Construída sobre o rio Araguaia, a ponte que liga os estados Tocantins e Pará está com a estrutura pronta desde o ano passado, mas não está em uso porque somente agora os acessos serão feitos. Para isso, está sendo finalizado o processo de desapropriação dos terrenos necessários.
Segundo o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), a ponte custou R$ 204,2 milhões. Já o investimento previsto segundo reportagem de Lucas Borges Teixeira, do portal Uol, para fazer os acessos é de R$ 28,6 milhões. A previsão para finalização da obra, que inicialmente era em setembro de 2022, pulou para o segundo semestre deste ano, sem mês especificado.
A ponte de 1,7 km liga Xambioá (TO) a São Geraldo do Araguaia (PA) com acesso pela BR-153 e, quando liberada, vai facilitar, por exemplo, a escoação da produção do agronegócio da região. A expectativa é que a obra funcionando beneficie cerca de 1,5 milhão de pessoas.
“Cada dia que passa, aumenta o prejuízo de comerciantes, trabalhadores e estudantes, que precisam fazer a travessia de balsa. Isso nos gera grande frustação”, diz o prefeito de Xambioá, Mayck Câmara (Republicanos).
Empresas diferentes
O DNIT explicou que a ponte foi erguida por um consórcio, e os acessos estão sendo feitos por outra. Atualmente, informou o DNIT à coluna que a ponte “está com 95% dos serviços concluídos”.
Ainda em agosto de 2024, o DNIT divulgou nota informando que a estrutura da ponte estava concluída, faltando apenas detalhes como pavimentação, sinalização e iluminação. “Ela ganhará trafegabilidade já em novembro de 2024”, disse o órgão, em mais uma previsão descumprida.
Os acessos à ponte, diz o DNIT, terão 2,1 km. Desses, 310 metros estão no lado paraense, e 1,70 no Tocantins. “A obra está com os projetos hidrológico e geoecológico em fase de aprovação. A previsão de entrega é o segundo semestre de 2025”, informou o órgão.
Segundo o prefeito de Xambioá, a desapropriação das áreas já foi negociada entre as partes envolvidas nas duas cidades, faltando apenas um pagamento por parte da União dos valores das indenizações.
Ele afirma que a travessia de balsa demora em torno de 30 a 45 minutos cortando o rio, a depender do nível e correntezas do rio e do fluxo de embarcações. “É uma espera de hora”, diz.
Hoje, a travessia na balsa custa de R$ 5,50, para uma bicicleta, a R$ 294 cobrados por uma carreta de 10 eixos carregada. Um automóvel de passeio custa R$ 25.
A nossa região tem um agronegócio, uma parte de mineração muito forte. A falta da ponte atrapalha o desenvolvimento. A maioria dos trabalhadores da Masterboi, por exemplo, é de cidades vizinhas. Muitas pessoas deixam de vir trabalhar porque não querem atravessar todo dia. Com a ponte, ganha a nossa economia, e o país vai ganhar muito também com a ligação.Mayck Câmara
Cronograma e promessas
O projeto da ponte é de 2017, lançado ainda na gestão do então presidente Michel Temer (MDB), que assinou o contrato da obra em visita a Xambioá em setembro daquele ano. “De todas as pontes que eu construí, eu levo daqui a sensação que a ponte mais importante que eu vou construir”, disse.
A ordem de serviço da obra foi assinada com festa pelo DNIT em abril de 2020, com previsão de entrega para setembro de 2022. A obra, porém, atrasou no governo do presidente Jair Bolsonaro, que terminou sem concluir.
Com a chegada do presidente Lula, a obra entrou no novo PAC. A ponte tem uma plataforma de 12 metros de largura de pista e acostamento e calçadas com 1,5m de largura de cada lado.
Com a ponte, o DNIT afirma que haverá uma integração multimodal com a ferrovia Norte-Sul e com a hidrovia Tocantins-Araguaia, “reduzindo custos e contribuindo para o desenvolvimento dos dois estados.”
Erro de projeto, diz especialista
Para o perito Marcelo Daniel Melo, presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias em Engenharia em Alagoas, o projeto dessa ponte “começou de uma forma errada.”
Quando você vai realizar uma obra pública, a primeira coisa a fazer é o levantamento da região topográfica, definir as áreas que vão ser ocupadas, com as margens de segurança. Em cima disso, se faz o processo de desapropriação.”
Ele diz que a desapropriação deve uma ação inicial porque há uma tramitação jurídica que pode demorar, já que os proprietários das áreas podem contestar.
Com a desapropriação e avaliação realizadas, e o depósito do valor feito, mesmo com uma contestação o juiz já dá emissão de posse, e aí as obras podem ser iniciadas. Fizeram a parte da ponte, mas ‘esqueceram’ dos acessos. Foi um erro original que terminou gerando esse problema. Acredito que mão souberam conduzir a coisa.
Marcelo Daniel Melo