Por qual motivo alguns aviões deixam rastros nos céus?

Conforme matéria de Gabriel Benevides, do Aeroflap, provavelmente em algum momento da sua vida, você já observou o céu e viu um enorme rastro após a passagem de uma aeronave. Porém, poucos sabem os motivos para o acontecimento desse fenômeno que, por muitas vezes, acaba passando despercebido ou até mesmo sendo considerado por alguma teoria da conspiração.

Conhecidos como contrails (rastro de inversão do avião, em português), esses rastros surgem quando os aviões sobrevoam em altitudes que variam de 35.000 a 40.000 pés, momento em que o ar quente, expelido pelos motores a jato, entra em contato com a baixa temperatura atmosférica ao redor da aeronave, criando assim, uma espécie de nuvem artificial.

Apesar de ser um fenômeno bastante recorrente envolvendo aeronaves a jato, alguns fatores climáticos como a umidade e a temperatura da atmosfera são primordiais para o aparecimento dos contrails, determinando a sua duração e extensão das nuvens artificiais.

Mesmo com o amplo conhecimento científico sobre os contrails, este fenômeno ainda é tratado como algo prejudicial por conta de uma teoria da conspiração denominada chemtrail (do inglês, Chemical trail: ‘trilha química’), ao afirmar que estes rastros deixados por alguns aviões pulverizam agentes químicos prejudicais aos seres humanos.

Os primeiros contrails foram descobertos na década de 1920 durante os voos de alta altitude, inclusive, avistar rastros de contrails durante a Segunda Guerra Mundial, significava que o pior estava por vir, já que os bombardeiros sobrevoavam em altitudes extremas para não serem vistos ou interceptados por outros aviões.

Além de causar pânico para os habitantes da Europa durante a segunda guerra, as trilhas dos contrails acabavam atrapalhando a navegação das aeronaves durante a guerra devido as suas formações maciças, ao ponto de inviabilizar o avistamento de localizações estratégicas e alvos inimigos, inclusive com relatos (apesar de raros) de colisões de aeronaves por conta da baixa visibilidade.

Quais são os tipos de contrails?

Ainda que os contrails sejam formados pela condensação da água até o seu congelamento, existem três tipos de trilhas que se diferem apenas em relação a sua duração de tempo visível por conta da massa de ar. Vamos conferir nos tópicos abaixo.

Contrail de curta duração

Estes contrails geralmente aparecem com uma pequena trilha atrás da aeronave, desaparecendo rapidamente ao ponto de passar despercebido e com a duração de poucos minutos.

Neste cenário, a massa de ar ao redor da aeronave está bastante seca e acompanhada por uma pequena quantidade de vapor de água, para formar o contrail de desaparecimento instantâneo.

Contrail persistente sem espalhamento

Responsáveis por apresentar extensas trilhas brancas ao ponto de ficarem visíveis por longos minutos ou até horas após a passagem de um avião, este tipo de contrail necessita de uma atmosfera bastante úmida, aliada a grandes quantidades de vapor e núcleos de água para a sua formação. A sua longa duração só é possível por conta da alta umidade, pois o gelo leva um maior tempo para sublimar, justificando o seu maior tempo de visibilidade na atmosfera.

Contrail persistente com espalhamento

Apesar de possuírem a mesma formação com a variedade do contrail sem espalhamento, este se difere por conta da sua propagação ocorrer em atmosferas que estão com a massa de ar instável e turbulenta, fazendo com que as linhas densas se dissipem e se espalhem por uma ampla área.

Vórtices nas pontas das asas: são ou não são contrails?

Apesar de um amplo debate sobre alguns especialistas considerarem estes vórtices um tipo de contrail e outros não. Estes rastros oriundos das pontas das asas ocorrem na maioria das vezes durante condições meteorológicas específicas, como em dias frios e nublados.

Em especial, essas trilhas de vapor se formam na parte traseira da ponta das asas quando as aeronaves estão realizando o procedimento de pousos e decolagens por conta da diminuição da pressão sobre a asa, fenômeno que possui ligação direta com a força para manter a aeronave em sustentação, logo, o processo da formação desses rastros se difere em comparação aos tradicionais contrails.

Curiosidades sobre esses rastros

Rastro iridescente

Apesar da maioria dos rastros gerados pelas aeronaves possuírem apenas cor branca, algumas pessoas possuem a sorte de flagrar esses rastros com um efeito colorido.

De acordo com o Contrail Science, o rastro iridescente ocorre quando a pressão do ar e a temperatura sobre as asas caem drasticamente, fazendo com que o vapor d’água se congele em tamanhos diferentes. Logo, as gotículas de água congeladas refratam a luz em diferentes comprimentos de acordo com a posição do sol, proporcionando um efeito de refração da luz e, assim, um rastro parecido com um arco-íris surge atrás do avião.

Instabilidade de Crow

Considerado incomum, a Instabilidade de Crow acontece por conta de um vórtice oriundo da ponta da asa que interage com os contrails dos motores, produzindo distorções visíveis na forma final.

Durante este fenômeno, um par de vórtices contra rotativos atuam uns sobre os outros, amplificando pequenas distorções sinusoidais, resultando em ondas simétricas ou antissimétricas, dependendo da natureza da perturbação inicial.

Por fim, independente do tipo de contrail, tal fenômeno pode resultar em registros fotográficos incríveis.

Em Brasília, o entusiasta e Spotter William Alves, é um dos maiores especialistas do Brasil, na atualidade, em flagrar esse fenômeno. Para acompanhar o seu trabalho via Instagram, basta clicar aqui.