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segunda-feira 29 de agosto de 2022 às 08:40h

Por que a crise na Nicarágua está nas eleições brasileiras

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Como já fez em aparições anteriores, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha uma “cola” na mão ao participar da sabatina do “Jornal Nacional”, na segunda-feira (22), de acordo com o Poder360. Entre os temas anotados pelo chefe do Executivo estava “Nicarágua”. Essa não foi a 1ª vez que o país latino-americano, governado pelo esquerdista Daniel Ortega, entrou na campanha eleitoral de Bolsonaro.

Bolsonaro com as palavras “Nicarágua”, “Argentina”, “Colômbia” e “Dario Messer” durante sabatina no “JN”
Ortega está em seu 5º mandato, o 4º consecutivo. Ele governa a Nicarágua desde 2007. O político foi reeleito em novembro do ano passado em eleições consideradas anti-democráticas pelos EUA e pela União Europeia.

Há anos que os abusos de Ortega têm repercutido na imprensa internacional. Atualmente, tem-se falado sobre o fechamento de igrejas e perseguição a religiosos.

Na busca pela reeleição, Bolsonaro e alguns de seus apoiadores passaram a associar o líder nicaraguense ao ex-presidente e candidato ao Planalto Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em seu 1º ato de campanha, por exemplo, Bolsonaro disse acompanhar a situação na Nicarágua, “onde rádios católicas foram fechadas, procissões impedidas”. Falando em evento com evangélicos, o presidente declarou: “Vocês sentiram um pouquinho de ditadura aqui na pandemia, com igrejas fechadas, pessoas sendo impedidas de trabalhar, com comércio fechado. A gente sabia onde isso ia dar”.

Bolsonaro também afirmou que os governos de esquerda são “todos iguais” e conduzem a população “para a miséria”. O evento foi realizado em 16 de agosto, em Juiz de Fora (MG).

Dois dias depois, o senador Flávio Bolsonaro (PL) escreveu um post no Twitter sobre o país latino-americano, relacionando Ortega a Lula:

Em comício em 20 de agosto, Lula declarou, sem citar Bolsonaro, que “tem gente fazendo da igreja palanque político”. Segundo o petista, “o Estado não tem que ter religião” e “todas as religiões têm que ser defendidas pelo Estado”.

A plataforma Verdade na Rede, ligada ao PT e que busca combater a desinformação, abordou o assunto em publicações em seu site e em postagens nas redes sociais. “Lula é cristão, já foi presidente, não fechou e não vai fechar igrejas”, lê-se em um dos textos. “Durante os 8 anos em que governou o país, [Lula] sancionou leis que beneficiam diretamente o setor evangélico.”

O que está acontecendo na Nicarágua

A tensão entre Ortega e religiosos não é nova. Em 2018, igrejas católicas abrigaram pessoas feridas em atos contra o governo. Líderes católicos também mediaram, sem sucesso, encontros entre o governo e a oposição.

Segundo dados do escritório de direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), naquele ano, 355 manifestantes foram mortos em confronto com a polícia ou grupos paramilitares. Mais de 1.300 ficaram feridos e 1.614 foram presos. Também houve relatos de tortura.

Em abril de 2019, o bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, deixou a Nicarágua dizendo ter recebido ameaças de morte.

As eleições presidenciais de 2021 marcaram um acirramento da repressão do regime Ortega. O presidente mandou prender seus principais oponentes e concorreu à reeleição contra 5 candidatos desconhecidos –apontados como colaboradores do governo. Além dos pré-candidatos, outras dezenas de pessoas foram presas, incluindo políticos, empresários, agricultores, estudantes e jornalistas contra o regime.

Quando divulgados os resultados preliminares que indicavam a reeleição de Ortega, em novembro de 2021, o Partido dos Trabalhadores felicitou o chefe de Estado. Em nota, o secretário de relações internacionais da legenda, Romenio Pereira, citou o “apoio da população a um projeto político que tem como principal objetivo a construção de um país socialmente justo e igualitário”.

Segundo o secretário do PT, a vitória foi “conquistada apesar das diversas tentativas de desestabilização do governo e do bloqueio internacional contra a Nicarágua e seu atual governo, uma situação que penaliza principalmente os mais pobres e necessitados”. A nota foi amplamente criticada.

Visita de Daniel Ortega ao Palácio do Itamaraty durante o governo do ex-presidente Lula
Reeleito, Ortega seguiu com investida contra religiosos. O Núncio Apostólico –equivalente a um embaixador– foi expulso em março de 2022. Em julho, as freiras Missionárias da Caridade de Santa Teresa tiveram de deixar a Nicarágua depois que a organização foi considerada ilegal.

A crise escalou no começo de agosto, quando o governo ordenou o fechamento de 7 emissoras de rádio católicas argumentando que as licenças de operação não eram válidas. Em 19 de agosto, a polícia de Nicarágua invadiu a casa episcopal da diocese de Matagalpa e prendeu o bispo, dom Rolando Álvarez. Também deteve padres, seminaristas e um leigo que o acompanhavam.

No mesmo dia, o secretário-geral da ONU, António Guterres, se disse “muito preocupado com a grave obstrução do espaço democrático e cívico na Nicarágua”. Citou as “recentes ações contra organizações da sociedade civil, incluindo as da Igreja Católica”.

O papa Francisco, em 21 de agosto, afirmou estar acompanhando “com preocupação e tristeza” a crise na Nicarágua. “Gostaria de expressar minha convicção e minha esperança de que, por meio de um diálogo aberto e sincero, se possam encontrar as bases para uma convivência respeitosa e pacífica”, declarou o pontífice.

No fim de abril, o chanceler da Nicarágua, Denis Moncada, anunciou que o país deixaria a OEA (Organização dos Estados Americanos) e fechou a sede da organização no país. A decisão ocorreu depois que o representante da entidade internacional, Arturo Yescas, descreveu o governo de Ortega como “ditadura”.

O último relatório anual do Alto Comissionado das Nações Unidas para os Direitos Humanos sobre a situação na Nicarágua, de março deste ano, e documentos emitidos posteriormente pela organização apontam que cidadãos detidos no contexto das eleições de 2021 continuam atrás das grades. Novas prisões também teriam sido feitas.

Segundo a ONU, o governo Ortega deteve arbitrariamente oposicionistas, ativistas, jornalistas e advogados. Restringiu direitos civis, como contatos com familiares e advogados, e políticos.

Também foi reportada a morte de Hugo Torres, líder da oposição preso antes das eleições, e as más condições saúde de alguns dos presos políticos.

O documento cita que dezenas de organizações não governamentais, universidades e pessoas ligadas a essas instituições foram impedidas de operar; povos indígenas estão sofrendo violentos ataques em disputas territoriais; e o número de pedidos de asilo bateu recorde: pelo menos 144 mil nicaraguenses deixaram o país desde 2018.

A repressão praticada pelo governo de Ortega é “profundamente prejudicial aos direitos humanos do povo nicaraguense”, segundo a organização.

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