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Por que a França pode enfrentar uma gigantesca greve geral depois da paralisação das refinarias© AFP - STEPHANE DE SAKUTIN
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sábado 15 de outubro de 2022 às 11:14h

Por que a França pode enfrentar uma gigantesca greve geral depois da paralisação das refinarias

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A resposta do governo francês esta semana a uma greve nas refinarias levou a uma convocação para uma greve geral na França, onde o presidente de centro-direita, Emmanuel Macron, enfrenta segundo a AFP, o risco de agitação social em um clima cada vez mais tenso. Muito além da crise energética, uma convergência de lutas reúne organizações da sociedade civil e sindicatos, combates que vão desde a reforma da aposentadoria e aumentos salariais.

“Não é só na Esso e na TotalEnergies que há problemas salariais. É um problema geral”, advertiu o secretário-geral do sindicato CGT, Philippe Martinez, na rádio Franceinfo na sexta-feira (14), defendendo a convocação de uma greve interprofissional na terça-feira (18).

O contexto atual traz um cenário complexo: quando a França começou a virar a página dos efeitos da pandemia na economia e na saúde pública, a Rússia lançou uma ofensiva contra a Ucrânia que, juntamente com a resposta de Moscou às sanções ocidentais, fez disparar os preços da energia e dos alimentos para residências e empresas.

Endurecido pelo protesto social dos coletes amarelos, que abalou o primeiro mandato de Macron e cujo gatilho, em 2018, foi o aumento dos preços dos combustíveis, o governo rapidamente adotou medidas para limitar o aumento dos preços da energia.

Assim, a inflação na França era de 6,2% em setembro, mais de três pontos abaixo do que nas outras grandes economias da União Européia (UE): Alemanha (10,9%), Itália (9,5%) e Espanha (9,3%), de acordo com o escritório europeu de estatísticas Eurostat.

Mas o sentimento de perda do poder de compra – a primeira preocupação dos franceses nas eleições presidenciais em abril e nas eleições legislativas em junho – se instalou na França, onde a principal demanda sindical é o aumento dos salários.

“São greves ofensivas e não mais defensivas”. Pela primeira vez em muito tempo, estamos realmente falando de um aumento salarial”, explicou Sylvain Boulouque, historiador especializado em movimentos sociais, ao canal Público Sénat.

Por “ofensiva”, o especialista quer sinalizar que as greves visam uma melhor distribuição do valor produzido pelas empresas, e não se limitam a denunciar, por exemplo, as demissões. A greve nas refinarias da TotalEnergies é paradigmática neste sentido.

“Um erro”

O gigante francês dos hidrocarbonetos obteve mais de US$ 10 bilhões em lucros extraordinários no primeiro semestre de 2022. Seus funcionários estão exigindo um aumento salarial de 10% e que os únicos beneficiários não sejam apenas os acionistas.

Cinqüenta e quatro por cento dos franceses consideram legítima sua demanda, mas dois terços apóiam a requisição de pessoal pelo governo para conter a escassez de combustível que afetou quase um terço dos postos de gasolina, de acordo com uma pesquisa da Odoxa. “Entendo o direito à greve, acho que foram feitos esforços, mas a França está num impasse. A situação está ficando tensa”, disse Jean-Marc Zéni, um agente imobiliário, em uma das muitas filas de espera em frente aos postos de gasolina em Paris.

Embora ele tenha inicialmente defendido o diálogo social, imagens de motoristas desesperados e críticas à inação da oposição da direita e da extrema-direita forçaram Macron a intervir e se defender.

“Há sempre uma tendência de passar a batata quente para o governo. [Mas] não podemos substituir todos”, disse Macron na noite de quarta-feira, em uma entrevista para o canal de TV France 2, assegurando que na próxima semana “tudo voltaria ao normal”.

Mas os observadores acreditam que já seria tarde demais. De acordo com um editorial do diário liberal L’Opinion, durante dez dias Macron teria deixado ventilar a ideia de que “o poder executivo estava desinteressado em uma questão vital para os franceses”, “isso é um erro”.

“Evitar acusações de autoritarismo”

A situação também deu argumentos para a oposição de esquerda em sua luta por um imposto nacional sobre “superlucros”. Esta será uma das exigências, juntamente com os aumentos salariais, da marcha “contra a vida cara” que eles convocam para este domingo (16), em Paris.

Assim, a perspectiva de um outono agitado preocupa o partido governista, especialmente porque o governo poderia usar um sistema controverso para aprovar o orçamento para 2023 e sua controvertida reforma previdenciária sem submetê-los à votação na Assembleia, onde falta uma maioria absoluta desde junho.

A primeira tentativa em 2019 e 2020 de adiar a idade da aposentadoria de 62 para 65 anos encontrou a oposição dos sindicatos e provocou protestos em massa. Macron já advertiu, através do ministro do Trabalho, que se a Assembleia não a aprovar, ele poderá dissolver o Parlamento.

Mas “a crise de combustível está nos forçando a adotar uma atitude política muito mais contida” e “evitar acusações de autoritarismo”, de acordo com um funcionário do governo. Uma fonte interna teme que a “agitação” possa se cristalizar “em um movimento social”.

Para Guy Groux, um especialista do centro de pesquisa política Cevipof da Sciences Po, na França, isso tem sido um “foco de atenção” por vários anos, mas não se traduzirá em um grande movimento social, mas sim em “muitas explosões esporádicas”.

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