A Coordenadoria de Investigação de Agentes com Foro (CIAF) da Polícia Civil do Rio e o Ministério Público estadual pediram à Justiça na última terça-feira a quebra dos sigilos telefônicos, telemáticos e informáticos dos três celulares, um computador e um tablet apreendidos no último dia 23 na casa do prefeito afastado do Rio, Marcelo Crivella. Os aparelhos eletrônicos foram retirados da residência por determinação do presidente do Superior Tribunal de Justiça, Humberto Martins, que em sua decisão concedendo prisao domiciliar a Crivella determinou restrições, como entrega de telefones celulares e computadores. A apreensão foi feita por policiais civis e um oficial de Justiça.
A informação sobre o pedido feito à Justiça foi revelado pelo “RJTV 1”, da TV Globo.
De acordo com a representação do CIAF à Justiça, à qual O GLOBO teve acesso, há indícios de que o celular entregue à polícia por Crivella durante busca e apreensão realizada em sua residência no dia 10 de setembro deste ano, não é, de fato, o telefone utilizado pelo prefeito afastado.
Os investigadores acreditam que Crivella tenha se valido de informações privilegiadas para atrapalhar as investigações e ocultar provas. “Há indícios suficientes de que o indiciado se valeu de informações privilegiadas, obtidas de forma criminosa, a respeito de operações policiais sigilosas, em especial a deflagração da segunda fase da Operação Hades para o cumprimento de mandados de busca e apreensão em sua residêncialocalizada na Barra da Tijuca”, diz o documento, assinado por três delegados do CIAF.
Na representação da coordenadoria, os delegados citam que causou estranheza a informação recebida pelos policiais ao chegarem no prédio de Crivella para a busca e apreensão realizada em 10 de setembro deste ano. Segundo o porteiro do edifício, o prefeito afastado havia chegado minutos antes. Imagens das câmeras de segurança do prédio requisitadas pela polícia comprovaram que Crivella chegou ao edifício 40 minutos antes da chegada dos agentes.
Além disso, de acordo com informações do documento, no primeiro toque da campainha, Crivella prontamente atendeu a porta, “como se já esperasse aquela diligência”. O prefeito afastado “não demonstrou perplexidade ou embaraço com a chegada dos policiais”.
Também foi observado pelos investigadores que a casa de Crivella estava impecavelmente arrumada, com todas as camas feitas, sem sinal de que alguém tivesse dormido no apartamento.
Outro ponto que chamou atenção foi a rapidez com que os advogados de Crivella chegaram ao apartamento após terem sido acionados por ele, embora ainda fosse cedo. De acordo com o documento , os advogados levaram sete minutos para chegar, “levando a crer que já estavam nas proximidades da residência do prefeito, cientes de que seriam acionados”.
Os delegados também afirmam terem encontrados evidências de que o celular apreendido na busca e apreensão do dia 10 de setembro não era de Crivella. Eles afirmam que o telefone estava vinculado ao e-mail de uma terceira pessoa. Além disso, dados de localização do celular apontaram que apenas em um dia o aparelho estava no condomínio de Crivella.
Nos demais registros de localização, consta que o aparelho estava na sede da prefeitura do Rio, na Cidade Nova. Também não foram encontrados no aparelho registros de ligações, mensagens ou qualquer contato com familiares do prefeito ou seu círculo íntimo.
Por fim, o documento do CIAF aponta que ao menos uma hora antes da operação o celular apreendido recebeu “mensagens comumente enviadas por operadoras de telefonia quando há inserção de um novo chip” no aparelho.
“A toda evidência o prefeito Marcelo Crivella tentou ardilosamente enganar as autoridades dos órgãos de persecução criminal ao entregar um aparelho celular que não é seu, de modo a impedir o acesso a provase informações e, por conseguinte, obstruir o andamento da investigação”, aponta o documento.
Os delegados representaram pelo afastamento do sigilo de dados telefônicos e telemáticos dos aparelhos eletrônicos apreendidos na residência de Crivella,e solicitaram ainda a extração de dados por software próprio. Um dos celulares apreendidos na residência é de Silvia Crivella, esposa do prefeito afastado.
Já em seu pedido, feito após a representação da Polícia Civil, o Ministério Público solicita também a quebra do sigilo informático e pede à Justiça que o material seja analisado pela Coordenadoria de Segurança e Inteligência do MP.
O MP também solicita que a medida seja deferida liminarmente, sem que a defesa de Crivella pudesse se pronunciar sobre ela. Em despacho nessa quarta-feira, a desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guitta determinou que fosse aberto prazo para os advogados de Crivella se pronunciassem sobre os pedidos. De acordo com a magistrada, como os aparelhos eletrônicos já foram apreendidos, não há risco “ao objeto da diligência pretendida.