terça-feira 7 de janeiro de 2025
Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal (PF) — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
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segunda-feira 6 de janeiro de 2025 às 16:45h

‘PF vai apresentar relatório sobre tentativa de golpe de Estado’, diz Andrei Rodrigues

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Dois anos após os atos de 8 de janeiro de 2023, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirma que a instituição prepara um relatório complementar na investigação sobre a tentativa de golpe de Estado em que o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 39 pessoas foram indiciadas. Novos depoimentos e materiais apreendidos na Operação Contragolpe, realizada em novembro, estão em análise para que mais conclusões sejam apresentadas à Procuradoria-Geral da República (PGR), que analisa se apresenta ou não uma denúncia contra os suspeitos. Na prática, isso pode resultar na implicação de novos personagens na trama.

Em entrevista a Jeniffer Gularte e Marco Grillo, do O Globo, Rodrigues diz que a PF não vai “passar a mão na cabeça de ninguém”, sejam militares ou policiais. O chefe da PF acrescenta ainda que as investigações sobre as emendas parlamentares estão em curso, mas pondera que não se pode “criminalizar de antemão” o repasse de verbas pelos congressistas.

Há uma série de executores dos atos de 8 de janeiro presos, e mentores intelectuais também foram identificados. O que falta para a PF chegar aos financiadores?

A investigação apresentou toda a extensão dos responsáveis pelos crimes. Isso passa por pessoas que planejaram, executaram e financiaram, ainda que sem um grande aporte de recursos. Todas as provas coletadas e o porquê cada um foi implicado estão no relatório apresentado ao Poder Judiciário.

Mauro Cid disse à PF que o dinheiro entregue pelo general Walter Braga Netto para financiar um plano que envolvia o assassinato de autoridades foi obtido com o “pessoal do agronegócio”. Já se sabe quem são essas pessoas?

Ainda permanecem questões que estão sendo apuradas, até em razão da Operação Contragolpe (realizada em novembro). A partir das apreensões realizadas nessa fase, de depoimentos coletados, dos que ainda serão tomados e de outros fatores que estão sendo apurados, vamos finalizar um relatório complementar que também vai servir de base para a Procuradoria-Geral da República fazer a análise.

Esse relatório complementar pode incluir um detalhamento maior sobre o financiamento?

Há expectativa das pessoas de que houvesse um ou alguns grandes financiadores, mas a investigação é clara ao apontar que houve várias pessoas, algumas já presas e condenadas. Um cedeu um ônibus, outro cedeu água, outro cedeu comida… Existe essa pulverização. E agora há esse fato trazido pelo depoimento (de Cid). Vai ser apurado exatamente de onde saiu esse valor. Mas são detalhes que não interferem no seio da investigação, que apontou cabalmente a tentativa de golpe.

A investigação cita um plano para matar o ministro Alexandre de Moraes, do STF, o presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin. O que aconteceu para que essa iniciativa não fosse concretizada?

Já fomos criticados: “Olha, pensar em matar não é crime”. Mas ninguém foi indiciado por tentativa de homicídio ou qualquer outro motivo que não por golpe de Estado. Isso (plano) é um fragmento do relatório, dentro do contexto do golpe, de uma ação focada em neutralizar o principal ator, o ministro Alexandre de Moraes, o presidente e o vice eleitos, para que se criasse transtorno social. Não aconteceu porque não houve a adesão de duas das Forças Armadas (Exército e Aeronáutica) nem a comoção popular que se imaginava. Mas não estamos falando de cogitação, são ações que foram colocadas em prática. As pessoas estavam nas ruas vigiando o ministro Alexandre de Moraes. A impressão de um plano para matar o presidente da República (Lula) foi feita dentro do Palácio do Planalto, e o plano foi levado ao Palácio da Alvorada, onde estava o então presidente da República (Jair Bolsonaro).

A PF trabalha com a possibilidade de novas delações como, por exemplo, a do general Mário Fernandes?

A delação é um direito do investigado, e a Polícia Federal está sempre disponível a receber quem resolva colaborar. Mas essa colaboração tem que ser inovadora e trazer elementos desconhecidos, não simplesmente confirmar os dados que já possuímos.

A prisão do general Braga Netto gerou apreensão em aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro pela possibilidade de novas detenções, como a do ex-ministro Augusto Heleno. Haverá novas prisões?

Ficou demonstrado que ele (Braga Netto) estava tentando interferir na delação (de Cid) e obtendo informações da investigação. A PF não entra em tema político-partidário. Nós não vamos perseguir nem proteger ninguém. Se houver um fato novo que atenda aos requisitos jurídicos, técnicos e legais, é possível, sim, que outras prisões ocorram. Ninguém está imune à legislação. Todos temos o mesmo sentimento de que precisamos separar as instituições daquelas pessoas que se desviaram. Inclusive, um policial federal já foi preso. Não vamos passar a mão na cabeça de ninguém, seja militar, policial, profissional liberal…

A PF começou a investigar a destinação de uma série de emendas parlamentares por decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal. O que se pode esperar dessas apurações?

É uma determinação da Suprema Corte a partir de denúncias feitas por parlamentares. Não posso ir além disso. É uma investigação que está sob sigilo. Mas não se pode de antemão criminalizar todos os processos de emenda parlamentar. Vamos fazer com tranquilidade, com a profundidade necessária. E não vejo motivo para reação. Foi uma decisão do STF.

Isso abalou a sua relação com o presidente da Câmara, Arthur Lira?

Tenho uma relação muito cordial e franca com o presidente Arthur Lira. Tenho o maior respeito pelo Parlamento e não vejo nenhum motivo de abalo nas relações entre as instituições ou entre as pessoas. Cada um cumpre o seu papel: o presidente da Casa defendendo os seus pares, e eu defendendo aquilo que entendo que seja o correto.

Recentemente, os deputados Marcel Van Hattem e Cabo Gilberto Silva foram indiciados após ofensas ao delegado Fábio Shor. Isso não estremece a relação com o Congresso?

A imunidade parlamentar não abriga o cometimento de crimes exercidos na função. Portanto, o que a autoridade policial concluiu é que houve esse excesso que transborda a imunidade paramentar. Mas não sou eu que vai dizer se a medida é acertada. Vai ser a Procuradoria-Geral da República e a Suprema Corte.

A Polícia Federal indiciou o ministro Juscelino Filho (Comunicações) por suspeita de desvio no uso de emendas parlamentares. Há desdobramentos em curso?

Esse inquérito já foi relatado (entregue à Justiça). Só mostra aquilo que eu, o presidente Lula e o ministro (Ricardo) Lewandowski (da Justiça) pregamos: a autonomia das investigações. E isso, por vezes, pode atingir pessoas que são ligadas ao governo ou à oposição. Atuamos de maneira técnica e independente.

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