O mercado vêm realizando revisões em série para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, indicando que a alta será maior que o esperado durante o primeiro semestre. E, segundo especialistas, o chamado PIB potencial do Brasil indica uma margem ainda maior de expansão.
O último Boletim Focus, divulgado em 22 de agosto, traz a previsão de alta de 2,02% neste ano. No início de 2022, a projeção do mercado era de 0,28%. Considerando o primeiro trimestre, a alta foi de 1%.
Segundo Juliana Trece, pesquisadora do Ibre-FGV na CNN, o chamado hiato, ou distância, entre o PIB real e o potencial calculado pelo instituto tem reduzido. Considerando o primeiro trimestre, ele foi de 1,4%. No último trimestre de 2021, chegou à menor diferença em mais de sete anos, com -0,4%.
Isso indica que uma recuperação da economia brasileira em relação aos anos anteriores, quando o hiato era maior, mas também um potencial para um crescimento ainda maior no ano.
Ao mesmo tempo, sinaliza uma dificuldade nos próximos anos: fazer com que o PIB potencial do Brasil cresça, revertendo condições desfavoráveis na economia atualmente.
Desempenho em 2022
O chamado PIB potencial é uma medida teórica, que leva em consideração o quanto a economia cresceria em um cenário sem inflação descontrolada, com emprego em patamar que não pressiona a economia, ou seja, um ambiente sem pressões inflacionárias, afirma Juliana Inhasz, professora do Insper.
Nesse sentido, os cálculos de PIB potencial do país podem variar, mas Paula Magalhães, economista-chefe da AC Pastore, diz que as estimativas variam em um intervalo de crescimento potencial entre 1% e 2% ao ano.
Por isso, ela avalia que o país “tem ficado perto do PIB potencial, tanto que a inflação não acelerou em momentos que crescia ao redor de 1% desde 2016. Ela acelerou recentemente por causa de choques, mas vemos um componente de demanda também, por isso espera-se um crescimento acima do potencial, de 2%”.
A economista considera que esse cenário de crescimento, maior que o esperado inicialmente pelo mercado, se apoia em uma dinâmica externa, de alta nos preços das commodities, além de um impulso fiscal a partir de medidas do governo federal, com mais gastos.
Magalhães ainda vê um espaço potencial de crescimento, mas menor. Desde 2015, com a crise econômica e um quadro de recessão, o PIB real reverteu a tendência de crescimento acima do potencial, com uma diferença, ou hiato, negativo até hoje.
No auge da pandemia, por exemplo, o hiato chegou a 14%, e no auge da crise de 2014, a 6%, cenário distante do atual. “O hiato está fechando rapidamente, ainda tem uma certa ociosidade, até pelo lado do mercado de trabalho, que cresce, e uma certa inflação de demanda além da de oferta”.
Ela ressalta que essa diferença menor não se deve apenas a um crescimento maior, mas também a uma tendência de estagnação do PIB potencial do Brasil nos últimos anos.