As investigações sobre os ataques de 8 de janeiro vêm expondo, segundo informou Rodrigo Rangel, do portal Metrópoles, mais uma vez, o amadorismo de alas relevantes da Abin, a Agência Brasileira de Inteligência.
Há fartas evidências de acordo com o colunista, de que a cúpula do serviço secreto brasileiro tinha indicações do que estava por vir e pouco fez para evitar que hordas extremistas invadissem as sedes dos três poderes da República.
Muito disso está explícito em trocas de mensagens mantidas entre a direção da Abin e o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, o GSI, ao qual a agência estava vinculada até o início do atual governo.
Depoimentos prestados, por exemplo, à CPI mista aberta no Congresso para apurar os ataques já trouxeram detalhes dessas comunicações. Parte delas, às vésperas das invasões, se deu entre o então chefe da Abin, Saulo Moura da Cunha, e ninguém menos que o ministro do GSI à época, o agora notório general da reserva Gonçalves Dias.
O mais curioso é que as trocas de mensagens, com informações coletadas em campo pelos agentes da Abin, ocorreram por meio de… WhatsApp. Sim, parece piada, mas o serviço secreto brasileiro tem por hábito usar o WhatsApp mesmo quando estão trocando informações sensíveis relativas ao trabalho que desempenham.
Aplicativo blindado
É mais um sintoma da atuação precária da agência, que, em tamanho e em resultados, nem de perto se iguala às suas congêneres de países com a mesma estatura do Brasil.
A opção pelo WhatsApp é especialmente ilustrativa do amadorismo reinante porque a Abin tem, já faz algum tempo, um sistema próprio de mensagens feito para rodar em seus telefones funcionais — teoricamente, à prova de interceptação — que deveria ser utilizado nessas situações, mas é solenemente ignorado, diz a publicação do Metrópoles.
Batizado de Athena, o aplicativo foi desenvolvido internamente e, para além do emprego no trabalho dos agentes em atuação aqui no país ou mesmo no exterior, deveria ser usado, também, pelo presidente da República e por ministros do governo em situações nas quais é preciso se comunicar por um meio seguro.
Não é um sistema tão amigável e funcional quanto o WhatsApp e só funciona em telefones celulares com sistema operacional Android, mas tem a vantagem de ser protegido por uma criptografia da própria Abin, o que garante a proteção e, teoricamente, até o controle do fluxo das informações que por ali transitam.
Acontece que, na prática, o aplicativo não costuma ser utilizado sistematicamente, embora de tempos em tempos haja orientação interna nesse sentido.
Procurada, a Abin preferiu não responder as perguntas da coluna de Rodrigo Rangel sobre o assunto.