O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 4,1% em 2020 na comparação com o ano anterior, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta quarta-feira (3). Este foi o pior desempenho da série histórica atual, iniciada em 1996, em um ano marcado pela pandemia do novo coronavírus e a paralisação da economia global por conta das medidas de isolamento social.
O resultado interrompe conforme a Jovem Pan a sequência de três anos de altas após os crescimentos pífios de 1,4% em 2019, 1,8% em 2018 e 1,3% em 2017. O tombo histórico está acima da previsão de queda inferior a 4% estimada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Já analistas do mercado esperavam recuo semelhante ao registrado pelo IBGE. Economistas e entidades projetavam queda de 4,3%, segundo Boletim Focus publicado em 15 de janeiro, o último com previsões de 2020.
Entre os setores analisados, apenas o agronegócio teve resultado positivo. A alta foi de 2%, influenciada pela rápida recuperação da economia chinesa e o aumento do consumo interno pela mudança dos hábitos alimentares por causa da pandemia. O setor de serviços, o mais impactado pelas restrições de mobilidade, registrou queda de 4,5%, enquanto a indústria registrou baixa de 3,5%. No quarto trimestre de 2020, o PIB avançou 3,2% na comparação com o terceiro trimestre do ano, quando a alta foi de 7,7%.
Antes mesmo da eclosão da pandemia do novo coronavírus no Brasil, a partir de março de 2020, já estavam claros os sinais do tamanho da encrenca que estava à frente após a paralisação de atividades na China, e, posteriormente na Europa. Não era difícil prever que menos dia ou mais dia a situação chegaria neste lado do Atlântico, e que o resultado em uma economia que ainda nem havia se recuperado de crises recentes seria devastador. Em poucos meses, a Covid-19 levou à pique setores fundamentais da economia nacional. Por causa das medidas de isolamento social, o estrago foi especialmente significativo no segmento de serviços — como hotéis, bares, restaurantes e toda a cadeia de viagens — justamente o principal mercado empregador e maior componente do PIB. O tombo histórico de 9,6% da economia no segundo trimestre, somado ao recuo de 1,5% no período anterior, deixou o país oficialmente em recessão técnica.
O ano de 2021 iniciou com a promessa de recuperação da economia brasileira. Se o otimismo era pautado na retomada das atividades econômicas a partir da imunização da população, o noticiário recente jogou um balde de água fria, e analistas já começam a refazer os cálculos para um crescimento do PIB mais tímido do que o esperado. Economistas e entidades consultadas pelo Banco Central estimaram crescimento de 3,29% neste ano, segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 1º, o mesmo valor da semana passada. Há um mês, a projeção apontava avanço de 3,5%. A disparada do número de infecções, quando se esperava justamente o contrário, é o principal fator para a quebra da euforia. Os entraves para a imunização da população e a retomada das medidas de isolamento social enquanto ainda não há definição da volta do auxílio emergencial também limitam o potencial de crescimento dos índices.
Década perdida
Com expectativa de retração de 4,3% do PIB do ano passado, um levantamento do banco Credit Suisse apontou que o país terá crescimento médio anual de 0,2% entre 2011 e 2020, bastante abaixo da média de 1,6% registrada no intervalo entre 1981 e 1990, popularmente conhecido como a década perdida pela estagnação da economia em meio à disparada da inflação e descontrole monetário. Os dados do IBGE mostram que a economia nacional já andava de lado antes mesmo da pandemia do novo coronavírus, reflexo de políticas equivocadas e investimentos mal feitos. Em 2019, o PIB cresceu 1,4%, ante avanço de 1,8% registrado em 2018, e 1,3% 2017. Os anos anteriores foram catastróficos: queda de 3,3% em 2016, antecedido por um tombo ainda maior, de 3,5%, em 2015. Em 2014, o PIB fechou com alta pífia de 0,5%. Os dados contrastam com a pujança econômica registrada no fim da primeira década do milênio e o início dos anos 2010, quando o Brasil surfava na onda global das commodities. Em 2011, a economia avançou 4%, seguida por alta de 1,9% em 2012, e crescimento de 3% em 2013.