Há pouco tempo, Marisha Wallace finalmente teve segundo o jornal NYT, que admitir que os cinco dias que tiraria de férias para esquiar na Suíça em meados de dezembro teriam de ser cancelados, pois com a decisão repentina do governo suíço de impor uma quarentena de dez dias a alguns viajantes internacionais, não poderia deixar o hotel ou voltar para Londres no voo programado. “A situação agora é essa. Não dá para planejar mais nada”, disse a atriz e cantora.
Essa situação provisória, que se repete no mundo todo, deixa a economia ainda frágil em estado de suspense em um momento em que aumentam os casos de infecções e a nova variante ômicron se espalha pelo mundo. “Não há como saber o quanto vai piorar”, afirmou Ángel Talavera, chefe de economia europeia da Oxford Economics.
A empresa de projeções esboçou três cenários possíveis, incluindo um que não prevê efeito perceptível sobre o crescimento econômico, e outro severo o suficiente para afetar significativamente o ano que vem. Levará várias semanas até que haja mais clareza.
A atual leva de restrições já reduziu as viagens e diminuiu a confiança dos consumidores. Uma variante resistente a vacinas poderia levar a economia a uma queda acentuada novamente, enquanto que uma leve não sobrecarregaria os sistemas de saúde, permitindo que a recuperação prosseguisse normalmente.
Um relatório divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostrou que, embora o crescimento tenha sido desigual, a economia mundial este ano se recuperou mais rápido e com mais robustez do que havia sido previsto. O estudo, compilado em grande parte antes das últimas notícias do coronavírus, no entanto, alertou que a expansão poderia desacelerar: 4,3 por cento no próximo ano na zona do euro, em relação a 5,2 por cento em 2021; 3,7 por cento em 2022, comparados aos 5,6 por cento deste anos nos Estados Unidos.
A organização caracterizou sua perspectiva como “cautelosamente otimista”, mas reiterou que o futuro econômico está indissociavelmente ligado ao coronavírus: “A prioridade da política econômica é vacinar as pessoas”, concluiu o relatório.
De fato, a ameaça da ômicron à recuperação é apenas a mais recente de uma série de altos e baixos que a economia mundial enfrenta desde que o coronavírus começou sua marcha pelo mundo, no ano passado – e frustrou repetidas vezes as esperanças de que um arrefecimento da pandemia permitisse que a vida e o comércio voltassem ao normal.
Mesmo antes dessa última variante ser descoberta, uma quarta onda de infecções tinha transformado a Europa em foco da Covid-19 e provocara novas restrições, como lockdowns nos Países Baixos e na Áustria.
Durante os surtos anteriores, os trilhões da assistência governamental ajudaram a ressuscitar rapidamente a economia dos EUA e da Europa, mas também geraram alguns efeitos colaterais inesperados: combinado à demanda reprimida, esse auxílio ajudou a produzir uma escassez de mão de obra e de matéria-prima, além do aumento da inflação.
Dada a dívida acumulada no último ano e meio, é improvável que ele se repita, mesmo com uma forte recessão. As vacinas fornecem alguma proteção, e muita gente diz que não está disposta a voltar ao confinamento.
Tanto as pessoas como as empresas estão no modo “esperar para ver”. “Muitas coisas parecem estar em suspenso, como o mercado de trabalho ou as decisões gerais de consumo”, garantiu Nick Bunker, diretor de pesquisa econômica do site de empregos Indeed.
Nos últimos dias, os governos reagiram com uma mistura confusa de avisos severos, proibições de viagens, obrigatoriedade do uso de máscaras e regras de realização de exames que ofuscam ainda mais as perspectivas econômicas. Essa resposta irregular, combinada com a tolerância variada das pessoas ao risco, significa que pelo menos em curto prazo as últimas novidades do vírus terão um efeito muito diferente, dependendo de onde estiver e do que faz.
Na França, a abertura do Luna Park, parque de diversões que funciona durante um mês na cidade de Nice, no sul do país, que deveria ocorrer no primeiro fim de semana em dezembro, foi cancelada depois que o governo subitamente requisitou o enorme galpão onde as montanhas-russas, galerias de tiro e carrossel estavam sendo montados para converter o espaço em um centro de vacinação de emergência. “Hoje me vejo tentando salvar minha empresa, e não tenho certeza se vou conseguir”, disse Serge Paillon, o dono. Ele teme enfrentar enormes prejuízos, incluindo os 500 mil euros que já havia investido no evento, além do reembolso dos ingressos que estavam sendo vendidos há vários meses.
Paillon dispensou 20 funcionários, além dos 200 trabalhadores que viriam de todo o país para gerenciar os 60 jogos e passeios e que foram orientados a ficar em casa. “Durante um ano e meio, já foi um desastre, e agora está começando tudo de novo”, lamentou ele.
A decisão de Israel de fechar suas fronteiras para todos os turistas estrangeiros por duas semanas provavelmente reduzirá o número de turistas no território nacional e nos territórios ocupados este mês em até 40 mil pessoas, ou quase 60 por cento do esperado, de acordo com uma estimativa do governo.
O turismo internacional, que gerou o número recorde de 4,55 milhões de visitantes para o país em 2019, já havia quase desaparecido. Isso por que entre março de 2020 e setembro de 2021, os estrangeiros não residentes estavam impedidos de entrar em Israel – e, por extensão, nos territórios ocupados, onde a entrada e a saída são controladas por israelenses. Consequentemente, em Belém, onde o turismo é a principal indústria, a renda caiu mais de 50 por cento, como informou o prefeito Anton Salman.
A relutância em viajar, porém, pode significar um crescimento em outros setores, caso a nova variante não seja tão prejudicial quanto se teme. Jessica Moulton, sócia da McKinsey & Co. em Londres, disse que padrões de gastos anteriores durante a pandemia mostraram que o dinheiro que as pessoas usariam para viajar seria gasto em restaurantes.
Ela estimou que os cerca de US$ 40 bilhões que os consumidores britânicos economizaram em viagens no último verão foram usados para fazer compras e jantar fora. “Agora que a ômicron pôs um novo freio as viagens, o que vai acontecer é que, à medida que nos aproximamos do Natal, os restaurantes vão se beneficiar”.
Na Suíça, onde turistas do Reino Unido e de outros 22 países devem agora passar por uma quarentena, o efeito da mudança de política para os hotéis foi imediato. “A maioria dos viajantes da Inglaterra – entre 80 por cento e 90 por cento – já cancelou”, disse Andreas Züllig, chefe da HotellerieSuisse, associação hoteleira suíça.
Wallace, que cancelou sua viagem ao Hotel Cambrian em Adelboden, foi uma das várias pessoas que alteraram a reserva depois que o governo suíço fez o anúncio, apenas uma semana antes das pistas de esqui abrirem. “O impacto em nossos negócios de inverno e Natal, cruciais, é obvio. Calculamos que 20 por cento das reservas de dezembro estejam em risco. Por enquanto, porém, a maioria dos hóspedes está esperando para ver o que vai acontecer, e nós, alterando as reservas de garantidas para provisórias”, disse Anke Lock, gerente do Cambrian.
A incerteza extrema em relação à economia talvez seja a única certeza.