O que os caminhoneiros queriam, o governo diz que deu. Diesel mais barato, reajuste mensal, isenção de pedágio para eixo suspenso, tabela de valor mínimo para frete. Na verdade, os motoristas conseguiram até um pouco mais do que inicialmente pediam. Mesmo assim, a paralisação não dá sinais de terminar. Grupos permanecem bloqueando estradas em todo o País.
De acordo com a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), cerca de 250 mil caminhões permaneciam parados nas estradas na segunda-feira, o equivalente a 30% dos que vinham participando do movimento. E a negociação com esses motoristas tem se mostrado praticamente impossível.
Esses caminhoneiros não seguem lideranças tradicionais. Têm pedidos difusos, que incluem a saída do presidente Michel Temer e a intervenção militar no Brasil. Querem que não só o diesel, mas agora também a gasolina, baixe de preço. Acreditam piamente em mensagens que recebem no WhatsApp – como a informação falsa de que, após sete dias e seis horas de paralisação, os militares tomariam o poder. Por isso, nenhum acordo fechado com o governo surte efeito. “Virou uma situação sem controle”, diz o presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo da Silva, conhecido como China.
Fontes do governo federal informam que foram identificados pelo menos três grupos políticos “infiltrados” nas paralisações.
As medidas anunciadas pelo governo federal para atender às demandas dos caminhoneiros em greve no País não aliviaram a tensão. Nos bloqueios, os motoristas diziam que o movimento ganhou força política na segunda, defendiam “intervenção militar” e afirmavam que o governo federal terá de cortar em 25% os preços de todos os combustíveis na bomba, além de eliminar o PIS/Cofins.
Com o desabastecimento colocando o País em um quadro cada vez mais caótico, a indignação da população tem aumentado. Uma pesquisa da empresa Torabit, especializada em medição de comentários nas redes sociais, mostrou que o apoio explícito dos internautas à greve caiu vertiginosamente. Na sexta-feira, 53,5% dos posts em redes sociais e blogs eram favoráveis à paralisação. Ontem, esse porcentual havia caído para 34,5%.
População com medo
Supermercados saqueados no Rio de Janeiro, prateleiras vazias, alimentos estragados, pacientes morrendo em hospitais por falta de medicamentos, caminhões em chamas, Brasília sitiada e um golpe de Estado em curso.