Foragido há mais de um ano, ex-capitão do Bope é acusado de chefiar a milícia; a mulher dele relata ação ilegal e violenta
A Polícia Civil da Bahia fez uma operação nesta última sexta-feira (31) para prender o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado pelo Ministério Público de ser o chefe do Escritório do Crime, milícia que atua na Zona Oeste do Rio de Janeiro formada por assassinos de aluguel e que faria a segurança de chefes do jogo do bicho.
O alvo da ação foi uma casa num condomínio fechado na Costa do Sauípe, no litoral norte baiano. Nóbrega não foi encontrado. No local, estavam apenas a sua mulher, Júlia Mello, e as duas filhas de 17 e 7 anos.
Segundo reportagem da revista Veja, Júlia disse que a operação foi “ilegal e truculenta” e organizada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. “Eles quebraram a minha porta, arrancaram o forro do teto da casa, me xingaram de puta e piranha, e botaram um fuzil na cabeça de uma criança de sete anos, perguntando: ‘Onde está o seu pai?’”, relatou ela.
A Polícia Civil do Rio informou que recebeu a informação de que Nóbrega estaria na residência e enviaram até a Bahia um delegado e dois agentes. Segundo a Polícia Civil, há um mandado de prisão em aberto contra o ex-PM por homicídio qualificado.
Segundo Júlia, dez homens fortemente armados do Comado de Operações Especiais (COE) da Bahia reviraram toda a casa, que é alugada, e saíram sem levar nada. Ela conta que lhe apresentaram o mandado de prisão antigo do seu marido, datado de 20 de janeiro de 2019. Ela está de férias na Bahia desde o Revéillon e pretendia voltar ao Rio nos próximos dias.
“Eu estou apavorada. Eles podem me parar nas blitz nas estradas, estão cercando a casa. Eles queriam matar meu marido, tudo por política. Não posso ficar no meio disso”, disse ela, demonstrando desespero. Júlia relatou que neste sábado (1º) dois helicópteros da Polícia Civil da Bahia fizeram rasantes em cima da casa e que há policiais a paisana no condomínio.
Ela declara que o seu marido foi envolvido em uma conspiração armada pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que, segundo as suas palavras, quer “matar Nóbrega como queima de arquivo”. Ela, no entanto, não revelou o teor das denúncias que incriminariam o governador.
Nóbrega está foragido da Justiça desde janeiro de 2019. Ele também é investigado por outro grupo do Ministério Público do Rio de se beneficiar do suposto esquema de ‘rachadinha’ do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, que hoje é senador.
A mãe e a ex-mulher de Nóbrega eram assessoras do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio e teriam repassado parte de seus salários ao assessor parlamentar Fabrício Queiroz, segundo as investigações da promotoria. Nóbrega foi homenageado com a “Medalha Tiradentes” pelo filho do presidente Jair Bolsonaro, em 2005.
Na época, Adriano estava preso havia mais de um ano acusado pelo homicídio do guardador de carros Leandro dos Santos Silva. O ex-PM chegou a ser condenado pelo crime, mas acabou absolvido em outro julgamento e foi solto em 2006.
Segundo a revista, a polícia baiana foi procurada pela Veja mas ainda não se manifestaram.