O presidente Jair Bolsonaro chega à metade de seu governo no auge da popularidade, mas com uma base de apoio diferente daquela que o sustentava no início de sua gestão, segundo indicam pesquisas Datafolha.
Em comparação aos números de março de 2019, Bolsonaro teve avanço também de acordo com o jornal O Globo nas camadas de baixa renda e no Norte e no Nordeste, regiões em que houve mais impacto do auxílio emergencial.
Na comparação com a primeira pesquisa Datafolha, feita no terceiro mês de mandato, Bolsonaro tem hoje um desempenho 11 pontos percentuais superior entre os mais pobres, com avanço acentuado nos últimos meses. No início de governo, apenas 26% daqueles com renda até dois salários mínimos consideravam a gestão do presidente como ótima ou boa. Hoje, o índice é de 37%.
A tendência é a mesma entre os menos escolarizados, grupo no qual esse percentual passou de 29% para 38%, e também entre moradores do Nordeste — no somatório geral de todas os recortes por renda, escolaridade e idade —, com avanço de 24% para 31%.
O comportamento da avaliação de Bolsonaro é distinto ao observado, por exemplo, nos governos dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que tiveram altas de aprovação sem alterações tão significativas na base de apoio. Ambos mantiveram índices mais altos de aprovação entre os mais pobres nos primeiros anos de seus mandatos, enquanto também avançaram entre eleitores mais ricos e escolarizados.
Bolsonaro, por sua vez, viu seu modo de governar ser mais rechaçado nesses segmentos. Entre aqueles com renda superior a dez salários mínimos, a soma dos que consideram o governo ruim ou péssimo passou de 37% para 47%, assim como entre os mais escolarizados, de 35% para 48%.
Na tentativa de manter a base de apoio gerada em seus dois anos de governo, Bolsonaro terá pela frente em 2021 desafios como a crise econômica devido à pandemia da Covid-19, com elevado desemprego e inflação, principalmente dos alimentos. Em novembro, 75% da inflação para aqueles que estão na parte inferior da pirâmide veio do custo dos alimentos e das bebidas, segundo o Ipea.
Em paralelo a isto, o presidente já declarou que não deverá prorrogar o auxílio emergencial, cuja parcela final começou a ser paga anteontem. O impacto do auxílio se dá especialmente entre os mais pobres, destinatários principais do benefício. Estudo da FGV mostrou que no primeiro mês de redução de valor do benefício, de R$ 600 para R$ 300, o número de pessoas vivendo em situação de pobreza aumentou em 8,6 milhões. Outros 4 milhões caíram na miséria, ou seja, recebendo menos que R$ 154 por mês para sobreviver.
Com o fim do auxílio na virada do ano, 40% dos domicílios brasileiros devem ficar sem renda ou com ela comprometida, segundo pesquisas do IBGE. Enquanto isso, dados do Ministério da Cidadania indicam que mais de um milhão de pessoas aguardavam na fila para entrar no Bolsa Família em setembro.