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sábado 19 de junho de 2021 às 14:31h

Polarização entre Lula e Bolsonaro indica fracasso de lideranças da terceira via

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O PSDB marcou suas prévias para as calendas de novembro, num gesto celebrado como exercício democrático —“um avanço”, na opinião do jornal Folha de S. Paulo — e exibido como mecanismo de definição de um candidato de “terceira via”. Na prática, porém, a decisão só contribui para cristalizar a polarização entre Lula e Bolsonaro na corrida de 2022.

O lugar de Lula no segundo turno está virtualmente assegurado pelo peso político do PT. O lulismo, como ficou comprovado em todas as eleições, desde 1989, não é capaz de triunfar no primeiro turno, mas invariavelmente atinge o turno final, algo que se repetiu até com Haddad nas circunstâncias extremas criadas pelo impeachment e pela prisão de Lula. Não existe, contudo, garantia de que o atual presidente ultrapasse a barreira do turno inicial.

A estratégia eleitoral bolsonarista imita a de Donald Trump: assegurar a coesão de uma minoria fiel. O presidente aposta que sua base é suficiente para conduzi-lo ao turno final, quando tentaria obter os votos de um majoritário antipetismo. O problema é que o Brasil não é os EUA e Bolsonaro não é Trump.

Lá, há um sistema bipartidário com eleição em turno único que se conclui no Colégio Eleitoral. Aqui, um sistema pluripartidário com voto popular direto em dois turnos. Trump representava o Partido Republicano, que comanda o apoio de cerca de dois quintos do eleitorado. Bolsonaro carece de partido forte e seu desgoverno provoca erosão crescente em suas taxas de popularidade.

Descortina-se um horizonte sombrio diante de Bolsonaro. A exposição dos crimes do governo federal contra a saúde pública pela CPI, a persistência da pandemia e a trajetória ascendente das taxas de juros configuram um cenário desolador para o presidente.

Tudo tende a piorar com a crise hídrica, que traz o risco de racionamento energético e as certezas de aumento da inflação e dos juros. Em tese, abrem-se as portas para um turno final entre Lula e Mister X, o que significaria uma lufada de ar descontaminado para a democracia brasileira.

O ponto é que inexiste Mister X, o candidato do “centro” ou da “terceira via”. Longe dos microfones, em jantares partidários ou articulações online promovidas por círculos fechados, os dirigentes desse amplo e indefinido campo político prometem selecionar um candidato único.

Mas, à luz do dia, cada corrente posiciona um nome para a disputa. Ciro Gomes já está no palco, movendo-se inteligentemente da esquerda para o centro. Doria é o favorito óbvio nas prévias tucanas.
Depois das renúncias explícita de Huck e tácita de Moro, despontam, ainda, pré-candidatos mais ou menos especulativos como Mandetta, Rodrigo Pacheco, Simone Tebet e Alexandre Kalil. O “centro” tem poucas ideias e nomes em excesso.

Tudo se passa, na “terceira via”, como se experimentássemos tempos normais, não uma uma guerra crônica contra as instituições democráticas promovida pela extrema direita bolsonarista e os militares de pijama que a cortejam. Aos distraídos que, em 2018, aderiram a Bolsonaro (como Doria e Mandetta) ou lavaram as mãos votando nulo ou branco (como FHC e Huck) parece faltar um módico senso de urgência.

De fato, nessa trajetória, condenam os brasileiros a sufragar o populismo democrático para cortar as asas do populismo antidemocrático.

O tempo é implacável. A polarização eleitoral Lula/Bolsonaro não indica a ausência de um vasto eleitorado que aprendeu com o passado recente e com o desastre em curso, mas unicamente o fracasso político das lideranças da chamada “terceira via”.

Postergando a seleção de um candidato único de “centro” para o ano que vem, o PSDB sedimenta as candidaturas polares. Presta, assim, um serviço a Bolsonaro, aplainando seu caminho ao turno final, e outro a Lula, consagrando-o como o candidato de centro na disputa decisiva contra o presidente extremista.

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