O Centrão tem uma longa história na Câmara dos Deputados. O nome surgiu segundo a coluna Maquiavel, ainda na discussão da Constituição de 1988, quando partidos como PFL, PL, PDS e PTB se uniram para fazer frente ao protagonismo do MDB progressista de Ulysses Guimarães, mas sem deixar de apoiar o governo José Sarney. De lá para cá, o termo passou a designar qualquer agrupamento de partidos de centro e direita marcado pela flexibilidade para apoiar qualquer presidente em troca de cargos, emendas e influência na máquina pública.
A última versão do Centrão foi a do governo Jair Bolsonaro, quando uma aliança formada por PL, PP e Republicanos passou a dar sustentação ao presidente, que enfrentava dificuldades de todo tipo em suas articulações no Congresso. O bloco ganhou muita força, materializado em certa parte pela ascensão de Arthur Lira (PP-AL) ao comando da Câmara, e tomou conta de boa parte do governo.
Aquela versão do Centrão, no entanto, desintegrou-se nos primeiros dias de governo Lula. Cada um foi para um lado. O Republicanos foi o primeiro a pular fora. Guiado pelo seu presidente, Marcos Pereira – um pastor ligado à Igreja Universal –, a legenda saiu da esfera de influência de Lira e se juntou ao bloco de cinco partidos (Republicanos, MDB, PSD, Podemos e PSC) e 142 deputados formado na semana retrasada e que, ao menos por ora, parece flertar com o governo.
Na reação, Lira juntou nove partidos e formou um bloco ainda maior, com o seu PP e mais União Brasil, PDT, PSB, Solidariedade, Avante, Patriota, PSDB e Cidadania. A frente tem 175 deputados e se tornou a mais poderosa da Câmara.
Ficou de fora o PL, por ironia, o partido que conseguiu eleger a maior bancada na última eleição, em 2022, com 99 deputados. A sigla comandada por Valdemar Costa Neto continua próxima do bolsonarismo – abriga, inclusive, quase toda a ala radical dos apoiadores do presidente –, mas agora caminha sozinha na Câmara.
Há quem diga que a Câmara agora tem não um, mas dois Centrões, com os dois superblocos reunindo os partidos de centro e centro-direita — o que pode criar um problema para o governo, que terá que negociar nas duas frentes.
A definição sobre como irão se comportar esses agrupamentos, no entanto, vai depender de quando o jogo começar para valer, ou seja, quando a Câmara começar a votar as primeiras propostas do governo Lula. Por enquanto, o que existe é muita especulação e pouca certeza.