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Advogado e escritor Joaci Góes quando foi reeleito presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. - Foto: Reprodução/Rede social
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domingo 18 de agosto de 2024 às 08:49h

Ponto de vista: Nossos comentários sobre a inveja – Por Joaci Góes

ARTIGO, NOTÍCIAS


Para o casal Kátia e Edson Piaggio!

O empresário Antônio Ermírio de Morais, em artigo publicado em 29 de novembro de 1999 (Folha de São Paulo e Tribuna da Bahia), denunciou o silêncio da mídia e do poder público diante da conquista de medalhas de ouro e de bronze, por operários brasileiros, na 35a Olimpíada Internacional de Formação Profissional, realizada no Canadá, entre os dias 11 e 17 de novembro de 1999. Antônio Ermírio aguardou o transcurso de onze dias de silêncio para formular a denúncia. André Luís Ramos de Freitas, aluno do SENAI de Brasília, ganhou a medalha de ouro, concorrendo com 625 competidores do mundo inteiro, inclusive dos Estados Unidos, Alemanha, Áustria, Bélgica, Canadá e de mais vinte e nove países que credenciaram candidatos. Sua tarefa foi a de planejar e instalar, em três dias, a rede elétrica, integral, de uma casa. Houve mais. Walter da Silva Diniz, do SENAI de São Paulo, de apenas 19 anos, também abiscoitou a medalha de ouro, batendo, como soldador, em teste dificílimo, concorrentes do mundo inteiro, enquanto a dupla formada por Adriano dos Santos Alcaça e José Folha Mós Neto, também do SENAI paulista, ganhou a medalha de bronze “no campo da mecatrônica, tendo superado dezenas de concorrentes dos países avançados, inclusive da Ásia, que se dizem tão especializados nessa área”. Além dessas medalhas, mais “cinco jovens receberam o diploma de excelência por terem apresentado um desempenho de 85% nas suas respectivas profissões: Felipe Duarte Andrade (ferramentaria), Daniel Shinji Hirata (mecânica de precisão), Frederico S. Nascimento (CAD) e Isaías Batista Júnior (azulejista)”. Duas semanas depois de publicado o artigo, o Presidente Fernando Henrique corrigiu a imperdoável omissão, ao homenagear, em palácio, esses atletas do trabalho, numa cerimônia largamente coberta pelos meios de comunicação.

Todo esse aranzel é para dizer que o setor público brasileiro, dos três poderes, do municipal ao federal, precisa passar a cuidar, de modo muito mais criterioso, das atividades que edificam a cidadania, figurando a oferta de educação de qualidade no primeiro plano. Os investimentos na formação plena das pessoas contribuem, de modo decisivo, para o progresso da sociedade, ao prepará-las para o exercício da verdadeira cidadania. A conquista desse objetivo maior será grandemente facilitada pela espontânea alegria de viver de nossa gente, fato que levou o cineasta Zeffirelli a ver no brasileiro “o último povo feliz do mundo”.

Se nos compenetrarmos deste novo papel, poderemos vir a passar por alterações de fundamental importância na prestação dos serviços públicos, no Brasil: acesso universalizado a educação de qualidade, a saneamento básico e a assistência psicológica. Quando isso vier a acontecer, acreditamos que a inconfessabilidade da inveja, entre nós, será gradativamente reduzida, e o brasileiro poderá agregar, só por isso, um componente de bem-estar geral, psicológico e material, não menos significativo do que o que experimentou com o avanço da higiene, que permitiu o controle e eliminação das pestes dizimadoras de populações inteiras. O combate à Covid 19 é prova disso.

Nada há que mais condicione o lugar das pessoas na sociedade do que os seus hábitos. Conhecendo os hábitos de alguém, podemos, com satisfatória confiabilidade estatística, dizer de sua saúde, nível de conhecimento, êxito profissional, relação familiar, patrimônio material, integração social e de muito mais, inclusive de sua inveja.

Embora todos os hábitos sejam importantes, fortalecendo-se reciprocamente, um há reconhecido como o mais importante, o que diz respeito aos nossos projetos pessoais, em cada um dos diferentes domínios existenciais, como saúde, profissão, afetividade, riqueza material, desenvolvimento intelectual etc.; em síntese: ao destino que intencionamos dar a nossas vidas. Por aí, chegar-se-á à conclusão de que, do mesmo modo que perante Deus todo ser humano é único, imortal e insubstituível, cada um de nós tem, no plano da realidade existencial, a possibilidade de imprimir à vida a marca de sua contribuição individual, inconfundível com a de outro qualquer. A propósito, Dante aconselhou: “Segui il tuo corso e lascia dir le genti”, o que literalmente se traduz por “Siga o seu caminho e deixe as pessoas falarem”.

Por Joaci Góes em sua coluna no jornal Tribuna da Bahia.

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