O esvaziamento da “Marcha a Favor da Vida” no momento em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) discursava, neste último domingo (8) impressionou a cúpula do PL e já provocou uma espécie de “caça às bruxas” no partido, em busca de um culpado pelo baixo quórum. Bolsonaro chegou a atribuir a falta de público em Belo Horizonte, no ato contra a descriminalização do aborto, ao medo das pessoas de participarem de manifestações, após as prisões ocorridas na esteira dos ataques de 8 de janeiro.
Mesmo assim, ele não se deu por vencido e, ao lado da ex-primeira dama Michelle, aproveitou o palanque do caminhão de som, na Praça da Liberdade, para dizer que “as portas do inferno se abriram” após sua saída do Palácio do Planalto.
Inelegível e acusado de incitar um golpe em 8 de janeiro, uma semana depois de Lula da Silva (PT) subir a rampa do Planalto, Bolsonaro afirmou que o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a analisar agora temas que não entravam na pauta antes. Citou o julgamento que derrubou a tese do marco temporal das terras indígenas e outros que não terminaram, como o da descriminalização do porte de maconha para consumo próprio e do aborto
Nem com esse discurso, no entanto, o ex-presidente conseguiu atrair mais plateia. No dia anterior, Bolsonaro havia se encontrado com o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), de quem se afastara após críticas do antigo aliado.
Para o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), o esvaziamento do ato com a presença de Bolsonaro não reflete sua perda de capital político, mas, sim, a falta de mobilização dos católicos carismáticos. A manifestação deste domingo, 8, marcou o Dia do Nascituro, data em que a Igreja estimula a adoção como aliada contra o aborto, e reuniu pessoas vestidas de branco, muitas delas cantando músicas religiosas.
“Essa marcha existe há vários anos, liderada e organizada pelos católicos carismáticos, e sempre foi esvaziada”, disse Sóstenes, que integra a Frente Parlamentar Evangélica e é um dos vice-presidentes da Câmara. “Lamentavelmente, pela misturaue têm com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), os católicos não conseguem mobilizar muita gente. As marchas da direita que enchem são as convocadas por evangélicos e militares”, completou.
Na avaliação de petistas, porém, o ex-presidente quer desviar a atenção das denúncias que pesam contra ele, jogando os holofotes para a pauta de costumes.
“Bolsonaro tenta mobilizar a população contra o Supremo e constranger a Corte porque sabe que pode ser condenado e preso pelo desvio e venda de joias”, resumiu o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), numa referência ao caso revelado pelo Estadão. “É um movimento preventivo, mas ele não tem mais a força que tinha no passado”, emendou Lindbergh.