O Palácio do Planato montou segundo Jeniffer Gularte, do O Globo, a estratégia de formar dois grupos com missões distintas entre a sua base de apoio dentro da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro. Com expectativa de ter pouco mais de 20 parlamentares entre os 32 integrantes do colegiado, o governo planeja dividi-los em dois blocos. Um deles reunirá os “palanqueiros” e “bons de briga”, encarregados do embate direto com parlamentares bolsonaristas, com capacidade rápida de resposta a provocações e com fôlego para ajudar a pautar a disputa por narrativa nas redes sociais. No outro, estarão parlamentares que farão a sustentação dos argumentos técnicos para a preparação de depoimentos e darão densidade política à versão do governo.
Articuladores do governo ainda estão mapeando quem é quem de acordo com as indicações dos partidos. Alguns parlamentares já sinalizaram ao Planalto querem fazer parte da tropa de choque do governo, entre eles o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ). Outro que seria do mesmo grupo é o deputado André Janones (Avante-MG) — o seu partido, porém, só terá direito a uma vaga reservada a um rodízio com outras cinco legendas.
Caso sejam confirmados na comissão, Janones e Farias devem integrar o grupo mais estridente do governo. Caciques do PT já têm em mãos a lista de deputados e senadores que pleiteiam o direito de participar desse grupo.
Na Câmara, onde o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá direito a duas vagas, além de Farias, Rubens Pereira Junior (MA) e Rogério Correia (MG) disputam os postos. Dois deles serão escolhidos titulares, enquanto caberá a um terceiro a suplência.
Entre os parlamentares, que irão dar fôlego ao debate político, estão cotados Renan Calheiros (MDB-AL) e Omar Aziz (PSD-AM). Pelo PT do Senado, Fabiano Contarato (ES) e Humberto Costa (PE) pediram para participar da CPI. O governo quer ter entre sua base de apoio parlamentares que tenham experiências nas Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) e Segurança Pública. Por esse critério, Calheiros é presidente da CRE e considerado um parlamentar de confiança do Planalto.
O governo também quer evitar a todo custo que a oposição reduza as discussões da CPI aos atos de 8 de janeiro. Os aliados do governo estão sendo instruídos a alargar a discussão para os acampamentos golpistas em frente aos quartéis, que se iniciaram em novembro de 2022 e são considerados epicentro da trama golpista que resultou na invasão das sedes dos Três Poderes. O objetivo do Planalto é mostrar que os ataques foram maturados ao longo de semanas e que decisões do governo anterior culminaram nas invasões.
As discussões de articulação do governo para a CPI estão sendo capitaneadas pelos ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Rui Costa (Casa Civil), Flavio Dino (Justiça), José Múcio Monteiro (Defesa), Jorge Messias (AGI) e Vinicius Carvalho (CGU). Com o retorno de Lula da Europa, novos pontos serão validados com o presidente a partir desta quinta-feira.
Outra estratégia já traçada pelo Planalto é evitar que a CPI leve a uma nova crise com as Forças Armadas. De acordo com articuladores de Lula, o tom do governo será de focar em pessoas suspeitas de terem cometido crimes e detectar quem financiou atos golpistas contra a democracia, e não em ataques a generais.
Integrantes do Palácio do Planalto já têm avisado a parlamentares para evitar críticas direcionadas a militares. Dentro desse contexto, a afirmação de Lindbergh Farias, de que os parlamentares querem convocar o ex-comandante do Exército, general Julio Cesar Arruda, a depor na CPI, incomodou membros do governo, pois não é o tom desejado para a comissão.
Nesta quarta-feira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), faz a leitura do requerimento de criação da CPMI dos atos de 8 de Janeiro. A partir de agora, líderes partidários devem indicar os nomes dos parlamentares que farão parte da composição do colegiado.