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domingo 16 de junho de 2024 às 17:52h

Por que a Europa patina em ter uma rede comum de energia verde

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Uma rede conjunta para energias renováveis ​​ajudaria o continente a atingir seus objetivos climáticos. Mas o dinheiro para construir uma e o espírito de cooperação são escassos na União Europeia. Ainda não está claro como os resultados das eleições para o Parlamento Europeu– que viu um crescimento da extrema direita– influenciarão as políticas da próxima Comissão Europeia, órgão executivo do bloco europeu que reúne 27 Estados-membros. Entre outras questões importantes, esta incerteza paira sobre os planos da União Europeia para atingir a neutralidade climática até 2050.

Mas uma coisa é certa: a eletricidade proveniente de fontes renováveis ​​será um elemento vital para alcançar os objetivos climáticos da Europa.

Algumas regiões do continente são especialmente adequadas para tipos específicos de produção de energia verde. Mas, para que todo o continente se beneficiasse, as empresas de energia precisariam construir uma rede elétrica em toda a Europa que incorporasse estas novas tecnologias.

“A infraestrutura elétrica europeia já está bem desenvolvida”, disse em maio à DW Kadri Simson, legisladora da Estônia que, desde 2019, é comissária de energia da UE.

“Esperamos eletrificar diferentes setores, o que significa que o nosso consumo de eletricidade irá duplicar. E isso, claro, significa que também temos de fortalecer a nossa rede elétrica. Temos de atualizar a nossa rede elétrica para permitir a instalação de mais energias renováveis”, explicou, acrescentando que a Europa está apenas na metade do caminho neste momento.

Eólica no inverno, solar no verão

Os países europeus têm diferentes pontos fortes no que diz respeito à produção de energia verde. No tempestuoso norte e nos mares do Norte e Báltico, a energia eólica é um trunfo. O sul, mais ensolarado, por sua vez, é ideal para energia solar.

“A energia fotovoltaica e a energia eólica complementam-se bem”, afirma Harald Bradke, chefe do Centro de Competência em Tecnologia de Energia e Sistemas de Energia do Instituto Fraunhofer em Karlsruhe, Alemanha. “A energia eólica produz muita eletricidade nos meses de inverno, e a energia fotovoltaica predominantemente no verão”.

Os melhores métodos para armazenar eletricidade também diferem de acordo com a localização geográfica. Instalações de armazenamento de energia hidrelétrica bombeada, que funcionam como enormes baterias, são uma boa opção. Se houver mais eletricidade disponível do que a consumida em determinado momento, ela será usada para bombear água para um reservatório ou para o topo de uma montanha. Quando há necessidade de eletricidade, a água é liberada novamente para acionar as turbinas que a produzem.

“Este tipo de armazenamento existe, sobretudo, na Escandinávia e nos países alpinos, como Áustria, Itália e Suíça”, detalha Bradke. “Pode ser usado quando a demanda por eletricidade excede o que podemos produzir naquele momento”.

Mais linhas de energia são necessárias

O aumento da interconectividade tornaria o fornecimento de eletricidade verde mais eficiente em toda a UE.

“A eletricidade seria mais barata porque seria obtida no local onde pudesse ser produzida ao preço mais baixo”, explica Bradke. Além disso, segundo ele, não seria necessário ligar com tanta frequência “centrais elétricas de reserva dispendiosas que funcionam apenas algumas centenas de horas por ano”.

As centrais elétricas de reserva, como as que funcionam a gás natural, são atualmente utilizadas para cobrir a procura nos horários de pico. Mas, se a Europa tivesse uma rede elétrica comum, esta procura poderia ser satisfeita desviando a eletricidade em todo o continente, de locais onde é particularmente barata para outros onde é necessária.

“Todos se beneficiariam”, afirma Bradke.

No entanto, antes que isso possa ocorrer, devem ser construídas linhas de energia adicionais – sobretudo em locais como a Alemanha. Muita eletricidade é produzida de forma eólica no norte do país, mas é necessária principalmente mais ao sul, no centro industrial. Embora este desequilíbrio seja reconhecido há anos, a construção das linhas elétricas necessárias para levar a energia aos clientes no sul tem sido muito lenta.

