Às vésperas da apresentação do plano estratégico para os próximos cinco anos, previsto para sair amanhã, o conselho de administração da Petrobras enfrenta um impasse: entender a estratégia da companhia na transição energética – tema que é uma das bandeiras do governo federal e do CEO Jean Paul Prates.
Segundo fontes ouvidas por Karina Souza, da revista Exame, está na mesa um plano total de US$ 100 bilhões de investimentos, dos quais US$ 80 bilhões serão destinados para a atividade principal de exploração e produção (incluindo iniciativas para reduzir a intensidade de carbono do petróleo extraído pela companhia) e outros US$ 20 bilhões para iniciativas de transição energética. O montante total é superior aos US$ 78 bilhões previstos no plano de 2023-2027.
A principal questão é o retorno dos projetos de transição energética e como eles serão financiados. O conselho de administração vem demandando mais informações da diretoria para entender melhor o retorno dos projetos. “A transição energética vai trazer retorno muito mais incerto e risco muito maior e é preciso entender como ele vai ser financiado”, diz um interlocutor próximo à companhia.
O debate acontece em meio a pressões do governo para aumentar o nível de investimentos, num momento em que a companhia conta com um fluxo de caixa mais apertado, já que não deve contar mais com recursos vindos de desinvestimentos dos últimos anos. Só em 2022, por exemplo, foram R$ 13 bilhões injetados no caixa da empresa por meio desse tipo de operação.
Além de questionamentos dos representantes de minoritários, os próprios conselheiros indicados pelo Ministério de Minas e Energia e pelo PT têm travado embates sobre o tema. O clima esquentou nos últimos dias com a cobrança pública do ministro Alexandre Silveira por maior celeridade da Petrobras no ajuste à queda dos preços internacionais do petróleo e informações sobre uma eventual pressão pela saída de Prates.
Recentemente, a Petrobras fez diversos anúncios sobre potenciais investimentos em energia eólica offshore, onde vê uma vantagem estratégica por conta da sua experiência de exploração em águas profundas. No entanto, o cenário para os próximos anos é de sobreoferta de energia no país – e há dúvidas sobre a necessidade de se investir em produção de energia dos ventos em alto mar quando ainda há bastante potencial em terra.
As eólicas no mar, entretanto, são apenas a ponta do iceberg no quesito de como o conselho está ‘no escuro’ para projetar os próximos cinco anos.
No caminho para entender o direcionamento estratégico da companhia daqui para frente, o board ainda tem dúvidas a respeito do que a Petrobras vai decidir fazer com a participação na Braskem, do que quer com a produção de fertilizantes — a petroleira retomou neste ano a produção na fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados, paralisada desde 2020 e com um histórico de prejuízos — e de como vai lidar com investimentos em hidrogênio verde, por exemplo.
A visão de uma fonte próxima à companhia é de que o conselho é favorável ao investimento em transição energética para os próximos anos. Mas, entre a teoria e a prática, há uma série de receios, por enquanto, pela ausência de uma estruturação coerente do planejamento estratégico.