A Polícia Federal indiciou a mulher e a filha do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PP) por crime eleitoral, peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Elas se dizem inocentes.
Segundo a PF, a primeira-dama Lauremília Lucena e a filha Janine Lucena, ex-secretária municipal de saúde, teriam um acordo com membros da facção criminosa Nova Okaida, com quem negociariam cargos na prefeitura. Em troca, os criminosos dariam apoio ao grupo do prefeito e restringiriam o acesso de políticos rivais a comunidades.
Outras dez pessoas também foram indiciadas. O prefeito, candidato à reeleição, não está entre elas. No primeiro turno, Lucena teve 49% dos votos. No segundo, disputa com o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga (PL).
A divisão de tarefas foi claramente evidenciada. A facção criminosa assume o papel de restringir o acesso de outros candidatos aos territórios controlados. A Orcrim (organização criminosa) vale-se de violência e grave ameaça.
Relatório da PF, obtido pela coluna de Carlos Madeiro no Uol
Entenda o caso
Durante as investigações, como já havia mostrado a coluna, a PF descobriu diálogos entre a primeira-dama, sua filha e intermediários com integrantes da facção.
As conversas tratavam da nomeação de indicados pela facção para cargos públicos. Em troca, se discutia o apoio à reeleição da vereadora Raíssa Lacerda (PSB) e ao prefeito. Raíssa também chegou a ser presa e, poucos dias depois, renunciou à candidatura.
Segundo apuou a PF, a primeira-dama seria a pessoa responsável por dar cargos e gratificações a pessoas ligadas à facção. Diálogos dela e de sua secretária pessoal revelaram que a facção pedia até mudança de nomeações quando um dos membros era preso.
As vantagens são mútuas e retroalimentadas. O crime organizado presta o apoio em troca de indicação para cargo público. Os demais atores são beneficiados pelos votos e pelo controle de território, seja nas eleições proporcionais, seja nas eleições majoritárias.
Relatório da PF, obtido pela coluna de Carlos Madeiro no Uol
Lauremília chegou a ser presa na operação Território Livre, em 28 de setembro, e ficou detida até 1º de outubro, quando passou a cumprir medidas cautelares, com uso de tornozeleira e proibição de sair da cidade sem autorização judicial.
Janine, que não foi presa, deixou o cargo na Secretaria Municipal de Saúde no início de outubro. Ela foi flagrada pela PF em conversa com um líder facção, que cobrava cargos e um valor mensal para autorizar entrada em área dominada.
Indiciadas dizem que vão provar inocência
Em nota, o advogado de defesa da primeira-dama e da filha do prefeito diz que elas foram “indevidamente indiciadas” e que as acusações “não correspondem à realidade dos fatos.” “As indiciadas não possuem qualquer envolvimento com as práticas criminosas que lhes são atribuídas”, afirma.
É importante destacar que a Sra. Maria Lauremília de Lucena sempre foi uma pessoa íntegra, correta e profundamente compromissada com os mais necessitados, jamais se envolvendo em qualquer prática ilícita. Ao longo de sua trajetória, tem sido reconhecida por sua dedicação às causas sociais e por seu caráter inabalável.
Gustavo Botto Barros Felix, advogado de Lauremília e Janine Lucena
O advogado ainda cita que Janine está afastada da Prefeitura, “o que reforça a disposição em colaborar com a investigação de forma transparente.”
“O processo judicial será conduzido com o devido rigor legal, e a defesa confia plenamente que, no momento oportuno, a Justiça prevalecerá, assegurando a absolvição de ambas as indiciadas, comprovando sua inocência”, conclui.