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terça-feira 14 de novembro de 2023 às 15:47h

Por que a UE não chega a consenso sobre cessar-fogo em Gaza

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Ministros do Exterior do bloco concordam em vários temas críticos do conflito entre Israel e Hamas. Mas alguns pontos, como um cessar-fogo, continuam controversos.As divisões eram bem claras entre os 27 ministros do Exterior da União Europeia reunidos em Bruxelas nesta segunda-feira (13/11), enquanto buscavam uma posição comum sobre a intensificação das operações militares de Israel em Gaza após os ataques do Hamas de 7 de outubro.

A UE, que tem tentado falar a uma só voz sobre a questão politicamente divisiva entre Israel e palestinos, emitiu uma nova declaração conjunta no domingo à noite.

Nela, os Estados membros apelam a “pausas imediatas nas hostilidades e ao estabelecimento de corredores humanitários” e pedem também a libertação dos reféns. Mas também voltam a enfatizar o “direito de Israel de se defender em conformidade com o direito internacional e o direito humanitário internacional”.

O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, disse que o apelo a pausas nos combates foi concebido para permitir a entrada em Gaza da tão necessária ajuda para a população local.

Isso ocorre num momento em que o ministério da Saúde do governo do Hamas em Gaza afirma que mais de 11 mil pessoas foram mortas em meio à operação militar de Israel que se seguiu aos ataques de 7 de outubro e enquanto ONGs alertam para a deterioração das condições nos hospitais em Gaza.

“Menos de 10% do que é necessário está entrando”, disse Borrell.

​Mas a declaração de domingo também condenou o Hamas, que a UE classifica como organização terrorista, pela “utilização de hospitais e de civis como escudos humanos”. Israel acusa o grupo radical islâmico de se inserir na infraestrutura civil de Gaza em busca proteção. Vários ministros da UE, incluindo Jan Lipavsky, da República Tcheca, reiteraram essa acusação em Bruxelas na segunda-feira.

A questão do cessar-fogo

A nova declaração conjunta da UE ocorreu depois de o presidente francês, Emmanuel Macron, ter adicionado na sexta-feira a França à pequena lista de países da UE – Espanha, Bélgica e Irlanda – que apelam por um cessar-fogo total, provocando duras repreensões de Israel.

Outras nações europeias, como a Alemanha, que tem apoiado Israel desde os ataques do Hamas em 7 de outubro, se recusam a apoiar um cessar-fogo, argumentando que este poderia beneficiar o Hamas e minar o direito de Israel de se defender.

Na segunda-feira, a ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, disse aos jornalistas que compreende “totalmente” o impulso de apelar por um cessar-fogo “nesta situação terrível em que crianças, pessoas, mulheres, mães e famílias inocentes não só estão sofrendo tão terrivelmente, mas estão morrendo”.

Mas Baerbock argumentou, após visitar a região no fim de semana, que tais exigências deixam questões essenciais sem resposta.

“Como pode o pedido por um cessar-fogo agudo e imediato, nesta situação terrível, garantir que a segurança de Israel esteja garantida?”, ela perguntou, questionando também o que aconteceria com os reféns feitos pelo Hamas.

Como a posição da UE pode mudar

“A posição oficial da UE não mudou muito nas últimas semanas”, disse à DW Hugh Lovatt, do think tank Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR, na sigla em inglês). “No entanto, a mudança de tom de Macron pode ser crucial”, argumentou.

“Suspeito que o posicionamento francês provavelmente fará com que alguns outros Estados membros avancem em direção a um cessar-fogo. Mas nunca convencerá os alemães. Não convencerá os húngaros ou os austríacos”, disse ele, referindo-se a alguns dos países europeus mais próximos de Israel no conflito atual.

Embora seja improvável que isso mude a posição oficial da UE, ele disse que os sinais vindos da Europa foram, no entanto, ouvidos em Israel e no seu principal aliado, os Estados Unidos. “Israel está muito consciente de que provavelmente tem um período para as suas operações”, disse Lovatt.

Em algum momento, as discussões terão de mudar para um cessar-fogo, pondera Lovatt. Embora Israel tenha o direito de se defender e responder aos ataques do Hamas, ele disse que, em última análise, “não há solução militar em Gaza”.

“Israel pode obter alguns ganhos táticos matando membros do Hamas, destruindo túneis, mas militarmente, não vai eliminar a ameaça do Hamas”, disse o analista do ECFR.

“A questão é quantos milhares de civis palestinos ainda precisam morrer antes que os governos ocidentais tomem essa decisão”, ressalta Lovatt.

Foco na solução de dois Estados

Na entrevista que se seguiu à reunião de segunda-feira, Borrell disse ter proposto aos ministros uma abordagem focando além das atuais hostilidades, apelando à UE para se envolver mais na construção de um Estado palestino.

“Temos estado muito ausentes. Delegamos a solução deste problema aos Estados Unidos”, lamentou.

Borrell disse que não deveria haver deslocamento forçado do povo palestino para fora de Gaza, nenhuma redução do território de Gaza ou reocupação permanente por Israel, mas igualmente disse que o Hamas não poderia ser autorizado a retornar.

“Se não encontrarmos uma solução, viveremos um ciclo perpétuo de violência de geração em geração e de funeral em funeral”, alertou.

“Precisamos nos concentrar numa solução de médio e longo prazo, num cenário pós-conflito que possa garantir a estabilidade numa base contínua, que tornará possível construir a paz entre palestinos e israelenses e em toda a região”, apelou Borrell.

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