Os candidatos à Presidência da República possuem um núcleo restrito de pessoas próximas com quem trocam impressões a respeito da eleição. Estes grupos são formados conforme reportagem de Carla Araújo, Felipe Pereira e Lucas Borges Teixeira, do UOL, por políticos e marqueteiros que discutiram, nos últimos meses, estratégias de propagandas de TV, debates e sabatinas, além de discursos e posicionamentos de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Chamados de núcleo duro no jargão político, são integrados por membros dos partidos que compõem a coligação —e também pessoas de confiança dos candidatos. Neste ano, filhos e esposa integram esse grupo.
O QG de Bolsonaro
A campanha à reeleição do presidente Bolsonaro tem um núcleo duro formado apenas por homens. São sete integrantes que não pensam da mesma forma, têm funções diferentes e até alimentam rivalidades entre si. Neste grupo, há duas pessoas com o mesmo sobrenome do candidato: Flávio e Carlos Bolsonaro.
A lista de integrantes do quartel-general de Bolsonaro tem também dois ministros, um líder partidário e um ex-membro do governo. Todos exercem o papel de conselheiros —até agora, o presidente ouviu recomendações, mas a palavra final sobre o que é decidido é dele.
Os filhos
Filho primogênito do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é considerado seu principal operador político. Já Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), vereador pelo Rio de Janeiro, é responsável pelas redes sociais —é ao trabalho dele que o presidente atribui a vitória nas eleições presidenciais de 2018.
A filiação do pai ao PL tem o dedo de Flávio —desde bem antes da campanha eleitoral. Estar em um partido estruturado era parte do planejamento para enfrentar a eleição. O passo seguinte foi a formação da coligação que apoia Bolsonaro e levantar os recursos para a campanha. Foi o filho que viajou para Mato Grosso e se reuniu com representantes do agronegócio.
Já Carlos tem um papel mais discreto —não vai às viagens e tenta passar desapercebido nas reuniões. Ele usa a internet como meio de espalhar suas posições políticas e consegue ser bastante influente.
Além do temperamento descrito como difícil por pessoas próximas, o perfil reservado está relacionado ao chamado Gabinete do Ódio. Integrantes da campanha apontam o vereador como líder do grupo que está na mira do STF por divulgação de fake news.
Na função de tesoureiro da campanha, Valdemar da Costa Neto, presidente nacional do PL, convenceu o presidente a gravar um vídeo pedindo doações. Bolsonaro resistiu num primeiro momento, mas acabou cedendo.
Enquanto Carlos é considerado alinhado ao que ficou conhecido como ala ideológica da campanha, o líder partidário integra o chamado núcleo político e tem maior interlocução com Flávio.
No governo —e na campanha
O núcleo político conta também com os ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira, e das Comunicações, Fábio Faria.
Bolsonaro se elegeu como político antissistema, mas termina o mandato abraçado ao centrão —Ciro Nogueira é símbolo desta mudança de direção. Com histórico de alianças com o PT, ele chegou ao governo sob desconfiança, principalmente entre os ministros militares. Mas seu desempenho agradou e rendeu tanto espaço que Ciro é parte da ala política da campanha.
Ciro chamou a atenção ao pedir férias na reta final do primeiro turno e disse que ia focar na campanha o Piauí, seu berço político. A repercussão foi tão grande que desistiu e voltou a trabalhar na corrida presidencial. E ganhou espaço na campanha do segundo turno negociando alianças com governadores e partidos.
Já Faria se ocupa da estratégia de comunicação do candidato. Ele tenta marcar entrevistas a um espectro amplo de sites, canais de televisão e rádio para levar sua mensagem para pessoas de fora da bolha bolsonarista. Em muitos momentos, conseguiu que sua estratégia predominasse —inclusive na participação do presidente em debates.
Mas o ex-secretário de Comunicação Social do governo federal Fábio Wajngarten —que atua mais próximo da ala ideológica da campanha— trabalhou de maneira velada por outra tática. Ele preferia que Bolsonaro concedesse entrevistas a canais simpatizantes do governo federal. O ex-secretário também tinha a missão de melhorar o relacionamento da campanha de Bolsonaro com os meios de comunicação tradicionais. Não deu certo.
General reformado, Braga Netto escolheu tirar a patente do nome que vai à urna eletrônica por entender que a função militar não tem o mesmo apelo de 2018. Se dependesse do centrão, ele nem estaria na chapa. O grupo de partidos que inclui PL, Republicanos e PP defendia um nome que agregasse mais bandeiras e trouxesse votos.
Braga Netto foi escolhido por ser confiável e não haver riscos de traição num eventual segundo governo. Tem perfil discreto e é considerado ruim de palanque por não ser bom de oratória —mesmo distante dos holofotes, é uma peça importante no núcleo duro da campanha.
