas as portas e janelas, proteger os veículos e permanecer em casa. Não se aproxime [do foragido]. Ligue para o 911 (número de emergência) se ele for avistado”, postou a polícia nesta terça-feira (12/9).
Questionado por jornalistas sobre como Cavalcante rompeu o perímetro, Bivens, da polícia estadual da Pensilvânia, não quis responder, mas disse que nenhum perímetro é completamente seguro.
Segundo ele, o brasileiro está desesperado porque busca ajuda de pessoas com quem não fala há anos.
“O fato de ele ter entrado em contato com pessoas com conexões passadas muito distantes me diz que ele não tem uma grande rede de apoio”, disse Bivens.
“Então acho que ele está desesperado e eu o descrevi assim o tempo todo. E penso que quanto mais o pressionarmos, mais recursos, mais ferramentas usaremos, acabaremos por capturá-lo. Ele não tem o que precisa para durar muito tempo”, acrescentou.
Assassinato da ex-namorada e fuga da prisão
Cavalcante fugiu da prisão do condado de Chester enquanto aguardava transferência para outra penitenciária.
Ele foi condenado à prisão perpétua por matar sua ex-namorada, Débora Brandão, em 2021, na frente dos filhos dela, com 38 facadas.
Cavalcante também é procurado por assassinato no Brasil ocorrido em Tocantins em 2017.
Ele é réu no caso do homicídio em que Valter Júnior Moreira dos Reis foi morto a tiros em uma praça em Figueirópolis.
O motivo para o crime teria sido uma briga relacionada ao conserto de um carro.
Para escapar da prisão nos EUA, o brasileiro escalou paredes do pátio de recreação, subiu no arame farpado, correu por um telhado e pulou no chão.
Sua fuga passou despercebida por mais de uma hora, até que os carcereiros fizeram uma contagem de presos.
O guarda da torre de plantão foi demitido, disseram as autoridades.
Cavalcante é descrito como “extremamente perigoso” pelas autoridades.
Roubo de van e mudança de aparência
No fim de semana, as autoridades americanas disseram que Cavalcante roubou uma van e a usou para escapar do perímetro policial.
Ele dirigiu até as casas de duas pessoas diferentes descritas como seus ex-colegas de trabalho em bairros próximos.
O tenente-coronel Bivens alertou que qualquer pessoa que pudesse ter “oferecido assistência ou que esteja pensando em ajudar Cavalcante de alguma forma” será punida pela Justiça “totalmente por essas ações.”
“Se você decidir nos ajudar, poderá ter direito a parte ou a totalidade da recompensa que foi oferecida pela captura de Cavalcante”, acrescentou Bivens.
Segundo ele, os policiais descobriram o carro roubado por Cavalcante abandonado, com as chaves dentro do veículo.
Por volta das 21h de sábado (22h de Brasília), o brasileiro tentou entrar em contato com um antigo colega de trabalho e pediu para se encontrar com ele, mas a pessoa não respondeu, disse Bivens.
O vídeo, feito pela câmera da campainha mostra um homem que se acredita ser Cavalcante, mas sem barba e bigode, levando a polícia a informar posteriormente que o brasileiro havia mudado a aparência.
Cerca de uma hora depois, Cavalcante compareceu à residência de uma segunda ex-colega de trabalho, que ligou para uma amiga e notificou a polícia estadual sobre a visita inesperada.
Autoridades detiveram a irmã de Cavalcante no domingo.
Depois de se recusar a ajudar na busca policial, Bivens disse que ela foi detida por ultrapassar o prazo de validade do visto.
“Ela enfrenta um processo de deportação”, disse ele.