Integrantes do PL, partido de Jair Bolsonaro, mudaram de opinião de acordo com a colunista Malu Gaspar, do O Globo, sobre a temporada do ex-presidente nos Estados Unidos, após os atentados terroristas que culminaram com a invasão e a depredação da sede dos três poderes.
Agora, a avaliação é a de que é melhor Bolsonaro submergir, passar mais um tempo afastado e esperar a poeira baixar, se é que isso é possível.
Antes de extremistas atacarem o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), a posição da cúpula do PL era a de que Bolsonaro deveria voltar para o Brasil o quanto antes e se empenhar para mobilizar a militância, recuperar o capital político e firmar-se como principal voz de oposição ao governo Lula.
O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, até acertou um salário de R$ 39,2 mil mensais a Bolsonaro, mas condicionou o pagamento ao retorno do ex-capitão ao Brasil, conforme informou a colunista Bela Megale.
Bolsonaro cogita esticar a temporada nos Estados Unidos, com um plano de palestras que poderia ajudar a custear suas despesas enquanto estiver longe do Brasil, de acordo com o jornal Folha de S. Paulo.
Aliados não descartam inclusive a possibilidade de o ex-presidente emendar o “exílio” nos EUA com uma temporada na Itália depois.
Para interlocutores de Bolsonaro, a péssima repercussão nacional e internacional dos atentados fortaleceu Lula e o ministro Alexandre de Moraes perante a opinião pública, enquanto o ex-presidente não foi só duramente atingido pelos acontecimentos como entrou na mira de um inquérito que investiga os atos antidemocráticos.
Para piorar a situação de Bolsonaro, a minuta golpista achada na casa do ex-ministro Anderson Torres vai ser usada pelo PT e pelo PDT para tentar reforçar as acusações de abuso de poder e impedi-lo de disputar eleições pelos próximos oito anos.
Na prática, tanto o Supremo Tribunal Federal (STF) quanto o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estão fechando o cerco contra o ex-presidente em diversas frentes.
“Com os ataques em Brasília e a minuta, Bolsonaro está no olho do furacão. É melhor esperar um tempo lá fora para esperar a situação se acalmar. Se ele voltar agora, a confusão será grande”, resume um integrante do PL, entusiasta da ideia de manter o ex-presidente por longe, pelo menos por ora.
Mas ainda é incerto como ficaria a questão do pagamento do salário a Bolsonaro em um cenário de “exílio” ampliado.
O entorno do ex-presidente está convencido de que Moraes e o TSE vão se empenhar em coletar provas para inviabilizar, aos poucos, a sobrevivência política do ex-ocupante do Palácio do Planalto.
Ao todo, tramitam no TSE 16 ações que investigam a fracassada campanha do ex-candidato do PL à reeleição por abuso de poder político e econômico, além de uso indevido dos meios de comunicação.
Dentro do PL, a inelegibilidade do ex-presidente já é dada como certa. A dúvida é quanto ao timing da decisão do tribunal.
Sobre uma eventual prisão, integrantes do partido avaliam que uma medida nesse sentido teria o potencial de incendiar o país – e fazer com que os extremistas que acamparam na porta dos quartéis se mobilizem na frente de superintendências da Polícia Federal, para protestar contra o encarceramento do ex-presidente.
“Tem muita gente que idolatra Bolsonaro, mas que não é necessariamente terrorista e está disposta a fazer muito barulho”, alerta um aliado.
Com as contas bloqueadas por decisão do TSE, que aplicou ao PL uma multa de R$ 22,9 milhões, tudo que o partido de Bolsonaro não quer é mais ruídos.
Falta combinar com os russos – e com o próprio Bolsonaro.