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sexta-feira 26 de agosto de 2022 às 07:18h

Petrolífera francesa é acusada de participar do abastecimento de aviões da Rússia que atacam a Ucrânia

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A petrolífera francesa TotalEnergies se vê envolvida em nova controvérsia sobre suas relações comerciais ambíguas com a Rússia. Na quarta-feira (24), o jornal Le Monde revelou, com base em documentos obtidos pela ONG Global Witness, que a companhia continua participando de maneira indireta do fornecimento de combustível usado pela força aérea russa nos ataques à Ucrânia. A Total nega as acusações, embora mantenha investimentos no setor do gás russo por meio de empresas parceiras.

A guerra lançada pela Rússia na Ucrânia obrigou a TotalEnergies a encerrar algumas atividades que mantinha na Rússia, devido à forte pressão da opinião pública e do governo francês. No entanto, a ONG Global Witness apurou que a gigante petrolífera continua tirando benefícios do campo de gás de Termokarstovoye, localizado no norte da Sibéria. No local, a empresa Ternefetgaz, de propriedade conjunta da Total (49% das ações) com a russa Novatek (51%), transforma gás condensado em querosene, que depois é enviado para duas bases militares.

Segundo a ONG Anistia Internacional, caças russos Sukhoi abastecidos com querosene proveniente de instalações da Novatek estiveram envolvidos nos bombardeios que devastaram Mariupol, inclusive o teatro da cidade ucraniana, onde 600 pessoas morreram em março. Atualmente, o combustível produzido pelas parceiras da TotalEnergies abastece esquadrões russos que bombardeiam Kharviv, a terceira maior cidade da Ucrânia.

Louis Wilson, membro da ONG Global Witness, explicou à RFI que essas aeronaves promovem ataques como o que, em março, levou à morte de 47 civis que estavam numa fila de distribuição de comida, nos arredores de Kiev.

A empresa francesa nega as acusações e diz que “não tem conhecimento sobre todos os detalhes das atividades da Rússia”.

Nesta quinta-feira (25), o ministro dos Transportes da França, Clément Beaune, pediu para a companhia “esclarecer” sobre a sua participação “voluntária ou involuntariamente” no conflito, que consistiria em um “desvio das sanções europeias aplicadas contra a Rússia”.

Imprensa francesa cobra transparência

De acordo com o Le Monde, a TotalEnergies seria a única companhia ocidental a manter esse tipo de proximidade com Moscou. A petrolífera se defende, afirmando que respeita as decisões da União Europeia sobre o embargo adotado contra o petróleo russo, mas as restrições ainda não abrangem o gás. O jornal insiste que não pode ter passado despercebido pela TotalEnergies que um dos principais acionistas da Novatek é um próximo do presidente russo, Vladimir Putin, visado por sanções ocidentais. A gigante petrolífera francesa detém 19,4% do capital da Novatek.

Além do envolvimento com essas duas empresas na Sibéria, a TotalEnergies possui participações em dois campos de gás no extremo norte da Rússia: 20% em Yamal e 10% no Arctic LNG 2. Esse investimento é de alta rentabilidade para a companhia francesa, que colhe os dividendos da venda de gás natural liquefeito para a Ásia e a Europa, onde o gás russo continua sendo bem-vindo.

A TotalEnergies investiu € 40 bilhões nesses dois campos de gás. Esta foi uma aposta de seu ex-CEO, Christophe de Margerie, que morreu em um acidente de avião em Moscou, em outubro de 2014.

O grupo alega que manter sua participação no capital de empresas russas ainda é a melhor maneira de garantir a aplicação das sanções internacionais, caso contrário elas cairiam nas mãos de oligarcas ligados ao Kremlin. A razão velada, no entanto, é que Vladimir Putin não é imortal e a TotalEnergies não pretende deixar que seus concorrentes colham os benefícios que acredita ter semeado na Rússia.

Outras empresas francesas ainda presentes na Rússia

A TotalEnergies não é o único grupo francês ainda presente na Rússia. Cerca de 20 grandes empresas francesas, como os hipermercados Auchan, as lojas Leroy Merlin e a rede de salões de cabeleireiro Jacques Dessange permanecem em atividade no país. Paris não exige a saída desses grupos, apenas pede a eles que cumpram as sanções internacionais contra a Rússia, principalmente no setor petrolífero.

Entretanto, os grupos Renault, Sodexo e o banco Société Générale decidiram deixar a Rússia, apesar das pesadas perdas financeiras. A Michelin, que ainda tem mil funcionários no território russo, está se preparando para se retirar do país até o final do ano.

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