“Estamos sete anos atrasados ​​na expansão da nossa rede”, disse Bradke. “Já deveríamos ter percorrido 6.000 quilômetros adicionais há muito tempo.”

O que impede a expansão da rede

O dinheiro não é o único problema na Alemanha. Muitas pessoas não querem viver perto de torres de transmissão por temerem o efeito que as linhas de energia podem ter sobre o valor de suas propriedades ou na sua saúde. Isso levou algumas pessoas a tomar medidas legais para impedir a construção de novos projetos.

Mas colocar linhas elétricas subterrâneas também não é uma solução: seria muito mais caro. Além disso, como os cabos elétricos quentes podem secar o solo, também poderiam ser prejudiciais para a agricultura. Bradke explica que isso significaria que os agricultores estariam limitados ao que poderiam plantar perto de cabos elétricos enterrados – se é que poderiam plantar – e precisariam de compensação.

Estes problemas num único país são um indicativo do tamanho do desafio de criar uma rede em escala europeia. “Se a ideia é construir uma linha de transmissão através da Alemanha para permitir que a energia flua da França para a Polônia, a aceitação pela população local será provavelmente menor do que se estivéssemos falando de fornecer eletricidade alemã à Alemanha”, disse Bradke.

Custos de 800 bilhões de euros

As disputas sobre qual país acabaria sendo o maior beneficiário são particularmente prováveis ​​quando as linhas de transmissão cruzam fronteiras, destaca a comissário de energia da UE, Simson.

A solução para tais disputas, segundo ela, é muitas vezes financiar estes projetos utilizando fundos da UE. Como resultado, as regras para a construção de Redes Transeuropeias de Energia (RTE-E) foram alteradas para facilitar o acesso aos fundos da UE e acelerar o trabalho.

Um estudo encomendado pela organização de lobby industrial European Round Table for Industry estimou que são necessários investimentos de 800 bilhões de euros na rede elétrica até 2030. No final de 2023, a própria Comissão Europeia apresentou um plano de ação para o mesmo período, com um custo estimado em 600 bilhões de euros.

Simson disse que isso pode parecer muito, mas ressaltou que o atual fornecimento de energia também tem um preço.

“Tenhamos em mente que, só em 2022, os consumidores europeus pagaram 600 bilhões de euros para comprar combustíveis fósseis de países terceiros. Portanto, pode parecer uma enorme necessidade de investimento, mas, ao mesmo tempo, os combustíveis fósseis também não vêm de graça”, ponderou.

De onde viria o dinheiro

Alguns dos custos poderiam ser cobertos por investidores privados, disse Bradke, apontando para o recente início da construção de uma linha elétrica entre a Alemanha e o Reino Unido financiada exclusivamente com fundos privados.

“As principais companhias de seguros e fundos de pensões estão muito interessados ​​em investir na construção de redes”, afirma Bradke, acrescentando que “as receitas não precisam ser tão elevadas, mas seguras a longo prazo”.

Ele enfatizou, porém, que o dinheiro não é a única coisa importante na ampliação de uma rede elétrica. Igualmente vital é avaliar com precisão a necessidade real. Por exemplo, o que aconteceria se fossem utilizados menos bombas de calor ou veículos elétricos do que o planejado? E se os carros elétricos funcionarem como armazenamento de energia em massa e também fornecerem eletricidade à rede?

Bradke disse que isso resultaria em menos compartilhamento de energia na rede. “E isso pode significar que temos linhas de alta tensão que não são necessárias”, ressaltou.

Simson afirmou que o financiamento da UE para o alargamento da rede elétrica provém do instrumento de financiamento denominado Mecanismo Interligar a Europa. “Defendo veementemente que quando o próximo quadro financeiro plurianual for concebido, devemos apenas reforçar este fundo”, disse.

O atual quadro financeiro, que determina o orçamento da UE, vigora até 2027. Depois disso, tudo estará nas mãos da próxima Comissão Europeia e do recém-eleito Parlamento Europeu.

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