Game changer para o setor de apostas, o projeto de lei que regulamenta as chamadas ‘bets’, aprovado na última quinta-feira (21) pela Câmara dos Deputados, deve trazer um efeito cascata que vai além das empresas que oferecem o serviço.
Um dos segmentos segundo reportagem de Karina Souza, da revista Exame, que deve se abrir é o de meios de pagamento. O PL prevê que as empresas autorizadas a funcionar no país terão de “contratar entidade brasileira autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil”.
“Essa exigência deve trazer entidades reguladas tradicionais para esse meio e abre espaço para que operadores especializados nesse meio busquem a autorização do Banco Central para funcionar”, diz Pedro Simões, advogado do Veirano Advogados. “O mercado é enorme. Mais de 130 empresas de apostas estão na fila para a autorização para operar no Brasil e vão precisar de um operador de meios de pagamento local”.
Entre as empresas especializadas no nicho, a Pay4Fun é um dos principais nomes no Brasil. Fundada em 2018, a companhia brasileira cresceu no vácuo dos riscos regulatórios do setor, que afastaram os grandes players até agora – e já garantiu autorização do Banco Central para funcionar como instituição de pagamentos.
Além dela, outros nomes, como Anspace e Octo, também especializados no segmento, poderão vir para o Brasil buscar algum tipo de regulamentação (e consequentemente, engrossar a competição).
A Pay4Fun atende hoje 430 sites de apostas e processou R$ 4,2 bilhões em volume de transações de janeiro a agosto, mais que o dobro de todo o volume do ano passado. Só nos primeiros seis meses deste ano, faturou R$ 65 milhões, contra R$ 50 milhões de 2022 como um todo.
“Estimamos que o mercado movimente de R$ 12 bilhões a R$ 15 bilhões por mês, o que nos dá muito espaço para crescer”, diz Leonardo Baptista, CEO da Pay4Fun.
Hoje, a principal concorrência da Pay4Fun é feita por empresas que contratam provedores de banking-as-service, com plataformas white label desenvolvidas para os sites, sendo formadas principalmente por arranjos mais precários.
“Nossos maiores competidores são empresas de fundo de quintal que abrem um CNPJ, contratam um PIX de Banking as a service e oferecem esse serviço às empresas a um preço ridiculamente baixo, sem nenhum tipo de controle do Banco Central”, diz Baptista.
A manobra para essas empresas continuarem de pé, segundo ele, passa por um rito constante de fechamento e abertura de empresas, que chegam a ter um capital social tão baixo quanto R$ 10 mil. O da Pay4Fun, para referência, é de R$ 29 milhões, de acordo com os dados do Banco Central.
Mais do que ter um patrimônio maior, a companhia investe em ferramentas de ‘conheça seu cliente’ e de prevenção à lavagem de dinheiro. Um dos principais pontos que diferencia a compra processada pela Pay4Fun em relação a qualquer outro pagamento de e-commerce é o de não permitir que QR Codes de pagamento sejam gerados no nome de uma pessoa e pagos no nome de outra. Da mesma forma, prêmios no nome de um apostador não vão para a conta de outra pessoa.
“O projeto de lei trouxe um ponto fantástico. Só de exigir que o prestador de serviço de meios de pagamento tenha que ser autorizado pelo Banco Central, já é possível cortar todos os players que não têm nenhum tipo de régua de compliance, em um mercado de alto risco. Muita gente vai querer atuar nesse mercado, mas, graças à nossa experiência, consideramos que a Pay4Fun está cinco anos na frente”, diz o CEO.
Ao mesmo tempo, a Pay4Fun também já se movimenta para fazer o caminho inverso: se preparar para entrar no mercado dominado por concorrentes de grande porte. Para o ano que vem, o primeiro alvo deve ser o segmento de entretenimento, no qual a companhia já tem alguma familiaridade, mas ainda de forma tímida: hoje, patrocina pilotos na stock car, kart e stock series.
“Eu vou bater à porta de uma Sympla, da Eventim, Tickets for Fun, por exemplo, e dizer ainda conforme a Exame, que eu tenho meu método de pagamento. Do mesmo jeito que pode acontecer de um PagSeguro bater no mercado de jogos, eu vou no mercado deles”, afirma o CEO.
Outro plano, que, por enquanto, ainda está no papel, é a internacionalização. Para 2024, a Pay4Fun pretende entrar em outros mercados da América Latina, como Argentina, Peru, Chile e México.