A equipe de confiança de Lula
Para a sexta campanha pelo Planalto —que já chamava de “mais difícil da sua história”, antes do primeiro turno— Lula se cercou de antigos parceiros petistas. No núcleo duro, estão em especial petistas que, ele considera, seguiram fiéis durante os tempos mais difíceis do partido, de 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff (PT), até sua prisão (e soltura), entre 2018 e 2019.
De ex-ministros a petistas históricos, o grupo tem duas mulheres, a presidente petista Gleisi Hoffmann e a socióloga Janja da Silva, esposa de Lula, e um ex-opositor, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), atual vice e articulador entre setores conservadores.
Um dos principais fiadores da reeleição de Dilma, em 2014, Mercadante perdeu espaço no partido após o impeachment, mas é considerado por Lula um dos companheiros mais fiéis. Na eleição, é responsável pela coordenação do plano de governo.
Mercadante recebeu mais de 13 mil propostas da sociedade civil, associações sindicatos, federações e outras organizações para chegar ao texto final. É, ainda, um dos principais conselheiros de Lula, presente em todas as agendas e viagens.
A porta-voz institucional
Presidente do PT desde 2017, em um dos momentos mais frágeis do partido, Gleisi Hoffmann (PT-PR) é hoje a principal articuladora institucional da campanha. A deputada foi uma das grandes responsáveis pela coligação com nove partidos (e a chegada póstuma do Pros) em torno da chapa.
É, também, a porta-voz institucional da campanha. Como presidente, Gleisi é responsável por passar mensagens críticas para evitar ligar a polêmica diretamente a Lula.
O elo econômico e conservador
Tucano por 33 anos, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB) foi alçado a vice no final do ano passado e sacramentado no primeiro semestre. Desde então, foi aceito até nos círculos mais resistentes do PT, com elogios públicos quase diários por parte de Lula.
Alckmin é responsável pela imagem de ponderação da campanha. Tem sido interlocutor com setores mais conservadores da igreja, do empresariado e do mercado financeiro. Além de rodar o interior paulista, onde é popular, para ajudar Fernando Haddad (PT) e o próprio Lula, também viajou ao Centro-Oeste na campanha do primeiro turno para conversar com empresários do agro.
A defesa das minorias
O petista tem dito com frequência que a socióloga Janja da Silva, com quem é casado desde maio, é responsável pelo reacendimento da sua juventude. Seu papel vai além.
Figura central da eleição, ela foi responsável pela inclusão de pautas acerca da defesa das minorias, como equidade de gênero e direitos LGBTQIA+, e diferente questões sociais, que vão de proteção social a desabrigados ao direto dos animais.
Também tem papel na organização dos eventos. Em viagens, apresenta o clipe “Sem Medo de Ser Feliz” e arquitetou o último grande evento da campanha em São Paulo, a “superleve” da última segunda (26).
Os comunicadores
Depois de um período tumultuado de disputa pela área de comunicação em maio, antes da pré-campanha, o prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva (PT), ex-ministro de Dilma, e o deputado Rui Falcão (PT-SP), ex-presidente do PT, tornaram-se os principais nomes da área.
Nomes de confiança de Lula, ambos têm perfil discreto. Participam da maioria dos eventos, mas não costumam discursar, com trabalho voltado aos bastidores.
O dono do cofre
Deputado por dois mandatos, Márcio Macêdo (PT-SE) é filiado ao partido desde a adolescência, nos anos 1980, e afilhado político do ex-governador Marcelo Déda (PT).
Já foi tesoureiro nacional do PT e hoje ocupa uma das vice-presidências do partido —além de ter as chaves dos cofres da campanha. Junto ao senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), foi a praticamente todas as viagens.
O braço no Nordeste
Governador do Piauí por quatro mandatos e candidato ao Senado, Wellington Dias (PT) é o principal coordenador da campanha na região em que Lula teve melhor desempenho no primeiro turno.
Junto ao deputado José Guimarães (PT-CE), a governadora Fátima Bezerra (PT-RN) e o senador Camilo Santana (PT-CE), Dias articulou grande parte das alianças na região.
Os conselheiros
Próximo ao petista, há ainda ex-ministros importantes que são ouvidos pelo ex-presidente e ajudam na articulação com diferentes setores:
- Gilberto Carvalho (PT), assessor e conselheiro de Lula no governo e ex-ministro de Dilma, é um dos principais responsáveis pela agenda;
- Alexandre Padilha (PT-SP), deputado federal, um dos responsáveis pela articulação com o setor financeiro;
- Jacques Wagner (PT-BA), ex-ministro e senador, ajuda na interlocução política em Brasília, com o Judiciário e com militares;
- Luiz Dulci (PT), ex-ministro, faz interlocação com o agronegócio e também com militares;
- Celso Amorim (PT), ex-chanceler, é responsável pelo planejamento da político externa.